Mal conseguindo respirar de tanta dor, resmunguei meu nome.
— A senhora desmaiou, vomitou? — Não
Me levaram as pressas para a sala das emergências com um capacete que parecia me sufocar e rapidamente me ligaram a aparelhos
A dor no rosto era insuportável e meu pescoço parecia dilacerado.
Estava no hospital da faculdade, estudantes haviam por todos os lados. Alguém fala ao telefone:
— Doutor tenho uma paciente aqui de cinquenta e um anos, queda do próprio corpo, ela não desmaiou, nem vomitou, traumatismo na face.
Em instantes uma campainha toca:
— Opa!!! Imediatamente sou retirada dos aparelhos e empurrada para um estreito corredor entre duas camas e logo vem o motivo da agitação toda. Um acidentado.
Deixei de ser o foco das atenções agora e não era mais a estrela principal dos holofotes.
— Como é seu nome? Fale comigo, o seu nome?
— Bombeiro disse que este foi encontrado atropelado...
— O senhor tem quantos anos? Rápido alguém rasgue suas calças aqui...
E eu fiquei ali, abandonada a minha própria dor. Tinha vontade de gritar, que pelo menos me medicasse. Minhas lágrimas corriam aos borbotões. Meus deuses!! Tudo doía.
Eu havia escorregado numa rampa íngreme, sem ter onde me segurar e com as mãos ocupadas, bati com a cabeça no chão e rolei dando de rosto no chão de cimento.
Por quase duas horas eu esperei pela medicação, tirei raio-X constatando que não tinha osso quebrado. Só queria ir embora pra casa agora.
O especialista em neurologia entra e se digna a me olhar, dizendo solenemente:
-A senhora vai dormir aqui esta noite para observação. Amanhã se não houver alteração no seu quadro, será liberada.
Minha dor tinha aliviado bastante, e não estava mais chorando.
Encostaram minha maca num corredor onde recebi logo, tive sorte, um colchão e um lençol.
Filhos e um pai apavorado foram para casa, prometendo voltar mais tarde trazendo coisas de primeira necessidade, escovas de dente, camiseta, lanche... Pedi que trouxessem um livro, pois com certeza não iria dormir nada naquele lugar, me ri muito mais tarde deste detalhe, como eu ia conseguir ler com aquela dor me atormentando, alguém imaginava!
A noite foi um caleidoscópio entre sonho e realidade. Nestas horas a dor, além de triste é muito solitária.
Por vezes eu me acalmava e me refugiava em lembranças boas, isso me aquecia e cochilava. Por vezes acordava sobressaltada com as emergências esbarrando em minha cama de rodinhas... Bombeiros correndo atrás de macas.
— Ocorreu um óbito agora.
— Ai!!! Me ajude a levantar... Olhei pra trás, era um senhorzinho que estava com sonda.
Todos pareciam ocupados demais para prestar atenção nele.
Um segurança que havia caído de uma escada rolante e não queria fazer tomografia.
Pela manhã, antes das seis horas, meu marido já estava do meu lado. Chegara uma moça que gritava de dor... Queria ajudar, sério! Sabia que não podia, mas, queria. Ela parecia muito jovem e gritava pela mãe.
O senhor velhinho ainda queria sentar na maca e apesar dos protestos que não podia, ele deu um jeito e caiu, se estabacando no chão.
Me senti estranha, quando a enfermeira veio e lhe passou uma reprimenda, um velhote que tinha sede, tinha vontade de sentar e não podia. Disse que tinha que ir embora por que tinha uma consulta marcada em outro hospital. Achei ridícula a explicação, ele queria sair de um hospital, para se aboletar em outro!
Só fui liberada depois das treze horas. Quando cheguei a casa queria ir dormir somente, se o rosto doloridamente inchado deixasse claro.
Minha prima me falando pelo facebook de noite, lembrou-me de uma brincadeira da infância:
— Velho quando não morre de tombo, morre de caganeira. Risos..
— Pare de me fazer rir caramba! Dói tudo. Mais risos...
Tenho a impressão que se não somos especiais para ninguém, estamos lixados, pois na hora da morte vamos sozinhos e ninguém pode fazer nada para mudar isso.
...
Aaiiii....que susto "miuda"...andas a trabalhar de_mais Guerreira/Hilda
ResponderExcluir