segunda-feira, 26 de setembro de 2011

O Cigarro ...Por Augusto Abade




O Cigarro



Já tinham decorrido três longos minutos desde que o cigarro tinha sido aceso.
O fumo enchia a pequena sala e ocultava o homem por detrás do cigarro.
Um círculo de luz debruçado sobre uma folha de papel meia escrita centrava o olhar de quem entrasse na pequena sala.
Mas ninguém entrava nem entraria. A sala não tinha portas. Nem janelas.
Como poderia alguém entrar e reparar no fumo, no homem, no círculo de luz, na folha de papel meia escrita, no cigarro, se ninguém poderia entrar na sala?


Acaso isso seria ilusão ou um daqueles filmes do senhor Hitchcock? 
Pode bem haver uma janela com um luminoso a piscar...
Talvez uma porta ,num canto qualquer da sala,que se materializava no instante que alguem batesse.
_Senhor Columbo, por favor .Preciso de ajuda. Diria uma voz de mulher .
E como se esperasse por isso ,o homem calmamente avisa que entre.
A dama de vermelho avança  em  sua direção.

- Dama... - pronunciou Columbo em tom desiludido - Fizeste o mais difícil e erraste onde não deverias.
- Que conversa é essa, Sr Columbo? - Indagou a mulher enquanto limpava o intenso fumo com gestos rápidos e urgentes.  Erro?
- Dama... - Continuou o homem, calmamente, após ter puxado por mais outra dose do seu peculiar cigarro - Tu fizeste o que nunca, até agora, ninguém fez. Sim, descobriste a senha mágica para entrar neste espaço único.
Ela inquietou-se pela demora na resposta que queria ouviu. Ajeitou, nervosamente, o vestido vermelho, aquele que combinava na perfeição a descrição e a provocação, e insistiu:
- Mas de que erro falas?
- Olha para esta folha de papel, lê o que está escrito (mas não demores muito) e saberás...

Teve de se aproximar mais um pouco, em direcção ao círculo de luz que pairava sobre a folha de papel e, abrindo a elegante carteira que trazia a tiracolo, retirou os óculos, para melhor poder ler a referida mensagem... 

Depois de a ler, ergueu os olhos humedecidos e, sem pronunciar uma única palavra, abriu a janela do imaginário de par em par, fitou o irreal horizonte e, fechando os olhos, respirou profundamente.

Já tinham decorrido seis longos minutos desde que tinha sido aceso. O fumo enchia a pequena sala e ocultava o homem por detrás de mim. Pairando sob um círculo de luz, uma folha de papel dizia: “Apenas eu sou real”.

                                        ******   FIM   ********

Abade escreveu este com  participação de  Hilda, Betina e Bia.

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