quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

La Cucaracha...Por Zeke Viegas


La Cucaracha

Famoso pelas reportagens mexicanas que publicava on-line e pelas mulheres que o amavam "El compañero" deixava o mundo depois de um acidente estúpido em frente da casa de uma amiga depois de um tajine marroquino e várias garrafas de vinho...e a recusa colectiva e formal de todos os presentes para entrar na sua "jangada do amor", o nome que ele dava aquele chaveco que sabe deus quantos anos teria.
 A viúva inconsolável, a bela Frida, tinha abandonado tudo por ele, a família, as propriedades e os amantes para se enfiar num andar velho na Graça e deixar ela sim o seu México de origem. Alinhando sem graça nesse dia as suas tranças negras já grizalhas recebia os pesâmes daqueles que apareceram no Alto de S. João para a última homenagem ao Charlie. E mais afastada encontrava-se em silencio, a rapariga dos óculos escuros e botas alta, a Paulinha. Encostada a um banco, a "Virgem Vermelha", Nossa Senhora dos Guerrilheiros, a loucura de todos los ninõs do tempo da faculdade...fumava com um ar liberal e moscovita uma cigarrilha curta com boquilha...
Ali permaneceu longe de todos a observar o fumo que saía da chaminé do crematório esperando sem demonstrar nenhuma pressa a sua vez de se despedir da mulher de "El Compañero" que amara em silêncio durante tantos anos.
 Tinham feito juntos aquela viagem ao México quando ele se apaixonou loucamente por aquela Frida e decidido permanecer em Guarnavaca. A Paulinha regressara sózinha e deixara de frequentar o "British Bar" onde nos reuniamos todas as sextas-feiras e nunca mais foi vista no "Tokyo" a dançar descalça como era seu costume... nem mesmo nos jardins da faculdade que abandonara sem deixar rasto, sendo que pouca gente sabia o que andava a fazer.
Encontrei-a uma vez com um tipo mais velho, meio careca, que tinha um descapotável e que ela me apresentou como um amigo. Soube depois que tinha estado internada com líquido nos pulmões e a bater mal nas ruas mais frequentadas da capital do Norte. Telefonei-lhe nessa altura para o hospital para lhe desejar as melhoras e vontade de a rever. Ficou contente, parecia quase feliz, perguntou pelo Juan, "O encanto das ilhas", pela malta e que quando saísse com alta da enfermaria iria organizar um festa em sua casa.A partir desse momento começei a vê-la com mais regularidade.
 La "Nina Roja" tornou-se primeiro minha confidente e uma noite de estrelas simplesmente amante.Disse-me que estava farta de dormir sózinha com os gatos e que precisava de um homem para lhe aquecer os pés.
Não sei de onde vem a obrigação moral..nem o sentimento dessa obrigação. Pode-se estimar o amor  e a piedade, sentimentos naturais. Não podemos é relacionar o sentimento de obrigação a nenhuma propensão altruísta, tão primitiva como o egoísmo e o ciúme. Não sabemos todos e reconhecemos no animal...a mãe que se sacrifica pelos seus filhos? Se temos sono não precisamos de ninguém que nos obrige a dormir, nem quando temos fome ninguém que nos obrige a comer...e assim por diante. Não sei qual é o gozo da Paulinha a não ser neste  caso a  Liberdade! Não é por se sentir obrigada a fazer isto ou aquilo que o vai fazer... É por isso que existe neste conto uma completa falta de moral. E por isso vamos terminar assim...
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PS/PSD/CDS: Agradeço a todos aqueles que me apoiaram: À pastelaria Mexicana, À Hot Cat, à Fanny Ardente e à Mia. A Exposição sobre a Frida Kahlo..ainda pode ser vista no CCB e depois...mas antes do jantar... ainda podemos ir beber uma bela Margarita!


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