quarta-feira, 23 de maio de 2012

A Verdade De cada Um

A Verdade De cada Um
A professora entrou na sala e logo foi dizendo.:
 _Quero um exemplo de superação hoje.
Os alunos sabiam bem que quando aquela senhorinha frágil queria, era mesmo o centro das atenções.
Podia estar a maior das algazarras. Ela entrava em sala, e todos prestavam atenção. Claro que o fato dela usar cadeira de rodas era bastante relevante aqui. Porém ela tinha espirito e sabia os manobrar como ninguém. E para ser sincera, não havia quem a detestasse na escola secundária.
Marina era de origem humilde, uma negra que viveu a vida toda na favela.

Marina tinha uns olhos grandes, do tamanho dos seus sonhos... os seus sonhos eram tão gigantes quanto o brilho profundo que lhe saía genuinamente do olhar. Tão grandes quanto o saco de pano sujo que trazia sempre a tiracolo... o portátil ninho da Simone. A Marina adorava a sua Simone, levava-a para todo o lado...
Sissi, como lhe chamava desde que se conheceram, era uma cadelinha mínuscula que apareceu no seu caminho e nunca mais abandonou a Marina. A Sissi era uma companheira para tudo e mais alguma coisa e portava-se como gente, só lhe faltava uma pata... que parecia não lhe fazer falta nenhuma, que não a impedia de ser a sombra da menina que acompanhava.
_De que tipo professora?!Perguntou Janete
Qualquer uma. Afinal superação é superação. Respondeu Marina
Gustavo, o mais calado emenda logo. Pode ser a mulher que com uma receita simples salvou inúmeras vidas no norte e nordeste do país?
Felipe diz:
_Pode ser a pessoa que não tinha nada ,em compensação deu teto casa e comida a dezenas de jovens?
_Pode ser quem vocês quiser. Quero este trabalho em equipe pois por mais que nos esforcemos .Sozinho somos nada. Disse Marina com bom humor.

Ela própria nunca estava sozinha. A Sissi acompanhava-a para todo o lado, como ela dizia, era a cadela da vida dela, nunca a largava e se tivesse de estar três horas à porta da escola à sua espera não arredava pé do mesmo sítio onde ela lhe tinha dito para ficar. Isso só acontecia quando vinha o Inspector à escola, de resto Sissi andava ao seu colo, pois era tão minúscula e sossegada que não incomodava ninguém. O mesmo não acontecia com Simone, a fadinha do portátil, que era rabugenta e incomodava meio mundo com os seus ruídos ensurdecedores. Às vezes a Sissi, quando tinha frio, aninhava-se ao lado da Simone, dentro da mochila do portátil. Devia chamar-se Magalhães, mas ela chamou-lhe Simone, a fadinha que dava alma ao menor computador do mundo e que lhe permitia escrever longas histórias para os alunos meninos que a ouviam maravilhados.
Esta menina senhora, tirada de um conto de fadas, punha os alunos a vibrar com as suas histórias de encantar. Também os fazia estremecerem com as histórias verdadeiras, como a dela, que sempre tinha lutado para poder ser tudo quanto queria. E ela queria pouco, só que a vida não lhe foi dócil e teve realmente de se superar para ser o que hoje é. Começara a trabalhar demasiado cedo, mas nunca deixou de estudar, e aos dezoito anos já estava a entrar para a faculdade, no ano em que se apaixonou por um surfista, um rapaz alourado com coca-cola e sol em demasia.

 Começou a praticar surf e um dia de nuvens esbranquiçadas entrou numa prova com o objectivo de ficar em primeiro lugar, passados uns dez minutos estava a bater com a cabeça num rochedo, depois de vários dias em coma, ficou paralítica. O rapaz desistiu dela, mas ela não desistiu nem de estudar nem de lutar pela defesa dos seus prórpios valores, como sempre tinha feito.

_Alguém já ouviu falar de um escritor poeta e pintor que atende pelo nome de Christy Brown ?
Como ninguém lhe responde ela continua_ Um irlandês de família humilde, era o decimo de vinte dois irmãos. O cara nasceu em 1932 com paralisia cerebral sendo privado dos movimentos do corpo com a única exceção, do pé esquerdo. Tempos de guerra no mundo, imaginem só.
Pois é, ele aprendeu a ler escrever e desenhar com o pé. Tornou-se uma referencia mundial, um gênio.
Sua dependência de álcool encolheu consideravelmente sua vida. Morreu aos 49 anos, era jovem. Um sujeito que superou tanta dificuldade acabou por deixar-se levar pelo vicio.

Há uma frase de Machado de Assis que diz o seguinte:
“O coração do humano é a região do inesperado.”
De minha parte emendo que a mente também é poderosa e qualquer um pode ser ou  fazer o que quiser, desde que tenha um objetivo. Ninguém precisa ser fracassado ao se deparar com obstáculos. Espere, pense, dê a volta. Só tem que insistir naquilo que realmente se quer.
Aquela moça cheia de vida na sua cadeira de rodas era uma heroína nata. E todos ali, não tinham a menor dúvida disso.
Por vezes pensava na vida de antes. Ficava triste também, afinal perder os movimentos foi um golpe.
Perder o Bruno foi uma natural parte do processo das mudanças em sua vida. O namorado se corroía num misto de pena e culpa pelo o acidente. O rompimento foi proposto por Marina, uma saída honrosa para uma situação que já se tornara insustentável. Chorou muito na ocasião.
Teve de reaprender quase tudo no dia a dia. Esforço encarado com bom humor e uma vontade de ferro.
Muitas vezes ela sonhava que voava, sentia o vento nos cabelos, corria pelos campos, acordava pela manhã com a sensação de que ia levantar. Então passou a pensar uma coisa. Seu corpo agora tinha limites, porém sua mente não. Por mais incrível que isso pudesse parecer, ela sentia uma alegria tão imensa. Ela sentia gratidão

Guerreira escreve este com colaboração de Lua De Sol e PaulaJ

sexta-feira, 18 de maio de 2012

A Princesinha Triste...Por CHB

    Era uma vez uma princesa, que morava sozinha, à beira dum bosque, num lugar que chamavam o Campo da Estrela. Era bela como um sol, grácil, alegre. Mas... no bosque moravam também uns poderes ocultos.    Eles ficaram com inveja da sua beleza. Um dia conseguiram lançar-lhe um malefício. E então ela ficou triste, não sabendo por que.
E foi-se-lhe a memória dos seus dias alegres. Até esqueceu tocar a sua viola, que antes encantava os passarinhos do bosque.
 Passava triste as tardes, num remanso do rio vizinho, onde antes fora feliz. Vagamente lembrava que tivera um amor, mas parecia-lhe que acontecera noutra vida.
No rio, fazia esforços por voltar a tocar a sua viola, mas não lhe saíam os sons que ela antes sabia arrancar às cordas. Chorou.
Então... pareceu-lhe ouvir um barulhinho, numa poça do remanso. Assustou-se. Ia levantar-se quando voltou a ouvir algo... era como um cró, cró...
Sorriu: era um sapinho, que parou de saltitar e olhou para ela, e ela para ele. Os dous, de repente iluminados pelo sol, ficaram por um instante como suspensos na calma do rio.
Então o sapo falou: princesa! Ela assustou-se outra vez, e afastou-se. Mas ele voltou a falar: não tenhas medo, princesa, não me é permitido fazer mal.
 Como sabes que sou princesa? Eu sei muitas cousas, disse o sapo, com um ar misterioso mas que a ela lhe pareceu cómico. E ela sorriu, revelando uns dentinhos brancos.

 O sapo disse: és bela, princesa! Ela voltou a sorrir. Disse ele: por que não tocas viola? Ela voltou a entristecer-se: não posso, estou triste. Mas por que? Porque me lançaram um malefício os poderes do bosque. O sapo ficou calado. Ao cabo dum tempo disse: eu sei... Então ela ficou intrigada.

 Sabes? Sim, sei: são os mesmos poderes que me fizeram a mim velho e feio. Ela olhou para ele, de repente séria: tu não és feio. Tu és bonito! O sapo ficou quietinho um bocado. Não te dou nojo? Ela riu então abertamente: não, vem aqui. E colheu-no nas suas mãozinhas divinas.         Ele fez-se então como que num burulho, todo aconchegadinho no oco das suas mãos. Estiveram assim um bocado, a olhar um para o outro. Disse ele: sei como te chamas. Sabes?, perguntou ela. Sim, mas não me é permitido dizê-lo... só a inicial.     Qual é?, disse ela. I!, disse ele. Ela sorriu, e ao sapo parecia-lhe que saía o sol outra vez.
 Estás seguro? Olha que i pode ser um som qualquer! Não! disse ele firme: é a letra mais bonita! e sei mais: remata em... mas estacou. Ela ficou intrigada. Em que?
 Bela! soltou ele, e calou, como envergonhado. Ela riu abertamente. Como gosto do teu riso!, disse ele. E tu como te chamas? perguntou ela curiosa. Ele encolheu-se outra vez, nas mãos dela. Não me é permitido... só o inicial... C!
 Sê? disse ela? Sê de ser? Se tu queres, disse ele... E aí ficaram ambos calados um bom bocado. Nas suas cabeças bailavam os significados das palavras: ser, querer...

  Se tu queres, eu sou! disse o sapo, encorajado. Quero! disse ela, com firmeza. O sapo saltou da sua mão, ficou diante dela: princesa, disse, eu também sou um príncipe... Ela ficou extasiada. Sim, continuou ele: como a ti, os poderes maléficos invejaram-me a juventude, e a beleza, e transformaram-me em sapo!
 Ela não pôde evitar um riso. Dou-te nojo? repetiu o sapo. Ela virou séria: quero-te, sapinho!
  Ele calou, a baixou-se um pouquinho, afinal disse: eu amo-te, princesa! Ela virou séria outra vez, nem triste nem alegre, mas séria.
  Como poderia eu te ajudar? perguntou ela. Não podes, respondeu ele. Só posso eu te ajudar, mas há uma condição. Qual é? quis saber ela. Ele ficou calado outra vez, também sério, também nem triste nem alegre: aginha vais saber.
  Passaram mais uns momentos, uns momentos que pareciam eternos; corria uma brisinha, o sol parecia quieto, mas mudou percetivelmente a inclinação dos seus raios.
  Ela, num impulso, acariciou o sapo; ele estremeceu-se, depois ambos voltaram ao silêncio, voltou a calma. 
 Ela olhou então arredor, demoradamente: o rio, as árvores, o céu: tudo parecia transformado. E... seria possível? Sentiu algo, algo como felicidade, seria possível?
  Imediatamente, com um pressentimento, virou para o sapo... e encheram-se-lhe os olhos de bágoas... mas bágoas de felicidade: compreendeu então. O sapinho já não estava lá! A sua forma desaparecera. Não ficava... nada! Ela chorou então: soube assim que o sapinho a amava, e que fez o sacrifício supremo: a sua vida em troco da felicidade dela...
  Pegou na viola, ainda lhe arrancou uns acordes, e continuou a chorar todo o caminho de volta, mas agora chorava de felicidade, ela por fim sabia! E os poderes do bosque sumiram para sempre, no Nada!
       A princesinha voltou, à sua casinha do bosque, enxugando ainda as bágoas; agora estava feliz, porque sumiram aqueles poderes do bosque que antes a tiveram encantada; mas também estava triste, porque desaparecera aquele sapinho engraçado que aparecera na sua vida; agora vinha-lhe, aos poucos, a memória: é que fora libertada do malefício pelo sacrifício do sapinho! E ainda lembrava, ou parecia-lhe ouvir? uma voz, aquela voz que lhe dizia: princesa! com firmeza, e com toda a sonoridade das belas sílabas: amo-te, princesa!
     Ela tocava agora a sua viola; lembrava velhas músicas, de beleza cativante; e também ensaiava agora as que ela compunha, saídas do seu coração; e que ressoavam suavemente no seu quarto; mas também, passeninhamente, voltava a lembrar os velhos poderes maléficos, agora idos da sua vida, para sempre, mas que deixaram na sua bela alma uma nódoa de tristeza, da que não se conseguia libertar: e então odiava-os, e no seu seio divino sentia erguer-se outra vez o velho ódio aos três velhos poderes, como se eles ainda estivessem ali com ela, violando a intimidade do seu quarto.
     Mas por onde poderiam ter entrado, pensou ela, se eu fechei tudo? Foi comprovar: com efeito, tudo estava fechado, bem se assegurara ela de trancar a porta por dentro. Ali não podia entrar ninguém. E ainda fez força, para se certificar...
     Mas então reparou que, tão bem se fechara por dentro, que agora não podia abrir, ainda que quisesse. Forcejou, mas não pôde abrir. Por um bocado, preocupou-se; mas, depois, pensou: tenho aqui tudo o que preciso: a minha viola, os meus vestidos... comida não preciso: sou princesa! e mais nada...
     Acabou por adormecer. Mas nos sonhos voltavam os maléficos, parecia-lhe invadirem a sua alcova de bela adormecida: acordou sufocada, deu um grito: no escuro parecia ver um bode medonho...
      Esfregou os olhos; então viu que, com efeito, ela estava só. Mas... não estava só. Soluçando, quis abrir a porta: e não pôde; quis fugir pela janela: mas era alta demais: temeu cair, mancar o seu corpo grácil, ficar atirada no bosque escuro, à mercê das feras que puderem rondar... Chorou.
      Então pareceu-lhe ouvir, ou lembrou? uma voz ténue, que lhe dizia: só eu te posso ajudar, princesa... Sapinho! exclamou ela; não via o sapinho, mas ele estava ali: estava dentro dela, no seu coração!
      E voltou a falar ele: princesa: ama! O ódio levar-te-á onde não queres ir!
      Passou o tempo. Ela deixou de chorar. Mas ainda lhe vinham uns soluços, cada vez mais apagados. Quero-te, sapinho! disse então em voz alta.
       Eu sei, princesa, conheço o teu coração: tu és incapaz de odiar: só ama! Eu amo, sapinho, disse ela, mas como amar? onde estás tu? Estou em ti, sou o teu amor, que luta por se libertar das trevas do teu passado. Mas como é que não te posso tocar? Não podes, princesa, esse foi o preço que eu paguei; mas eu sim te posso tocar: sente, princesa, o meu amor, no teu coração: ali estará sempre, aninhado, dando-te vida; esquece malefícios, esquece escuros: nada poderão contra o poder deslumbrante do amor: do teu amor...
    A princesa deixou de soluçar. Foi-se à janela. Abriu. Entrou o ar da manhã. Viu o amanhecer. Ouviu os primeiros passarinhos, a cantar. Depois correu à porta: num empurrão, conseguiu franqueá-la: estava livre! riu de alegria; obrigada, sapinho, disse sem saber bem a quem se dirigia.
   Que queres de mim, sapinho? O teu bem, princesa. Sapinho: eu queria que estivesses comigo sempre, disse ela. Sempre estarei, princesa, disse ele. Estarei no teu coração, para que nunca mais entre nele o ódio, para que só sejas capaz de amar. Amar, sapinho, mas... a quem? Não terias ciúmes?
   Por muito tempo, o sapinho nada disse. Depois, com voz trémula, sussurrou: assim tem de ser, princesa; e calou. E ainda disse ela: então não queres nada mais de mim?
     Outra vez calou o sapinho. Depois disse: quero! a tua felicidade... saber-te feliz é o que eu mais quero... E apagou-se-lhe a voz. Então ela, dentro do seu peito, sentiu um salto... ela sabia! Não te deixarei nunca, disse ainda o sapinho. Obrigada, sapinho, disse ela para si...
    A princesa sabia agora que podia amar, só amar, e que nunca mais seria capaz de odiar. E deixou aberta a janela...

Ps.Ilustrações de António Bártolo(artista plástico)
  

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Memorial Dos Esquecidos...Por Hilda Milk

Betinho andava sempre tropeçando pelas calçadas. Quando não era bêbado era drogado, e não ligava para nada...Todos o conheciam, pois morava na mesma rua havia mais de trinta anos.
Pois é hoje o Betinho caiu no meio do quintal de sua casa e morreu ali mesmo, o coitado...A  ambulância chegou e logo foi embora dizendo que o IML(instituto médico legal) viria mais tarde, buscar o corpo. Este fato aconteceu as cinco horas da tarde e o Betinho ficou estendido ali, até pelo menos as duas horas da madrugada.
Fiquei sabendo de seu falecimento quase que na "hora" mesmo.
O dia seguinte nos encarregamos de narrar tudo que podiamos lembrar da vivência de Betinho e cada um relembrava o fato corriqueiro ou engraçado compartilhado com amigos e vizinhos... Sabia-se instintivamente que esse era o dia de Betinho, como se fora uma última homenagem
A filha e o filho estavam chorosos mas Elvira, a esposa, não. Se alguém de fora achava aquilo estranho, não dizia nada. Elvira era mulher madura, com seus quarenta e poucos ainda conservava alguma beleza da juventude.Tinha qualquer coisa no olhar, parecia vazia e não triste, só vazia.
Quantas vezes ela tentou abandonar esse homem...Uma vez ela voltou por que ele ficou em coma internado por muito tempo, tinha tomado uma surra do irmão de uma amante. Noutra ocasião, ela teve de voltar por não conseguir dar conta do aluguel dos comodos que vivia, e do sustento dos meninos ainda pequenos.
Se já era difícil aguentar o marido bêbado, imagine aturar também a sogra, que vivia no mesmo quintal e era também uma alcoólica em tempo integral!
A morte é mesmo inevitável, viva bem ou viva mal, um dia voce morre e nem adianta fugir, se esconder ou precipitar as coisas.
Há pessoas que chegam até a dizer de que jeito querem morrer: _Eu quero morrer dormindo. _Gostaria de morrer sem dor.
_Quero morrer de surpresa. Adianto que os muitos que sofrem, não é por pedirem para morrer sofrendo.
Lembro-me de quando criança tínhamos medo dos velhos...Alias do que me lembro, parecíamos ter medo de tudo e todos nós crianças, não queríamos ser velhos nunca!
Mas voltando ao falecido Betinho...A sua filha, que está grávida, passou mal e teve de ser atendida as pressas no hospital.
A mãe dele, que está internada num abrigo de idosos agora, e milagrosamente estava sóbria neste dia.
A única irmã do morto, triste e infeliz também tentava parecer calma e administrar a situação toda. Desde que levara a mãe para morar com ela nunca mais soube o que era sorrir
Elvira que não aguentou mais a sogra, praticamente obrigou a irmã do marido fazer alguma coisa a respeito.A velha senhora ficou uns seis meses morando com a filha e finalmente  foi parar no abrigo de idosos.Contam que uma noite ela surrupiara uma garrafa de wisque e bebeu toda de uma vez e foi para o jardim gritar para quem quisesse ouvir que a filha, uma senhora respeitável, havia sido "puta" quando era solteira. É claro que omitira um pequeno detalhe, ela mesmo aliciara a filha para a prostituição.Tal revelação causou uma grande comoção, abalando a família, de fato que agora, a filha só vai ao abrigo para pagar a estadia da senhora.
Era um dia frio e cinzento esse, e o corpo do Betinho só foi liberado pelo IML as quatorze horas do dia seguinte.
Todos estavam agora muito silenciosos e contidos, cumprindo sua obrigação. Enterraram o Betinho e foram todos para as suas casas quase correndo enquanto o mundo desabava em chuva.
Mais um  que vai condenado, para o memorial dos esquecidos.