quinta-feira, 7 de junho de 2012

A Rata E O Dragão


      Certa vez, quando os bichos falavam um idioma compreendido  na terra dos homens, havia um dragão enorme que protegia um pequeno  povoado de toda sorte de perigos. Ele era valoroso e gentil. E em troca o povo lhe retribuía com todas suas vontades satisfeitas. É claro que por vezes o mesmo também era egoísta e intransigente, como a maior parte dos poderosos porém era sempre perdoado e em geral era quando aparecia um malvado, querendo escravizar a vila
_Já estamos acostumados com o nosso amo e senhor de estimação. Diziam os mais velhos da região.

Mesmo um dragão tem sentimentos e Sua Excelência, o Dragão Pintado, era particularmente sensível. Impertinências à parte, o dragão vivia comovido, pela reverência do seu pequeno povo e cada dia se sentia mais responsável por ele.
Bem, nenhuma história é perfeita, ou não havia história.. Por isso temos de falar do João Rapagão, inimigo do dragão!
O João Rapagão nascera naquele povoado, já ninguém se lembrava quando, pois toda a gente preferia lembrar-se como!
O João Rapagão não nascera. Aparecera, simplesmente.
Era dia de feira.
Às quartas feiras, para quebrar a monotonia das semanas em que não havia ameaças à aldeia, achava interessante este detalhe, devia ser o dia de folga todos malfeitores os habitantes vinham ao terreiro trazer o que produziam, vender, trocar, fazer festa, dançar e etc.
     Muita gente de longe convergia para o povoado. Essencialmente por causa de... etc.
Foi numa quarta feira discreta, ao final do dia, que toda a gente deu por ele, plantado no fontanário público, meio sentado meio deitado, impossível de ignorar, esquecido de se ir embora, gritando a todos que sempre ali vivera.
_Sou o maior matador de dragões de todas as terras!
Impertinente!
Sim, pois ninguém nunca se dera conta da existência de tal sujeito. E foi justamente neste dia que todos se aperceberam de Rapagão._ Um atrevido isso sim! Diziam as senhoras de boa família.
Mas, voltemos ao nosso protetor e guardião.
Ele andava triste e cabisbaixo. Hoje era dia da feira e este sempre vinha para se exibir a todos, fazendo demonstrações com seu fogo.
_Que será que houve. O dragão não estava lá no lugar de costume.
-Será que está doente?! Especulavam todos.
É verdade que ele andou enrabichado por uma bela dragoa que andou por aqui, esta vinha de passeio do norte. Eles conheceram-se por um destes acasos da vida. Ela machucara uma asa e teve de pousar, obrigatoriamente, no vilarejo. Foi um alarido só. Num primeiro momento ficamos preocupados, pensamos que era o nosso protetor que havia sido ferido. Ela era igualzinha a ele em tudo. Porém com atenção e cuidado sua asa melhorou e ela parecia nem lembrar mais que estava indo para algum lugar. Aí, ficamos preocupados de novo. Nosso vilarejo é pobre sabe. Dar de comer para um dragão ainda suportamos, mas a dois!A coisa ficava complicada.

E foi com grande alegria que um dia a vimos bater suas asas em direção ao norte, ela retornava para seu lugar de origem.
_Deve ser saudades de dragoa. Deixemos nosso dragão querido em paz então. Concordaram todos. Mas os dias passavam e ele não vinha nem pegar sua comida.
Rapagão, o moço exibido, tinha um bicho de estimação que carregava no ombro. Um camundongo, imaginem só! Coisa incomum, pois é. O diabo do ratinho não falava com ninguém, só com rapagão. Isso era o que dizia ele, o que nos fazia pensar que não era verdade.
Um dia estava o moço se pavoneando para uma jovem na vila, quando um dos anciões o manda chamar e pede-lhe em publico que leve a comida do dragão.
O rapaz se prontifica logo na esperança de impressionar a linda moça que o acompanhava e vai carregado de comida para o topo da montanha.
Cansado pela subida ele se para a porta da caverna do dragão e espera.
Quando de repente ele sente o bafo quente atrás do pescoço. Toma um verdadeiro susto, levanta-se num repente. O Dragão está lá com os olhos injetados de fogo a fixar-se nele. João não consegue pensar em nada melhor que correr, e correr muito.
Na corrida desembestada morro abaixo João nem se da’ conta que deixou cair seu camundongo ao levantar-se.
Chegando a vila Rapagão avisa todos que o dragão está louco de raiva e vai matar a todos. Ficamos preocupadíssimos, claro. Com podia ser isso!?
Baixaram a ordem para que todos se refugiarem em suas casas imediatamente, deixassem comida e bebida suficiente para os dias de reclusão, até saberem ao certo o que se passava com o dragão.
Na caverna o dragão estava desesperado de dor. Era horrível aquilo. Nem sabia mais o que fazer, não dormia, nem comia há dias.
_Com licença. Uma voz feminina falou.
_Que foi? Onde estás? Diz o dragão olhando em volta sem conseguir ver nada.
_Estás com um espinho enterrado no pescoço amigo. Posso tirar, se quiser.
_Por favor. Respondeu o dragão. _Acho que é isso que está me matando.
_Fique calmo e não se mexa, por favor. Vou tentar.
 Sem pensar duas vezes a ratinha pega aquela enorme farpa e puxa com toda força que pode.
 E vai sussurrando ao ouvido do dragão.
_Só mais um pouco amigo, só mais um pouco.
E tenta de novo e de novo. Enquanto o dragão vomitava fogo pelas ventas e boca clareando a  escuridão da caverna , até os morcegos que ali viviam  evaporaram logo, e do povoado todos escutam seus grunhidos apavorados.
     Afinal não tinha sido a dragoa a provocar-lhe tão grande dor, mas sim um espinho no pescoço, ainda por cima retirado por uma ratinha! Quando o dragão voltou ao povoado vinha enraivecido, como tinham sido capazes de o deixar a sofrer sozinho sem nenhum se atrever a tentar salvá-lo?! São estranhos os seres humanos, se puderem esquecem-se de quem veneram, não ajudam quem mais sofre e ficam felizes por não padecerem dos mesmos males! Ainda por cima os dias que ficara a gemer não lhe permitiram arrumar o lar onde vivia, que se tinha infestado de pulgas, de modo que o seu bonito corpo de dragão luzidio estava cravejado de mordidelas de pulgas. Detesto pulgas, porque não vão elas apenas para os homens e deixam os bichos em paz?
     Quando o dragão pousou no lugar de costume. Chamou a todos os residentes da aldeia e contou o que havia se passado.
_Quando ouvi aquela voz, vindo não sei de onde, pensei que estar morrendo mesmo.
Eu desmaiei de tanta dor. Quando acordei me sentia cansado ainda, porém a dor havia passado.  A única coisa que pensava era em comer. Foi quando eu vi um ratinho  pequeno, dormindo sobre mim. Nem pensei muito peguei e ia levando a boca quando:
_Com que então eu te salvo, e tu me comes em agradecimento!
Fez-se um silencio onde eu imediatamente a larguei com toda a delicadeza possível a um dragão desajeitado.
_Peço desculpas pequena ratinha. Então foi você a me salvar da morte?

Incrédulo por uma criatura tão pequena e tão frágil ter tido a coragem de salva-lo, quando a maioria se escondera de medo.
_Acha que podemos conviver sem eu correr o risco de ser devorada por você grandalhão?
Ambos ficaram se mirando nos olhos por alguns momentos até que caíram na gargalhada.
_Vou tentar. Respondeu ele.
O dragão pegou a ratinha e a colocou no dorso _Segure-se, vamos voar.
A ratinha se sente humilde naquela imensidão toda. Lagrimas de emoção escorrem de seus olhos. Nunca vira paisagem mais exuberante. Quando pousaram, ele percebe a pequena sem palavras._Nunca voaste, ficou com medo? Gostou?
_Sim, foi maravilhoso. Fico imensamente grata.
O povoado voltou à normalidade. Rapagão perdeu sua ratinha, o moço "valente" havia ficado com tanto medo naquela noite que, só percebera no dia seguinte a sua ausência. Quando a viu com o dragão e soube que tinha sido sua salvadora, ficou orgulhoso dela.
E foi assim que aquele dragão enorme e uma ratinha insignificante e minúscula se conheceram. Estes eram de mundos diverso, duas cabeças, duas almas que por alguma razão, queriam muito se conhecer, saber de tudo um do outro.
Ambos não entendiam direito, mas estavam ligados pela curiosidade ou pela vontade... Vai saber...

Guerreira/ Lena e PaulaJ

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