domingo, 23 de outubro de 2011

Filhos De Ninguém...Por Xue


Filhos De Ninguém

E a pobreza enquanto se apresenta como "falta" tem qualquer coisa de cruel. Lembro de um caso que li certa vez,  de um rapaz que tinha sido miserável  durante toda a sua infância.
Ele chorava muito, não conhecera seus pais, só lembrava de um velho a quem chamava de avô, por vezes pensava que devia ter feito alguma coisa para merecer aquilo, mas o quê? Ele apanhava dos arruaceiros, se escondia dos drogados, tinha medo da policia. Fazia pequenos serviços por uma refeição, e quando dava jeito ia até algum restaurante onde o dono lhe pedia para tirar o lixo em troca de comida.
Um dia ele foi adotado por uma bondosa senhora. Ela deu-lhe um teto ,roupas, estudo, e afeto. Agora não faltava mais comida.
-Que pena o vô ter morrido - dizia para si.
Devagar, a boa senhora foi  lhe ensinando o significado da palavra dignidade. E Assim o moço foi crescendo, e por vezes ainda conseguia ensaiar um singelo sorriso.
Quando chegou na idade, o garoto agora homem feito, foi prestar o serviço militar, era obrigatório. Levado pra guerra, ele não viveu sequer um mês. Quando a senhora recebeu seus pertences, entre suas coisas tinha uma pequena carta dirigida a ela.
-Querida mãe, porque me ensinaste tantas coisas boas? Não consigo matar. Se eu não voltar quero que saiba, o tempo que passei com você foi o melhor de tudo. Obrigado.
Dona Almerinda chorou como jamais havia chorado em toda a sua vida. Ficou sem comer, sem dormir, por algum tempo. Fez tratamento psicológico, os amigos faziam o que podiam para tentar ajudá-la  a superar a dor daquela perda tão sofrida.
Ela era idosa já, e seu estado emocional a deixava fraca, suscetivel a doenças. Um dia aconteceu um fato que mudou completamente  o curso de sua vida. Alguém bate a porta e, mal se aguentando em pé,  Dona Almerinda foi abrir,  achando ser a faxineira. Quem está à porta é uma menina miúda, de roupas rotas e olhos arregalados.
-Tem alguma coisa para eu fazer senhora? Preciso comer, por favor.
O que a senhora vislumbrava ali era o retrato da fome.
Sem qualquer gesto brusco  ela abre a porta lentamente  e dá passagem para a garota. Já dentro de casa, esta prepara e coloca um enorme sanduiche e um copo de leite  em frente a pequena faminta.Em silêncio, ela se dirige para o quarto. Quando acorda, muito tempo depois, sua amiga está lhe trazendo o jantar. E esta lhe pergunta da garota:
-Ela veio pedir o que comer.Eu dei.Como sabes dela?
-Como sei?! Ela lavou a louça, limpou a cozinha, varreu o quintal e quando cheguei ela estava aflita por voce ter dormido o dia todo.
Dona Almerinda ficou pensando. Aquela garota de rua podia ter ido embora depois de comer,não foi. Podia ter-lhe carregado a casa inteira se assim o desejasse. No entanto ficou ali perto dela, que parecia doente demais. Que poderia ela fazer por mim? Nada. Porém. achou-se na obrigação de agradecer a comida.
Enquanto esperava, foi lavando os pratos da pia. Quando acabou foi espiar a ver se a senhora respirava. Achou uma vassoura atrás da porta e seguiu varrendo. Dona Almerinda nunca mandou a menina embora, e a menina nunca se foi. As amigas ficaram de "olho", apreensivas pela amiga, uma vez que tão frágil, esta poderia ser alvo de má fé da garota de rua.
O inusitado é que a senhorinha teve uma melhora de saúde surpreendente. Ambas tinham afeição uma pela outra. A garota, Janaina era o seu nome, falava pouco, e levou muito tempo para contar sua história. Almerinda entendia e respeitava.
Porém, um dado novo traz mudanças de  novo em suas vidas.Uma noite, ouvindo as noticias enquanto a menina estava em seu quarto, Janaina entra na sala para pegar um livro e vê na televisão a foto de um deliquente e começa a gritar.
A velha senhora sem entender, pensando que ela estava com dores, corre a acudir.
-Que foi meu bem? Sente-se mal?
-Não deixe ele me achar, por favor
-Calma, calma, está tudo bem. Niguém vai te fazer mal.
Depois  de acalentada. a menina começa sua narrativa
-Eu morei com aquele homem que apareceu na televisão.
Ele me usava de mulher dele e me dava para seus amigos fazerem o mesmo. Fugi várias vezes, mas ele me achava sempre. Dizia que se eu fugisse novamente me mataria desta vez. Me fazia dizer a todos que era meu pai, mas imagino que não era mesmo. As familias se cuidam e ele  só ganhava dinheiro comigo. Não queria lhe dizer nada disso, me desculpe. É tudo tao feio que a senhora vai sentir nojo de mim agora. Eu fui encontrada no lixo quando criança e uma irmã dele me levou pra casa numa noite chuvosa.
Dona Almerinda mal conseguia conter-se de emoção.
-E a tal irmã dele, onde está?
-Ela morreu  por causa de droga, faz muito tempo
Se ele me descobrir aqui, terei de voltar pra casa, pois é capaz de ameaçar sua vida também.
-Ai  minha filha querida! Vai longe o tempo que eu sentia medo - disse a senhora sorrindo de leve - Bem... acho que chega de emoções por hoje. Vamos dormir agora, amnhã é outro dia. Vamos resolver isso tudo, prometo.
O homem a quem a menina se referia estava preso agora, ela não sabia. Era por isso que seu rosto estava estampado em rede nacional. No dia seguinte Dona  Almerinda resolveu adotar a menina.
Hoje em dia ela já é falecida, porém deixou Janaina crescida e médica formada.
Dizem suas amigas que antes de fechar seus olhos ela disse à filha adotiva:
-Quero-te dizer o quanto sou grata por ter vocâ em minha vida. Acho mesmo que tive muita sorte. Vivi duas vidas. E foi por causa de você que eu ressuscitei.
Janaina, emocionada, dizia:
-Eu também tive sorte e duas vidas.
As amigas estavam todas lá, juntas. E de fato nunca tinham visto uma pessoa morrer feliz.
Janaina não estava mais sozinha agora. Seu filho nasceria logo, as amigas de Dona Almerinda esperavam sinceramente que ela e o marido fossem muito felizes.
 Era tão bom se todos os filhos de ninguém encontrassem alguém!
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segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Filmagem ... Por Augusto Abade

Filmagem


Acordei ao lado de um pequeno adereço de plástico que diz que me chamo Alberto Mouro Barreto e nasci em Benafim. Se está num adereço de plástico deve ser verdade. Não recordo muitas coisas mas certas palavras batem-me na cabeça como neurônios necessitados. Não me perguntem o que são neurónios e do que eles necessitam porque não sei. Palavras. Lista. Lista, outra palavra (mas o que é uma palavra?) que vejo na minha cabeça.  Lista: ondas, cutileiro, título, pescadores, restaurante, monarquia, vale, travesseiro, biblioteca, cama, hoje, livro de costados, ali. Imagens feitas palavras ocupam o meu corpo e só sei que me chamo Alberto Mouro Barreto e nasci em Benafim porque um adereço de plástico me diz isso.
Tenho fome. Apetece-me um bife daqueles bem tenrrinho, mal passados, com batatas fritas, arroz branco e esparregado e, claro, um ovo estrelado. É isso! Já me cresce água na boca. Vou ter com a Laura e vamos jantar fora.
- Laura!...
Ah? Que se passa?
- Laura!...
Não me ouço!
Laura!...
Mexer os lábios como quem fala, mexi, pois toquei-os com os dedos, mas não ouvi nada!
Só me faltava mais esta... Como se não bastassem as confusões do acordar!...
Só sei que me chamo Alberto Mouro Barreto, tenho fome por ter agua na boca, chamo Laura, mas não me ouço. Será que ainda estou dormindo?
Não. Estou debaixo de um viaduto, deitado num colchão sebento, mas não estou a dormir, sinto a brisa, o odor acre de urina, o corpo empastado. Parece que estou a acordar de um pesadelo. De onde vim? Como vim aqui parar? Quem sou eu? Como sei que estas são questões filosóficas? Tento mover-me, o corpo não me obedece, se calhar já estou muito velho para poder dar ordens ao meu corpo, Só de pensar na velhice fico de repente imensamente triste, vem-me à cabeça a face enrugada do meu avô. Sim, tenho a certeza que é ele que me continua a segredar aos ouvidos palavras estranhas, como quando me dava a mão e íamos pela rua em silêncio, quando se baixava para mim e dizia: hermenêutica, epistemologia, gnoseologia, axiologia, são disciplinas filosóficas, qualquer dia explico-te o que estuda cada uma delas.
Não. Um pedaço de plástico pousado ao meu lado diz-me quem sou. Eu sei quem sou: Alberto Mouro Barreto e nasci em Benafim. Laura! Quero o meu avô! Avô nunca me chegaste a explicar essas coisas confusas que vejo sob a forma de árvores na minha cabeça.
Laura, és tu que estás ao meu lado? Onde é Benafim?
Estava a ser filmado, Reparei num homem com uma grande máquina de filmar, atrás dele um outro com um micro do tamanho de uma cauda de cavalo, os dois voltados para mim! Será que estou morto e aqui o que fazem aos recém-chegados é uma entrevista, para saberem se havemos de ir para o céu, inferno ou purgatório?

- CORTA! Ouviu-se a voz do realizador - Ficou óptimo.
Amanhã, às nove todos aqui para a nona cena.

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Este Abade fez em partilha com Betina,Paula e Hilda.:)

Morri No Outono...Por Paula Justiça


Morri No Outono
Não me lembro do dia nem mês, mas sei que estavamos no Outono. Mataram-me e é isso que vos venho aqui contar. Não é que tenha sido uma morte espectacular, mas vale a pena ser contada, pois não há muitas mortes como a minha. Estava um calor nada normal para a época do ano, por isso lembro-me que estava vestida com uns calções desbotados e uma blusa bastante colorida, largueirona e sem mangas.
Como todos os grandes assassinos, K. teve a pobreza como má conselheira. Os rendimentos não eram elevados, mas as despesas eram tiranas e as dívidas tiranos dobrados. Um homem que não ganha o suficiente para deixar dinheiro de lado tem qualquer coisa de repugnante, como aqueles filantropos, que gastam a fortuna a socorrer os outros, sem cuidar dos seus herdeiros. Joaninha dos olhos verdes, sua amiga, já me tinha dito: este homem não é mau, é simplesmente infeliz. E a mim me disse uma vez, face to face, eram já umas duas da manhã: Serás tu mau, meu amigo?    
- Não! respondeu-me sem grandes hesitações...Não sou mau, sou pobre!
Bem... Morrer no outono não é de todo mau também, uma vez que temos mesmo que morrer. O dificil realmente é alguém ter a pachorra de matar-me. Que diabo eu fiz para merecer isso? Está bem, não sou nenhuma santa porém, tem gente bem pior que eu por ai, que morre  de velhice. Quisera eu ter chegado aos sessenta anos, teria tido mais tempo para aproveitar a minha aposentadoria, caramba! Só trabalhei a vida toda! E aqueles calções desbotados! Bem podia o assassino ter me avisado antes: -Vai  arrumar-te melhor um pouco, porque hoje tu vais morrer com estilo.Então eu me vi  morta diante de um médico de olhos lindos mas, vestida daquele jeito desmanzelado, não, ninguém merece mesmo isto.
É claro que é uma palermice deduzir que os pobres são semelhantes aos maus, felizmente quando agem incorretamente não é pelas mesmas razões e consigo muito bem vislumbrar que os motivos que podem levar uma pessoa má a matar não são os mesmos que conduzem um pobre a um ato indecoroso. Matar alguém custa muito, principalmente quando não estamos habituados a isso. K. estragou a vida dele com a minha morte, não lhe perdoo e vou assombrá-lo até ao fim dos meus dias! Só quando a minha alma desaparecer da face da terra o libertarei, mas não sei dizer o tempo que isso vai demorar, porque segundo me disseram terei de andar aqui até que me libertar de todos os ódios e raivas. Será verdade?
Se era para me roubar os Euros, foi desnecessária a minha execução, pois eu teria-lhe dado o que tinha . É verdade que ia ficar com muita raiva depois, mas raiva é uma coisa que dá e passa. Que o "filho da mãe", me perdoem o palavreado, me deixasse nua e eu ia continuar vivendo com este episódio, ia ter até quem achasse graça no acontecido. Nãããão...O bobão tinha que me exterminar! Muitas vezes lhe roguei a praga, mesmo antes de ele o fazer, de que um negro anão e gigante o acabaria por sodomizar, mas isso foi nos tempos em que não me largava, porque queria casar comigo, ou pelo menos era o que ele me fazia acreditar com os seus poemas melados e com os discursos que intercalava nas serenatas às cinco da manhã!
Primeiro assediou-me. Deixei-me ir porque estava num daqueles dias em que o ego anda mesmo a arrastar-se pelo chão. Disse-me pela centéima vez que se sentia atraido por mulheres como eu, mais velhas e com um ar desengonçado. Não sei o que me deu para acreditar em tantas falácias seguidas! O certo é que acabei por o deixar entrar no meu mundo, que era a minha casa. Plantas por todo o lado, livros a cobrirem as estantes e o chão, pó a tapar as janelas da luz teimosa do sol. A louça da Vista Alegre a colorir a vitrina do armário da sala! Logo que a viu começou a perguntar o que sabia eu sobre a origem de cada peça e sobre o seu preço. Mas eu sabia muito pouco deste assunto, a louça tinha me sido dada pela minha mãe, nunca lhe achei piada, mas guardei-a da mesma forma que ela o faria. Da Vista Alegre só me lembro do museu e das noites de festa, quando as moscas pousavam na comida, mas adoro a minha mãe!
A verdade é que eu estava com vontade de ouvir aquilo tudo.De sentir alguém interessado no  que digo e no que sou. Há que tempos que ninguém me fazia sentir especial! Não importava se aquilo era falso ou verdadeiro, o facto é que naquele momento me senti aquecida. Posso até culpar o miserável por me matar, mas eu também contribui significativamente para isso, pois deixei-o chegar demasiado próximo, depois de andar uma vida inteira a mandá-lo bugiar. Imagino agora o discurso com que se poderia defender:
- Verdade verdadeira é que nunca matei ninguém virtualmente... nem mesmo por amor! Foi só por interesse! Sou um avatar pobre e mau. È verdade que nem todos os pobres são maus...mas eu nasci na Rua da Rosa em Lisboa, num sotão imundo, no mesmo dia do Camilo Broca. Uma triangulação astral lixada! Matei porque queria ficar com  o serviço da Vista Alegre  da mãezinha dela, que era do tempo da Carlota Joaquina! Não sou doido... sei perfeitamente o valor de cada peça! Uma parte dos nossos males provém de haver demasiados homens excessivamente ricos ou desesperadamente pobres. Por felicidade, no nosso tempo, tende-se a estabelecer um equilíbrio entre os dois extremos. O crime, tal como o casamento que ela  sempre me negou, talvez por pressentir o meu lado errado da noite, são um meio como outro qualquer para criar valor e atingir os nossos objectivos! Hoje posso viver tranquilamente no México, onde sou famoso como pintor.
- Sim, assumo, apelidaram-me de Di Cavalcante, devido às minhas múltiplas facetas, porque adorava pintar a sensualidade das mulheres, em especial das mestiças. Apaixonei-me loucamente por uma mestiça e tornei-me um boémio, que amava a vida acima de qualquer coisa.... enfim... até que chegou o Outono, apanhei a febre das carraças, adoeci, nunca mais a vi! Provavelmente receava que lhe passasse o febrão, de modo que se pôs a andar antes que eu a deslumbrasse com os meus conhecimentos do Kama Sutra, que acabara de estudar num curso de verão em Amarante, dado por uma excêntrica que lia poemas a meio da noite na torre da igreja, tal como eu lhe costumava fazer, sentado na escadaria do outro lado da rua.
Viver não é fácil, mas morrer ainda mais dificil é. Estrangulou-me! Ainda me lembrei da Higiene do Assassino enquanto ele me estava a apertar o pescoço, uma peça de teatro que fui ver em Aveiro, mas no minuto seguinte estava morta! Agora, que já passou mais de um ano, ele conseguiu recompor a vida e está no México, segue os passos da Frida e tornou-se um pintor de renome. A mim esqueceram-me, talvez seja referida na Biografia dele, quando descobrirem que foi ele o assassino, ainda por cima por causa da louça da Vista Alegre! A  minha vingança é assombrá-lo, dar-lhe cabo da vida aos poucos, arranjar forma de darem com as evidências que possam provar quem foi o culpado. É certo que sempre recusei ir para a cama com ele, namoriscar e casar-me, mas mesmo que não tivesse sido por isso e tudo se tivesse resumido à louça da Vista Alegre, não me parece uma razão válida e suficiente para me ter morto, ainda por cima num Outono como já não havia há setenta anos, um Outono quase Verão!
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Este foi iniciado por Paula e continuado por Fátima, Hilda e Zeke.:)

A Caixa De Chocolates...Por Paula justiça


A Caixa De Chocolates

Comi-os todos, não sobrou nem um! Primeiro comi os que estavam embrulhados em prata vemelha, depois os da prata verde, a seguir os da
amarela, mas não consegui parar e depois foram todos os outros! Faço sempre isto quando me oferecem chocolates, o estranho desta vez é
 que quando voltei a olhar para a caixa ela estava cheia. Então no dia seguinte repeti a dose. Ela voltou-se a encher dutante a noite. Depois de
 uma semana comecei a sentir-me realmente mal fisicamente, apesar de andar muito mais alegre do que o costume. A minha cara estava cheia de pontos negros, parecia novamente uma adolescente com acne, com seborreia na pele, com caspa no cabelo. É claro que não foram só os chocolates, foi toda a minha vida que mudou no espaço de uma semana. Estou arrasada!
- Ela mudou toda a minha vida. Solitário no meio dos meus irmãos de roupa vermelha, de roupa verde, de roupa amarela, eu, com a minha
roupa cinzenta nunca era escolhido. Depois chegou ela e comeu-me. Isso mudou tudo. Sendo solitário, sempre fui pacífico, nunca me identifiquei
com os serial killers das séries americanas, em que uma criança solitária se transforma necessariamente em assassino. Mas desta vez aconteceu. Ela mudou toda a minha vida ao comer-me. Matei os meus irmãos, reproduzi-me e continuei a ser comido por ela.
Ouvi o chocolate a lamentar-se e pensei, como sempre, que estava a ter alucinações, mas não me importei, estou habituada a sensações estranhas, que os outros não podem entender, nem sequer o meu filho! Sempre que o posso observar sem ele notar fico estarrecida com a sua delicadeza, com os seus gestos suaves, com o cuidado que tem em não estragar nada. Como pode ele ser o oposto de mim? Tenho pena que me tenha de aturar, que não se posso livrar de uma mãe que não o pode fazer feliz. Já repeti muitas vezes isto ao trinca-espinhas, mas depois da caixa de chocolates se ter excedido ele resolveu ir dar um giro, estava farto de me aturar!
Poucos minutos depois reapareceu, trazendo uma caixa de gomas com as cores do arco iris... sim, eram gomas de mascar, diferentes das americanas, a que eu estava habituada. Uma vez que elas são docinhas e simplesmente mascadas...vão-me ajudar a trazer sentido à vida. Adoro comer guloseimas diferentes! Espero que meu fígado aguente, pois vou comê-las até me fartar!
Isto era o que eu estava a pensar enquanto comia as primeiras gomas, mas ainda não me tinha apercebido que também com elas aconteceria o mesmo, que se iam reproduzir como os chocolates e que não ia parar de comer chocolates e gomas até ficar doente. Foi o que aocnteceu, gradulamente. Por isso é que uma manhã vi o trinca espinhas a fazer a mala para ir embora. Com uma espinha na boca, como sempre!
Não tive pena, estava farta do cheiro a peixe! Os chocolates e as gomas fizeram-me esquecer de mim. Fiquei feia, com a pele brilhante e exageramente gorda, demasiado de repente! Que homem poderia querer estar com uma mulher assim? Mas para que queria eu um homem, tendo gomas e chocolates sempre à disposição? Para que queria eu alguém para me fazer esquecer de mim, se isso podia acontecer de cada vez que mastigasse?
O que eu mais gostava nele era a companhia e acabara de perder um grande amigo, só de pensar nisso mais vontade me dava de comer! Também me agradava que fosse tão esquelético, porque detesto homens com mamas, só de os ver fico arrepiada, imagino as carnes caídas e perco logo todo o apetite! Só não me consigo recordar como nem quando resolvi substituir os homens pela comida, mais propriamente pelos chocolates e pelas gomas, que se tornaram a única forma de me acalmar. É bem verdade que um homem pode ser muito gostoso quando bem degustado, e vá lá, também não engorda e faz milagres à pele. Deve haver um jeito de escaparmos dos vicios! Enquanto penso nisso, vou enchendo meu pancreas destas porcarias deliciosas.
Passado uns dias soube que o  trinca-espinhas tinha emigrado  para o Brasil. Não demorou nem um mês e já tinha casa, telefone fixo e internet. Tinha saudades minhas e começou a contactar-me assiduamente, sempre a tentar convencer-me a ir ter com ele, a deixar o meu filho entregue ao pai, a esquecer as gomas e os chocolates, a mudar de vida. Mandou-me a cópia do CD dos Deolinda por correio, depois de me postar todos os dias a canção no meu mural, até já a sei de cor! Entretanto, para além do meu aspecto ter piorado drasticamente e ter passado as férias do verão em casa, comecei novamente a trabalhar, o que fez com que as conversas com ele se reduzissem e a sua convicção em me convencer diminuisse gradualmente.
É Outono em Portugal, mas no Brasil é Primavera. Lembrei-me disto enquanto falava com ele ao telefone, ao mesmo tempo que comia uma romã sumarenta e docinha. Enumerava-me as cores dos alimentos que estava a comer, vermelhos, amarelos, azuis, porque nasci eu a preto e branco? Todas as minhas conversas com ele eram dietéticas, minimais, herbívoras, ele contava-me as refeições que fazia e eu falava-lhe do quintal, dos roxos, dos verdes, dos castanhos, porque é que o Outono me entristece? O meu filho, coitado, só ouvia as minhas frases monocórdicas sobre as aventuras  no meio das plantas e pensava que eu estava a enlouquecer:
- Se fosse primavera, as trepadeiras não tinham coberto os telhados. Na Primavera as flores voltam a cobrir o quintal. Se fosse primavera, os pardais empoleiravam-se nos espantalhos.
-Só consigo ver os  picos dos cactos com os óculos novos. Os cactos tomaram conta das traseiras de todas as casas.
-Foi por causa dos maracujás que não me piquei nas urtigas. Vi a cara dela quando começou a anoitecer. Foi por causa das urtigas que fiz esparregado e que a cara dela me pareceu a minha.
- Está um monte de sonhos no quintal, parecem folhas. Se eu comer este monte de folhas, passo a noite a caminhar em direcção à lua.
- Mãe, porque dizes essas palermices ao telefone? Porque é que ele te deixou? Porque não deixas de comer chocolates e gomas? Não vês que estás cada vez com pior aspecto? Não notas que a tua pele está toda estragada? Mãe, porque não te sentas aqui a falar comigo? Porque tenho de ser eu a tomar conta de ti e não tu de mim? Não seria normal que me perguntasses o que fiz durante o dia, se as aulas correram bem, se já namoro? Porque nunca me perguntas nada? Se fores para o Brasil levas-me contigo? Mãe, por favor, não me deixes com o pai, odeio-o!
Sim, era essa a razão de eu continuar a querer esquecer-me de mim, o relacionamento com o pai do meu filho continuava a ser o meu maior pesadelo! Desde o momento em que o deixei que tenho alucinações, como ouvir o chocolate a lamentar-se por ser comido ou o limoeiro a chorar por estar doente, ver as flores a dançarem no quintal e as borbuletas a darem saltos mortais. Não conseguia explicar isto ao miudo, o que me tinha acontecido e o que sentia, por isso ficava calada, à espera que ele contasse tudo o que quisesse sem eu ter de lhe perguntar seja o que fosse! Às vezes apetecia-me pedir-lhe ajuda, pedir-lhe que levasse as gomas para dar aos colegas e que deitasse fora a caixa de chocolates.
E foi o que ele acabou por fazer, mesmo sem eu lhe pedir! Queimou-a na lareira e fez desaparecer as gomas. Na semana seguinte o trinca-espinhas voltou, já sem a espinha na boca. Vinha cheio de cores e de odores, conseguiu agradar-me e aceitei-o de novo. A minha vida voltou ao normal, faziamos amor uma vez por semana, ele fazia-me o pequeno almoço ao domingo, eu fazia o do meu filho durante a semana, o miudo começou novamente a ter boas notas, eu voltei a ser paciente no trabalho, aceitei passivamente que me baixassem o ordenado, mas continuamos a ir ao centro comercial aos sábados de manhã à procura das promoções, quando tinha menos gente e ninguém reparava no nosso fato de treino desbotado. Até que num sábado, quando abri a porta da entrada, estava pousado no tapete um embrulho igualzinho ao que me tinham dado há uns meses atrás, desembrulhei-o apreensiva, ali estava novamente a caixa de chocolates!

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Paula faz partilha neste com Abade, Maria de Fatima e Hilda.:)

O Homem Que Pensava Que Dar Um Beijo Era Fazer Uma Endoscopia... Por Paula Justiça


O Homem Que Pensava Que Dar Um Beijo Era Fazer Uma Endoscopia

Era uma vez um homem que pensava que dar um beijo na boca era como fazer uma endoscopia, por isso nunca punha a língua de fora perto dos lábios de uma mulher. Quando era criança aprendeu a falar muito tarde e, já adolescente, começou a apaixonar-se por todos os animais que a mãe - uma fanática defensora dos direitos de todos os seres vivos - metia em casa.
 As dificuldades em relacionar-se com os outros, principalmente com as mulheres, foram aumentando com a idade e cada vez lhe era mais dificil dirigir-se a um espécime do sexo feminino sem vacilar. Aprendeu a satisfazer-se sozinho nas páginas da Internet proibidas pelo pai, um fanático militante do Bloco de Esquerda, que tinha sido obrigado a ler todas as obras de Reich na adolescência, mas que nunca conseguira transpor os seus conhecimentos teóricospara a realidade, daí que só tivesse dois filhos, concebidos precisamente nas duas vezes em que ele e a mãe de ambos beberam demais numa festa de família e perderam o controle do corpo quando finalmente se encontraram sozinhos em casa. Talvez pelos pais não manterem relações de intimidade, o filho mais novo não conseguiu aprender a tê-las e sentia-se completamente indefeso de cada vez que uma mulher o abordava, independentemente da intenção com que o fizesse. O mais velho, como tinha estigmatismo acentuado e nunca usara óculos, tinha alguma dificuldade em distinguir os homens das mulheres, a não ser quando já estavam demasiado próximos dele, por isso mesmo acabou por ser violado por uma moça ruiva, com os dentes de cima salientes e com um QI muito acima do normal, que o ensinou a colher cogumelos e o obrigou a decorar todas as plantas comestíveis, para que se pudessem safar quando o caos se instalasse no mundo.
O mais novo só teve o primeiro relacionamento sexual com mais de trinta anos, com uma senhora que se apaixonou loucamente pelas sobrancelhas dele, mas a quem ele não conseguia de forma alguma satisfazer, pois tinha demasiado receio de ser tocado, chegando mesmo a dormir vestido com medo que ela o pudesse violar durante a noite, tal como tinha acontecido entre o irmão e a ruiva superdotada.
Conheceram-se na Biblioteca Municipal, à entrada, onde se recolhiam os fumadores nos intervalos das esperas e das leituras. Foi ela que lhe pediu lumes, uma, duas, três vezes, até começar a falar com ele como se o conhecesse há séculos.
A partir daí passaram a encontrar-se assiduamente, no café, na pastelaria, no cinema, no teatro. No inicio ele pensou que ela o perseguia, mas chegou à conclusão que tudo era mesmo obra do acaso, os horários coincidentes, o gosto pelo cinema e pelo teatro, o vicio de fumar, de tomar café, de ir à pastelaria da esquina a meio da manhã beber um chocolate quente. Acabaram por se sentar na mesma mesa, chamarem um pelo  outro quando iam fumar, comprarem bilhetes para irem os dois ao Fantasporto. Foi no final duma dessas sessões que ela lhe confessou que estava apaixonada por ele e aí começaram os seus pesadelos! Aceitou o namoro, ir para o sofá com ela na primeira noite em que o convidou para subir ao sótão onde morava, aceitou mudar a tralha e as tartarugas para casa dela, mas de dia para dia se tornava mais tenso, sentia falta  da Internet! Sim, o mundo real é exigente demais! Temos de contactar com pessoas, comunicar com elas, deixar que nos amolguem os espinhos,ser picados por elas. Era como se sentia com a senhora da Biblioteca, dois ouriços cacheiros na mesma casota!
Porque tinha ele aceite viver com ela, como podia ela continuar a gostar dele mesmo depois de o conhecer? Os mistérios do amor são complicados de desvendar, muitas vezes até paradoxais, irresolúveis! Devido a essa consciência e à apatia que lhe era natural, conseguiu morar com ela até ao momento em que lhe exigiu  que usasse a língua quando o beijava na boca. Não, isso era demais, que se servisse do seu corpo, da sua mente, das suas roupas, ele ainda conseguia aguentar, mas obrigá-lo a colocar a língua na boca dela, isso ele não conseguia suportar! Não era só por ela ter a boca tão grande, por não gostar de a ver tão de perto, é porque sempre supusera que os beijos se davam como se via nos filmes dos anos setenta, boca contra boca,mas sem intimidades. Sempre pensara que uma endoscopia seria igual ao beijo no Garganta Funda, filme que o pai tinha trazido do clube de video quando ainda era miúdo. Não, em filmes pornográficos ele não participava! Por isso fez as malas, acomodou as tartarugas no aquário e voltou para casa dos pais.
Ao menos aí podia passar a noite inteira em frente ao computador sem ninguém o incomodar!
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Este a paula começou,a Paula acrescentou e a Paula concluiu.:)


sexta-feira, 14 de outubro de 2011

O Fruto Proibido é Mais Apetecido... Por Fátima


O Fruto Proibido é Mais Apetecido

Hoje a noite é tua, minha, nossa...vamos esquecer todos os pudores e experimentar coisas novas...
eu sei que tu também sentes curiosidade...tal como eu - respondeu Michel.
- Estás a falar de quê pá ? daquilo que estou a pensar ? - perguntou a Bia.
Sim... de swing... aceitas?
- Não sei Michel, olha do que te foste lembrar...passas a vida a dar-me volta à cabeça...não sei nada..já não sei quem sou - tremeu Bia...

Mas na realidade o sonho dela, desde há anos, era aprender as danças de salão! Biatriz não gostava de festas tradicionais nem de regras a mais, mas achava piada aqueles pares a rodopiarem tão certinhos, no salão dos bombeiros, aos sábados á noite.
Que inveja de dançar assim! Vá lá, o swing já não era mau de todo, tinha de aceitar!

- Qual é a tua, minha? Até parece que o swing não é muito popular por aqui, deixa-me só dizer-te que me parece que este tema está muito pouco explorado, o swing  na sua plenitude, implica trocas completas entre casais bissexuais.
Então e os homens, não se tocam porquê?

 Não faz pergunta dificil está bem?
Vá lá Michel podes marcar a "coisa" mas, não quero gente feia, nem fedidos, nem velhos e nem moteis vagabundos.
O rapaz fica olhando pasmo !
Isso é pra hoje ou vamos ter de selecionar os parceiros?
Quem sabe colocamos um anúncio no jornal com suas exigencias todas bem explicadas?
Ande logo, te prometo que na semana que vem vamos para as danças de salão.

Quem não estava a perceber muito bem a conversa era Bruno, sobrinho de Bia, que morava com o casal porque os seus pais tinham morrido num acidente de automóvel. Ainda moço, na casa dos 16 anos de idade, tinha pela tia uma paixão caladamente selvagem.  Não tinha a certeza se estava a entender aquela conversa, mas uma coisa é certa, não conseguiu deixar de ficar à escuta pela fresta da porta da sala.

Bruno não aguentou mais a conversa: a incerteza da tia, as palavras incoerentes do tal de Michel. Depois de verificar se o seu ipod tinha a bateria no máximo, abriu a porta.
- Tia vamos dançar o twist?

Como Michel quase o comia com os olhos, Bruno achou por bem enfrentá-lo e berrou:
- Se a minha tia não é suficiente para si procure outras, mas deixe-a em paz, ela não quer ter amantes em publico, já lhe bastam os que tem em privado!
O que os homens inventam para poderem ter outras descaradamente! Ai se a minha mãe fosse viva, de certeza que não deixava que a minha tia vivesse como um homem assim!
Michel, com aquele seu sotaque abrasileirado, declarou que ia sair nesse mesmo momento, que se ela não o acompanhasse acabaria tudo entre os dois. A tia olhou para o sobrinho e respondeu ao companheiro que não ia, que ficava, que estava farta de homens!
Depois do francês sair, Bruno voltou a insistir com a tia:
- Vamos dançar o twist?
Ela aceitou, mas só depois de ele prometer que não comia mais dióspiros, pois andava sempre mal disposto desde que o diospireiro começara a dar frutos maduros. Além disso, o médico do centro de saúde proibira-o de os comer. Mas quem é que acredita em médicos assim?!
Seja como for, a promessa só durou o tempo de dançarem, pois logo que a tia se cansou ele voltou para os dióspiros. Nisso concordava com Michel, o fruto proibido é sempre o mais apetecido.
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 Neste,  Maria De Fatima contou com aparticipação de Paulaj ,Hilda,Betina e Abade.:)

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Paulo Paulada...Por Hilda


Paulo Paulada






Sabem um sujeito chato, arrogante e metido a besta? Pois é, este era Paulo e nem me pergunte seu sobrenome por que só o chamávamos  Paulo Paulada.
O cretino era era um "pé no saco" mesmo. E o pior é que nunca nos livrávamos dele.
Era nosso vizinho, isso deve explicar o motivo de não haver como ignora-lo.
Certa vez cogitamos até mesmo a possibilidade de nos mudar, só para não ter que toparmos com ele na escola ou no shooping ou no cinema enfim...
O paulo era uma "paulada".

Tudo que nós faziamos era só com o intuito de nos divertir e o Paulo era sério até na diversão.
Nossas mães eram simples donas de casa, já a  do Paulo uma renomada cientista especializada em biologia marinha.
Nossos pais  eram funcionários publicos ,o do Paulo um diplomata internacional ou seja...
Isso era tremenda deslealdade  para conosco, simples mortais.

Dizer que nossa irritação com o sujeitinho podia ser pura inveja de nossa parte era exagero... Bem...
Talvez um pouco sim, admito, mas que ele era emproado demais isso ele era.
Espere, deixe explicar por que me refiro sempre a "nós".
Eramos seis inseparáveis,com a mesma idade, morávamos na mesma rua e estudavamos na mesma escola.
Somente o Paulo era de fora, chegara ao bairro quando já tinha tres anos de idade.


O bairro era estranho, não aceitava qualquer um, nem mesmo uma criança. Todos os fins de semana havia foguetes, que o vizinho da casa cinzenta, que ganhara dinheiro a mais em Portugal, resolvia atirar para encher o céu de cores.
A dona Estefânia, enlouqecida por ter sido abandonada pelo marido e pelos filhos, atravessava nua a praça todas as madugadas,
a chamar pelo António.
A Felismina, com os socos de madeira a baterem na calçada, acordava toda a gente quando ia deixar a saca do pão pesa na maçaneta da porta. O marido dela costumava ser o último a deitar-se, podre de bebado, a cantar o operário em construção às seis da manhã, era um intelectual e por isso todos o respeitavam. A meio da manhã passava a peixeira, a apregoar a frescura do peixe, com os peitos escandalosamente expostos e o buço a brilhar ao sol. O Paulo tinha um fraquinho por ela, por isso sempre que podia escapulia-se para a esplanada para a ver passar. Era assim desde miúdo e como todos o gozávamos ele amuava constantemente, até se tornar impossível dirigir-lhe a palavra.

Claro que as coisas foram evoluindo, crescemos  todos e, a chatisse do Paulo também. Porém aconteceram coisas que foram aos poucos nos fazendo perceber o garoto solitário que simplesmente queria ser aceito pelos demais como um igual.
Paulo paulada era filho único e seus pais viviam tão ocupados com seus trabalhos que o largavam em casa aos cuidados de uma governanta.
Acho que se contar direitinho o tempo, não chegavam a ficar juntos, os três, dois messes em um ano.
Paulo convivia mais conosco mesmo.
Se iamos as férias, em geral era para acampamentos, se iamos para a casa de  verão da vovó.eu levava o "praguedo" todo comigo.
Quando na casa de outro era igual. Se os pais de paulada vinham para casa nas ferias, eles viajavam para longe.
Só Rosa não tinha casa de verão. Porém sua mãe organizava finais de semana com pic-nics no parque.
A vantagem de morar em cidade pequena é que todo mundo se conhece asssim qualquer um podia "olhar" a garotada.
Aiiii a Rosinha! Esta é minha prima.
Haviam duas meninas em nosso grupo.Uma era Rosa a outra era a Lucia, irmã caçula  do
Valter.
Voltemos ao assunto em questão agora.O Paulo.
Era um sábado de chuva estavamos na casa de Toni jogando videogame, a mãe dele vem com uma bandeija enorme de bolo de fubá quetinho
e umas canecas enormes de leite. Pareciamos uns mortos de fome ,sempre.
O engraçado e´não esquecermos o prazer que sentiamos em tudo,era muito bom aquilo. E bem no meio daquela comilança toda, ela entra na sala. Quando eu a vi,quase me engasguei.
Era a menina mais linda do mundo!
Todos nos apresentamos desajeitadamente,a boca ainda cheia de bolo porém, não deixei de notar que o Paulo estava mais composto que os demais e com toda a serenidade do mundo se dirigiu a ela com simpatia e elegância.
Por um instante tive a sensação que o Paulada cresceu ali diante de nós. Ele era um adulto e nós ,crianças bobas.
Toni era o dono da casa e por isso fez aquela cara de quem estava em vantagem sobre todos os demais.
Nos apresentou a todos sua  prima recem-chegada do Brasil.
A minha surpresa foi tanta que balbucei meu nome feito um retardado mental.
Niguém se riu de mim porque todos estavam sob o mesmo impacto.
Quando me lembro do vermelho que tingiu minhas faces me rio agora.
Na seguda -feira na escola estavamos todos eufóricos,queriamos saber mais da brasileira.
Toni disse que ela veio para ficar um ano.Que seus pais queriam que ela fizesse cursos preparatórios enquanto estivesse com seus tios.

Marina,seu nome era Marina.Todos os dias inventavamos uma desculpa para irmos a casa de Toni.
Percebemos que  no entanto que o Paulo não nos acompanhava nestas escursões extraordinárias. Ela tinha cursos na segunda ,quarta e sexta.
Demorou um pouco para compreendermos que o Paulada que também fazia cursos, e os tinha coicidentemente com ela!
O desgraçado estava namorando com ela bem de baixo de nossas fuças. Que raiva!?

Nos sentimos traidos afinal... Eramos amigos dele...Bem, talvez implicássemos um pouco com o garoto porém ,não era para tanto, praticamente nos ignorar por causa de uma lambisgoia!
Tinhamos que tomar uma atitude.E tomamos.
Fomos até a casa dele tirar-lhe uma satisfação.
Ele estava em curso. Guardamos nossa raiva misturada com mágoa para o momento apropriado.
Dois dias depois ele nos convida a todos para a sua casa,numa tarde de refresco e música.
Pensamos em não ir só por vingança mas, percebemos que a turma toda havia sido convidada e se não fossemos, iamos fazer papel de idiotas novamente.
O Paulo estava se despedindo de todos. Ficamos tão atonitos com a revelação que quase choramos.
Estavamos de mal dele  e agora...A coisa não tinha a menor importancia, nem queriamos saber de ele ir embora.
Demorou para entendermos que não era por causa de Marina que ele se afastara da turma e sim por causa da mudança.
Paulo já sabia que ia mudar-se  há tempos. Estava triste e não quis contar-nos.
Prometemos escrever-lhe sempre.
Estamos adultos hoje e cada um de nós seguiu um rumo na vida.
O Paulada na verdade se chama Paulo de Oliveira Junior.
Aprendemos o seu nome ao lhe escrever cartas e ainda hoje, graças a tecnologia,pelo menos uma vez por ano nos falamos em conferencia.E de tempos em tempos  nos encontramos todos.
A amizade é um bem precioso.

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Este foi escrito por Hilda em partilha com Paulaj.:)

sábado, 8 de outubro de 2011

Um Único Amor...Por Hilda


Um Único amor
Por vezes me deparo com tantas contradições que penso mesmo que fui enganada a vida toda.
Aquilo de amor verdadeiro,procurar a cara metade,o outro que completa. Isso é conto de fadas,engodo puro.
Sem contar que o Sujeito que canta a música "alma gemea"  já se casou umas vinte vezes.
Por outro lado é preciso pensar.Vasculhar a memória que,graças a Deus tenho mais ou menos preservada.
Vivemos tempos onde a moda é "ninguém é de ninguém" e "todo mundo é de todo mundo".E isso é verdade.
Como também é verdade que existem os que não são de ninguém de nem de todo mundo.
Lembrei de uma moça que se apaixonou por um rapaz,ela tinha apenas quinze anos e ele trinta e cinco , e eram vizinhos de porta.
Ela era bem namoradeira,ele um rapaz contido,sério.Demorou um pouco para eles dois se acertarem.
Porém antes dela fazer os dezoitos ela já estavam casados os dois.
Viveram uma vida harmoniosa de vinte anos.Quando eu os encontrava, imaginava que aquilo parecia ser a união ideal.
Deviam ter seu problemas claro mas, a confiança e o afeto fazia tudo parecer fácil de superar.
Marcio teve um AVC e veio a falecer no ano de 2000.E Silvia nunca se recuperou de sua perda.
As irmãs até que tentavam  arranjar-lhe um par em diversas ocasiões.
Ela ,sempre com bom humor respondia:
_Já sou casada.

Zangaram-se, porque ele viu no telemovel dela uma mensagem do vizinho da casa em frente.
Ele, sempre muito ciumento, insultou-a, ela esbofeteou-o, ele  ripostou, até que ela se passou e disse que se ía embora,
nem o choro dele a convenceu a ficar. Dizem que foi para a Amazónia e que vive numa tribo recondita, a cinco horas de viagem
de barco de qualquer indicio de civilização. Fez bem, os homens não prestam nem aqui é um sítio agradável para viver.
Era assim a vida Rui e Valeria.Se amavam também porém, não conseguiam dividir mais que o sexo.
Fora da cama eram um "desastre".
Ela era popular e gostava de se exibir.Porque  tinha que ser dificil? Se apaixonaram, um pelo outro, assim que se viram.
Dai a morar junto foi um "pulo".Se havia um problema qualquer, se agrediam não apenas com palavras mas,fisicamente também.
Sabiam ambos que isso tinha que acabar.E acabou.

Ariovaldo e e Diná estavam casados há muitos anos já. Levavam uma vida aparentemente tranquila, ambos tementes a Deus e nunca faltavam a igreja.
Cuidavam dos filhos de forma regular e eram firmes e amorosos. Estes tinham reputação moral ilibada. Enfim uma família modelo.
Quando os filhos se casaram,estes eram quatro ao todo, alguma coisa significativa deve também ter abalado o casal,seja a mudança, o silencio em casa, a sobra de tempo...Sei lá .
Ariovaldo passou a frequentar o bar da esquina com uma certa regularidade.
Agora ele estava aposentado e tal...
Diná lhe dizia que podia ir mas, que não perdesse o horário das refeições.
Porém com o passar dos meses isso foi mudando gradativamente, e ela começou a ter de ir busca-lo para almoçar, jantar, ou dormir.
Quando os filhos se deram conta, e isso demorou um pouco, pois estava todos cuidando de suas vidinhas, estavam seus pais, Ariovaldo e Diná tendo que serem ambos internados por alcoolismo.
E os filhos que foram criados com tanto rigor moral, tinham agora vergonha dos pais alcoolatras.

Não sei dizer se o amor existe, onde nos leva ou se nós é que o  levamos...
As coisas mudam o tempo todo e situações confrontam-se.
Talvez isso seja como cultivar plantas, regando continuamente  na medida certa, do contrário ou morre afogada ou seca.
Tenho uma teoria muito pessoal sobre o assunto.
Acho que talvez,só talvez...
Leve-se muito séculos até  que as metades verdadeira se encontrem e algumas até se "esbarram"
por ai porém, com tantas distrações, não se reconhecem facilmente.

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Neste Hilda teve partilha de Paula Justiça.:)

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Simplesmente Um Sonho...Por Mia Torres


Simplesmente um Sonho


Kate olhando-o provocante, deslizou pela beira da piscina, entrando de novo na água, enlaçando a cintura de Manuel com as suas pernas
e abraçando-o pelo pescoço. Manuel, agarrando-a pelas ancas, puxou-a de encontro a si com força, fazendo-a sentir a sua virilidade pulsante. Aproximou a sua boca da dele e começou a brincar com os seus lábios, beijando suavemente, intercalando com pequenas mordidas no lábio inferior de Manuel que suspirava, tentando alcançar os seus lábios para os beijar.

Desculpem, eu não queria interromper, mas se calhar é melhor, quer dizer, a água, é melhor saírem da, hummm, água, da piscina, hmmmmm,  os micróbios, a água, quero dizer a piscina da água não é mudada, portanto, há doze dias, a água, bom, vou-me embora.

Perante estas palavras tremidas do guarda noturno, Kate fixou os olhos em Manuel, riu-se perdidamente e respondeu-lhe:
- Não tem que pedir desculpa, fique à vontade. Quando não aguentar o calor tem uma piscina de ondas no condomínio fechado.
A água está a ser tratada pela Jane.
Hummmm, ela vai adorar, então, não fique envergonhado, coloque uma mão até aos seios de Jane,
apertando um deles, massajando, enquanto desce os lábios pelo pescoço dela, fazendo-a suspirar, tocando com a ponta da língua na sua orelha.


Manuel já há uns meses que se sentia um joguete nos braços e nas pernas desta mulher, que só se excitava em lugares publicos e que fazia
 tudo para que fossem apanhados em flagrante delito. Mas porque é que ela teima em se comportar como uma actriz de cinema?
 Porque é que tem de fazeR cenas em frente a toda a gente, até um guarda noctuno? Porque não me deixa relaxar?
Porque me deixa neste estado de euforia física e depois nunca chegamos ao acto consumado?
Se tivesse coragem ia-se embora, mas não tinha, o medo da solidão e a difiduldade em conseguir arranjar outra companheira prendiam-no à loucura dela.
 Muitas vezes parecia-lhe que vivia num pesadelo, mas que durante o sono conseguia vislumbrar os sonhos dela.

Nessa manhã, depois de sair do trabalho, Gad (os amigos sempre o trataram assim, devido à sua profissão de guarda nocturno), não foi logo para a cama como era usual.
Anexa à sua casa tinha uma pequena horta, que tratava no final do dia, antes de ir para o trabalho.
As couves já estavam prontas a comer, grandes, bem formadas, sem defeitos, lindas, tão lindas que Gad adiava o momento terrível  de as arrancar da terra, cortá-las e pô-las num tacho com água a ferver. Escolheu a mais perfeita de todas as couves e comeu-a logo ali na horta, folha a folha, cada folha sendo um seio de Kate, uma vagina húmida, uma boca, um lábio da Jane que ele ainda não conhecia.

Enquanto se detinham neste pequeno diálogo, Jane sentiu a necessidade de ter um corpo masculino sobre o seu, carne dentro da sua carne e, sendo uma gaja ousada e sem tabus, fixou os olhos em Gad. Os movimentos dele no quintal excitaram-na, aproximou-se, reparou na excitação que dominava o seu corpo, pelo volume que se notava nos seus boxes, e sussurrou-lhe ao ouvido o quanto o queria e pediu-lhe para
subir para o quarto. Gad sorriu e negou com um movimento da cabeça.


Mas o jogo estava prestes a terminar, pois a excitação daqueles quatro já exigia mais do que pequenos beijos e carícias.
E tudo se desenrolou quando Kate (a mais atinada), depois de Jane ter perdido novamente a pobre cabeça, apercebendo-se do desejo desta por Gad, lhe ordenou que fizesse amor com ela
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Mia Torres escreve este em partilha com Abade, Paulaj e Maria de Fatima

domingo, 2 de outubro de 2011

Psicose Conto Partilhado

Psicose

Rafaela estava sozinha em casa.
Pensava no que faria para o jantar. pois o marido iria chegar mais tarde.
Ela já ligara para o celular de Marcelo bem umas seis vezes hoje.
Eram casados os dois, tinha quase um ano.
Deixar o emprego foi uma decisão precipitada, agora ela roia as unhas quase o tempo todo.
O marido, por sua vez, pensava consigo:
_Se ela não arranjar um emprego logo,  eu vou me atirar da ponte.

Marcelo ia a caminho de casa, e pensava." E agora, o que vamos fazer ? As contas para pagar aumentam, ela deixou o emprego, e eu vou ser despedido. A mãe da Rafaela quer fazer uma operação de mudança de sexo e conta com o dinheiro da filha - que não existe. O nosso cão precisa de uma operação à próstata. O carro está velho. Precisamos de dinheiro urgentemente. Vou pedir algum ao Sr. Maffiosini, ele parece simpático e generoso, gosta de ajudar as pessoas..."

Talvez tenha sido milagre, mas quando Marcelo abriu a única carta que tinha debaixo da porta ficou boquiaberto e completamente incrédulo, acabavam de lhe comunicar a morte de um tio podre de rico, de quem ele era o único herdeiro! Saíra-lhe a sorte grande! Chamou por ela e pelo cão, com o coração a bater a duzentos à hora, correu para eles, pegou nela ao colo e disse, entre risos e soluços: - Vamos ser felizes!

 O cão Gerónimo, aos pulos, também queria ir para o colo do seu dono. "Sim, sim, vamos ser felizes, eu esperava este momento há tantos anos". Em um dos saltos, Gerónimo conseguiu morder o rabo de Rafaela, que caiu estatelada no chão, após o que noutro salto, ficou ao colo de Marcelo. "Vamos ser felizes!".

O dinheiro não traz felicidade, pensava Rafaela, só um cão e um homem podem pensar semelhante coisa! Agora a minha mãe vai ficar meu pai, eu vou ocupar o tempo a cuidar de animais abandonados, o Gerónimo vai ser operado à próstata e vai gostar de cadelas novamente, Marcelo vai comprar um carro novo e ainda vai emprestar dinheiro ao Sr. Maffiosini para este casar a filha. Ser rico também é complicado, os outros invejam-nos, temos de controlar os gastos e pensar no futuro, para não nos tornarmos em novos pobres.

Faremos todas as viagens, comeremos em todos os restaurantes da moda, passaremos nossas féria em Nice, na França.
Agora todo dia inventamos um novo estímulo para levantamos da cama.
Que porcaria isso de perseguir a felicidade.
Estamos agora como queríamos e o que mais falta?!
Outro dia Marcelo  me veio com uma ideia, quer ir ao Tibét, onde o frio mata só de pensar, a comida escassa e dorme-se quase sem coberta.Vamos alcançar o nirvana por coisas banais e bobas, como o simples ato de respirar. Coisa que se pensar bem a fundo, nem precisa de dinheiro para faze-lo.
É a vida, sendo descobertas por idiotas que acreditam em tudo.


Guerreira/JN/AA e PaulaJ 

sábado, 1 de outubro de 2011

A Paixão...Por Augusto Abade E Teresa Bettencurt


A Paixão

Gostaria de experimentar o seu bocejo, meu bem.
Claro, está à sua vontade, meu amor.
 Espalhe então seus cabelos sobre a cama, flor.
 Meus dedos estão abertos para si, minha paixão.
 Minha boca está pronta, coisa mais boa.
Oh, seu bocejo é lindo, fofura.
É que estou com sono bebé.
Então seu bocejo não foi só para mim, cobertorzinho?
Não, apenas estou com sono, quentura.

*************    FIM    **************
Este é uma autoria de Sr e Sra Abade.:)