sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Arrumar As Vidas...Por Zeke Viegas


Arrumar As Vidas

Há anos que ando atrás da Ruth. Sempre tive uma paranóia pelas ruivas.
 Nunca pensei é que podia ter uma colega assim às pintinhas.
Estive quase em transformar-me em sombra  e, como mais do que um enlouquecer apeteceu-me atravessar grossos muros até chegar a sentar-me perto dela! Algo no entanto falhava sempre. Havia um traidor no conclave que conhecia os meus desejos mais secretos! Pois... a Maria e a Mia gozavam ... e avisaram a ruiva do perigo que corria.

É preciso confessar que as coisas comigo sempre se passaram devagarinho..a ruiva nem olhava para mim...Não fumava e odiava o cheiro de tabaco..Cheguei mesmo a pensar desaparecer para sempre e declarar-me à Clara que era marxisma-leninista e estava sempre a chatear toda a gente com panfletos à porta da Faculdade. O meu estilo de trabalho...e elas não sabiam sempre foi...a imersão no escurinho do cinema. Os meus heróis:- Baudelaire, Kafka e Camus eram desconhecidos da grande maioria de janados que assistiam às aulas de Epistemologia da Vida Quotidiana...uma cadeira difícil para o primeiro ano. A ruiva andava preocupada...já tinha passado o primeiro semestre e continuava com dificuldades em entender a transcendência do conceito.
- Queres ir ver comigo ao Apolo 70 "O Último ano em Marienbad"? Eu explico-te depois tudo no intervalo?
-Óiii maluco...tu queres-me explicar oque? Só se for acompanhada...contigo sozinha não vou a lado nenhum!
A ruiva desconfiava que eu sabia utilizar as ferramentas teóricas. E foi assim que eu conheci a Lueji.

Com cuidado, a sua amiga Angolana retirou a blusa. O olhar de desejo que lançou, incendiou a ruiva completamente. Sentir os seus seios serem tocados pela ponta dos dedos para, em seguida, serem tomados por uma boca quente, sem pressa, entorpeceu o traidor.

Longe estava eu em pensar semelhante "promenade" quando decidi entrar na sessão da meia-noite. Depois de distraidamente ter tocado na gazela da savana senti o calor e o cheiro dos cabelos da  ruiva  e oscilei entre uma recusa que envolve sempre um extremo perigo; e uma declaração de satisfação amorosa que podia acabar num fim de  semana a três. Não queria enfrentar quebrantos súbitos, explosões de lágrimas, pressentimentos, fugas inexplicáveis, crises de piedade e essas canseiras de espírito que uma situação dessas podia prever.
Quando o filme terminou...e toda sabe que ver Resnais depois de um bife na Cervejaria Portugalia não é fácil, a Lueji e a ruiva tinham desaparecido e na sala vazia só se encontava uma loura que eu não conhecia nesta estória e que ressonava no meu colo.

Perante tanta confusão, própria das classes de intelectuais, por decisão da sinistra "Comissão das lágrimas" (episódio que é relembrado no último romance do ALA), acabaram por assassinar a Lueji e a ruiva...em Angola choram  o seu desaparecimento repentino...logo agora que os vistos estão facilitados...enfim ninguém pode dizer que está bem. Como a loira que eu conheço é uma mulher inteligente e culta, depois de fumar o seu charuto de Havana, passou as mãos pelos seus cabelos loiros (na altura)...começou a mexer nos seus belos caracóis, coçou o nariz e disse: Eu conheço-te bem meu menino, tem lá cuidadinho com os teus desejos perversos, senão vais de malas feitas numa viagem de ida sem volta pró Norte e ficas vizinho da Clotilde e do Francisquinho.
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Zeke escreveu este com participação de Mia Torres e  Maria Fátima Rodrigues
 

2 comentários:

  1. Fantástico Zeke e Melga !!!
    Nota: A melga é a Mia :-)

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  2. Tocar piano a quatro mãos com duas gatas siamesas só dá para disparatar!:-)

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