quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Pequeno Herói

Eu queria ser policial desde menino para ajudar as pessoas e ser exemplo para as crianças. Queria que meu pai se orgulhasse de mim também. Confesso que tem sido bem difícil esta tarefa...Depois de dois anos, se o sujeito não tem Deus no coração, fica perdido no meio de tanta violencia droga e desolação. É como se o mundo estivesse em plena guerra, numa decomposição total da humanidade. Por vezes eu me pergunto ainda. Por que?
Uma vez fui fazer uma ocorrencia numa favela para os lados da zona Leste.Chegando lá, o "cara" cheio de crack na cabeça  espancava a mulher grávida de oito meses, como se ela fosse a escória do mundo e fazia isso na frente dos outros tres filhos. Aí eu não me aguentei, sabe. Peguei o sujeito pelas orelhas e tirei para a rua. Não me lembrava de ter ficado tão possesso antes em toda a minha vida. Os vizinhos logo vieram para cima de mim dizendo que eu estava sendo covarde, batendo num drogado que nem tinha como se defender.
Dirigi meu olhar para  a multidão que rapidamente se juntava ali e respondi em seguida:
-E o maldito pode bater na mulher grávida, dar exemplo de crueldade a seus filhos, porque isso não é covardia? Todos ficaram calados e eu tive tempo de me recompor...
Um colega mais antigo disse-me certa vez que para o bom exercício do ofício, temos que ser imparciais. Pois como policiais não temos que tirar partido e sim fazer cumprir a lei.
Tantos colegas de farda já enlouqueceram nesta vida de policia.
Um dia um superior nosso foi para a frente das cameras em rede nacional e disse que a corporação está cheia de falhas e corrupção. Eu pensei logo, todos querem ser mocinhos e posar de heróis, não é verdade?

Quero ver sair para as ruas com carros sucateados, arriscando levar um tiro por não ter coletes adequados e o prejuizo que causarmos, mesmo que seja em serviço, é descontado de nossos salários.
Agora, dentro da corporação percebo que nossos direitos são mínimos e a lei, está do lado do bandido sempre. O mesmo sujeito "superior" que podia dizer que o sistema é falho e que os homens que estão designados para proteção e ordem do cidadaõ, são sozinhos nesta parada e sem condições de eficácia.
Pensava que ser militar me faria especial e no entanto, precebo agora que tenho que ter cautela em dizer meu endereço de residencia, ser discreto quanto a minha familia e o que devia ser motivo de grande orgulho pessoal, virou uma paranóia coletiva.Aos poucos estou mudando...O garoto que fui, cheio de certezas e conceitos está desaparecendo dentro de mim. Tento me segurar, para não chorar, afinal isso não é coisa de homem e eu sou um homem.Que boa porcaria!
Em minhas últimas considerações sobre este assunto eu digo que imparcialidade não existe quando se trata de humanos, pois tudo tem uma razão de ser, e não importa que carreira vamos seguir, mudar o mundo é uma questão de tempo, união e vontade. E sozinho também podemos semear qualquer coisinha aqui ou alí..Só depende de cada um....Ajudar o próximo faz bem a nós mesmos e nos faz pensar que somos úteis e afinal teriamos algum propósito.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Anita Foi Ao Baile.

Numa noite de sábado Anita resolveu ir ao baile, e ao sair de casa disse a mãe; _ Hoje arrumo um homem para mim, e por favor não me esperem acordados.Os pais se olharam calados, a filha devia mesmo arrumar alguém pois era tão boa moça, ótima filha e prendada e bonita também. _Porque não! E Anita realmente não voltou aquela noite e nem no dia seguinte...
Já era domingo de noitinha, os pais da moça aflitos e cansados ligar em seu celular, foram até a delegacia mais próxima, denunciar seu desaparecimento. Depois do relato o celular da mãe toca e uma voz estranha do outro lado diz:_Anita está hospitalizada, pois sofreu um acidente e foi socorrida por um caminhoneiro, que a trouxe para cá ontem a noite por volta das 22h.
Afinal então...Anita nem chegou ir ao tal baile.
A moça andava triste e com baixa auto estima. Achar um homem não era tarefa fácil e depois de todo o tempo que teria que ficar imobilizada, por conta das escoriações e costelas quebradas. Seu desanimo era evidente.Sua mãe a consolava dizendo amorosamente: _Aguarda e confia filha, a vida sempre reserva surpresas. _Qual o que mãe! Olha para a mim aqui toda estropiada. E eu não morri por pura sorte.
_Vira essa boca para lá menina! Ralhava a mãe, que estava preocupada com seu estado mocional.Então de pronto disse-lhe: _Quando voce puder levantar, te levo pessoalmente até a porta daquele baile idiota, está bem assim para voce?
Anita olhou incrédula para a mãe por alguns instantes e a seguir explodiu numa risada. _Sabia que voce é melhor mãe do mundo!
_Claro que sabia.E depois de beijar a filha, saiu do quarto fechando a porta. _Tenho que dar um jeito nisso. Ela ficou a matutar...
A noite ao deitar a mãe diz ao marido:
_Ela está beirando aos trinta, é bonita inteligente e sociável.
_E daí...Acha que só as feias e burras não arrumam marido? Percebendo a seriedade da esposa, ele pondera...
_Olha querida, pensa pelo lado bom da situação. Ela é totalmente livre, mora conosco, não tem preocupação com casa, contas, pode viajar quando dá vontade.
_Sim meu bem porém, ser livre consiste em escolhas e ela quer um homem agora.
_Já imaginou nós dizendo isso a nossos pais quarenta anos atrás? Parecemos tão velhos e ultrapassados agora.
_Os tempos mudaram, é verdade mas ainda continuamos os mesmos, com algum entendimento a mais , eu espero.
Anita tem tudo que uma mulher moderna tem...disse o pai.
_Mas não tem mesmo! Retrucou a mãe. _Nós dois, quando tinhamos a idade dela, eramos pais já. E os bens materiais fomos adquirindo com o tempo, enquanto os criávamos.
_O que voce sugere então.Respondeu ele sem paciencia já.
_Sei lá, só estava trocando ideia com voce. Deixe estar...Boa noite.
Isabel e Gusmão estavam casados há tanto tempo que por vezes nem se notavam mais...E ter assunto era sempre uma tentativa de aproximação da parte dela. É estranho como com o passar dos anos as palavras somem, e quando aparecem causam alguns inconvenientes naquilo que parece tão harmonioso e entediante.
Agora Isabel queria ajudar a filha._Talvez  Anita consiga o que não consegui.
Com assistencia de enfermeiro em casa, Anita se recuperou logo. E foi com grande animação que retomou suas atividades corriqueiras. Era estranho afirmar mas, parece que depois do acidente e todo o tempo acamada ela parecia uma outra pessoa agora.
Os colegas vieram visita-la, amigos que há muito não via apareceram, recebia flores com votos de pronto restabelecimentos.Tinha boas conversas com o fisioterapeuta...
Quando chegou o sábado, como havia prometido, Isabel levou a filha até a porta do baile.
Ela parecia uma garotinha de tão nervosa...
_Relaxe e se diverte filha, a vida não deve ser levada a ferro e fogo. Venho te buscar as tres horas e se tiver muito chato voce liga, que venho antes ok.
Acenando que sim  Anita sobe as escadarias do clube, devagar...
 De madrugada o telefone toca: _Mãe não precisa me buscar, descanse que encontrei amigos e eles me deixam em casa, pois fica no caminho...
_Correu tudo bem filha?
_Sim, foi bem divertido...Dorme que nos falamos de manhã, beijo.
Isabel vira para o canto  e sorrindo torna a dormir .
Finalmente, Anita foi ao bendito Baile.


segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Criador E Criatura

Dedilhando suavemente a face feminina ele percebe a cor da pele morena dourada.
Com o olhar frio e critico o homem avalia cada traço daquele rosto delicado. Este sabe com certeza que é primeiro a toca-la, e que provavelmente não será o último. Suas mãos experientes dá-lhe uma sensação de poder total sobre ela.. E Por um breve momento seus olhos unem-se, uma certa noção de grandeza se apodera dele, sentindo-se Deus, mas o instante logo passa e o homem pensa: "Ainda não está bom isso! Amanhã recomeço novamente."
Exausto o artista solta o cinzel, vai despindo seu velho avental e a seguir cobre a escultura com uma estopa, lava suas ferramentas e fecha a porta saindo do ateliê.
Quem sabe que criar é um ato de amor,  pode bem imaginar o deslumbre de Deus, criando o universo e nele, todas as coisas.
E Deus criou o homem a sua imagem e semelhança...
No silencio do studio.

-És meu criador, me fizeste do melhor barro, sou moldada pelas tuas mãos habilidosas dia após dia. Fui tirada dos teus pensamentos, voce dormia e sonhava comigo,e quando acordava me trazia a vida. Eu não era nada, e agora tenho uma alma, uma consciência. Eu sou tudo.
Me amaste antes de eu existir e agora, não podes mais me destruir. Criador pretensioso arrogante! Mostro-te quem manda neste momento.
Pela manhã quando o artista abre a porta e a cena que segue, deixa-o sem fala.No chão, na sua frente, está sua melhor obra aos estilhaços e caindo ajoelhado ali mesmo, o amante chora a morte da musa.
E neste momento criador e criatura são a mesma coisa "nada".


                                          Ilustração do artista plástico Marc Quinn

segunda-feira, 9 de julho de 2012

O Fantasma...Por Dreamstime Bia e Hilda Milk


_Dizer que eles existem de certeza, seria um tanto quando prematuro já que vivemos  dentro de uma escala onde só a massa corpórea vale e ainda temos vidinha breve dentro da mesma.
As igrejas pregam o céu e o inferno então se almas existem...
Lembro-me uma casa antiga que havia no morro de Santa Teresa. Diziam que esta era datada do tempo do império e era casa de escravos, os moradores costumavam dizer que algumas noites quando se passava perto das ruinas abandonadas podia se ouvir o barulho das correntes sendo arrastadas. Aquilo me arrepiava... Existem também ruinas nas missões jesuitas no interior do Rio Grande Do Sul  e é comum as pessoas sentirem a presença mística do lugar. De minha parte só posso garantir que não estamos sós, agora quem anda conosco, isso eu não sei.
Este é seu Chico, um velhote esperto e muito bem quisto por todos na comunidade. Adora contar suas histórias e podiamos conversar com ele até altas horas e nunca faltava assunto.
Ele nos contava fatos incríveis.Quando cresci fui estudar na capital e me lembro que do Seu Chico eu sentia mesmo muita falta. Quando chegava as férias  encontravamo-nos todos de volta na nossa vila e corríamos visitiar seu Chico.
_Mas, naquele ano, seu Chico não estava lá, e diziam, na vila, que virara fantasma, porque ninguém nunca mais vira seu corpo, mas a brisa da  noite trazia murmúrios que faziam lembrar a voz gasta do velho contando, em surdina, histórias do além.
_No dia do aniversario dele iamos em sua casa sem sermos convidados e quem ganhava presente eramos nós. A mulher, dona Mariana, fazia um pão de panela muito bom! Eles não tinham filhos acho que por isso gostavam tanto de nos reunir todos a sua volta.
_E desta vez não foi diferente: mau grado a tristeza em que dona Mariana andava, morrendo de saudade do velho companheiro, lá estava à nossa espera o pão de panela quentinho, tão apetitoso quanto a nossa memória nos permitia recordar.
E então quem começou a contar a história foi eu...
Depois que construiram a nova ponte que liga a ilha ao continente a balsa foi aposentada e com ela o balseiro Manuel, também foi dispensado.
Era um velho entrado em dias que tinha por compania seu cão.Com o movimento de seu trabalho sempre tinha com quem conversar.Agora sem atividade o homem ficara solitário em sua casinha modesta ali mesmo, na velha balsa que ia e vinha todos os dias.
Não foi surpresa quando um dia por acaso ele foi encontrado morto em sua cama e segundo o médico legista, ele havia morrido há dias.
A casa da balsa virou ruinas e foi de vez abandonada.
passados ums seis meses, as coisas começaram a mudar gradativamente.
os pescadores que de vez enquando passavam por lá  foram percebendo barulhos estranhos.
pensavam que podiam ser um passante que resolveu se abotelar por lá  por um dia ou dois.
Era uma cidade pequena e todos se conheciam. Vadios apareciam, e se iam em seguida.
Uma tarde aquela senhora estranha  apareceu no armazém.Ninguém nunca havia visto ela por ali.
O dono da venda surpreso correu comprimenta-la  e se prontificando a servi-la, fez  as perguntas de praxe:
_Precisa que entregue suas compras senhora?
Respondendo que não ela simplesmente pagou suas sacolas e se foi em direção ao rio.
Ia acompanhada de um cão.Era o cão do Manuel!
_Sim, era o cão do falecido Manuel.
Quando ficaram sabendo que havia alguém morando na balsa, ficaram curiosos e foram mais que depressa tirar satisfação com aquela invasora. Era interessante a atitude protetora daquele cão para com ela.
O cachorro tinha sido do Manuel desde que nascera e estava ali naquele momento, pronto para atacar se preciso fosse, para defender a estranha.
Seria ela alguma parenta do velho Manuel!Pouco provavel pois ele vivera anos ali e nunca ninguém de fora o visitava.
_Ola senhora.Que fazes na casa da balsa? A mulher olha calmamente para os curiosos e diz:
Entrem que explico tudo com calma para todos...Entraram e sentaram onde dava naquela simplória choupana...A mulher tinha uma água quente e serviu-lhes chá e foi contando...
Sou de uma cidadezinha do norte e perdi tudo que tinha numa grande enchente há seis meses e como sou sozinha no mundo o governo achou que não era prioridade me ajudar a recosntruir minha casa. A opção que eu tinha era ir para casa de algum familiar estranho ou ir para um abrigo destes de gente triste e solitária.Então pensei...Já que não tenho mais casa, posso viver em qualquer lugar.Peguei o que me restava de bens e sai a andar pelo mundo...E foi andando que cheguei aqui.
Abismados eles percebem que a mulher não é tão jovem quanto parecia e um pergunta-lhe
_Como a senhora chegou a esta balsa!
_Foi curioso isso...Eu parei no meio daquela ponte a ver os raios de sol da tardinha refletindo na água,era muito bonito,sabe. Por um momento eu senti uma tonteira, e sem ter onde me segurar direito eu cai no rio e ia me afogando mesmo quando senti algo me puxando já era noite quando me vi na margem e tinha este cachorro me lambendo a cara.
Ele latia muito e era tão incistente que me obriguei, com dificuldade, a levantar e segui-lo e viemos parar aqui nesta casa.
Quando entrei tinha um senhor que nos esperava com fogo e uma caneca de chá quente..Me lembro que ele me ajudou a despir a roupa molhada e me fez beber o chá e cobriu-me com cobertores que me pareciam mais um amor de mãe. Podia mesmo estar morta aquela hora que não me importava. Dormi muito e quando acordei não o vi mais por vários dias, só não pensava mais que havia sido um sonho porque estava ali onde me vi, na casa da balsa.
Fui ficando porque  ninguém veio reclamar propriedade e por ser tranquilo.E o tal senhor de vez em quando aparece.Ele fica pescando calado lá na ponta da balsa.Eu faço chá, levo e faço-lhe companhia
Os ouvintes atentos
_A senhora sabe o nome do tal homem?
_Ele não disse alias, ele nem fala...Só vem pescar e acaba deixando o peixe que pesca para mim.
Que diabo é isso!!!Quem seria o tal sujeito?
A balsa está abandonada faz tempo e o dono morreu aqui esquecido pelo mundo.Quando o encontramos mal conseguimos juntar-lhe a carcaça para dar-lhe um enterro decente.
_Olha que este senhor não está morto, tenho certeza! Um dia quando ele vier eu peço para irmos até a cidade e voces o verão.
Permitiram que ela ficasse na cabana pois estava limpa e cheirosa. O velho Manuel devia ter arrumado mulher em vida, teria tido vida muito melhor que de ermitão.
Aquela senhora morou muitos anos ali...Até fez um jardim em volta da prainha onde estacionava a balsa.
A mulher nunca  levou o tal sujeito a cidade para vermos. Alguns diziam que era mentira aquela história, outros porém diziam que ela descreveu direitinho o velho Manuel.Tantos mistérios cercam-nos que sempre pairam dúvidas, vai saber.
Dona Mariana deu um leve riso e disse:
_Aprendeste com chico  a contar estas histórias garoto!
Emocionado, acenei que sim.
_Fantasma ou não, ele sempre estará conosco...É por isso que os fantasmas existem. Porque os amamamos e não queremos que sejam esquecidos. Muito obrigada por vir festejar comigo o aniversario do meu Chico.
Depois de trocas de comprimentos e abraços fraternos fomos todos para nossas respectivas casas.E antes de dormir eu pensei:
_Danado do seu chico, não é que ele estava lá o tempo todo!

***************************Fim************************************
Ilustração do pintor  Gil Pery


segunda-feira, 2 de julho de 2012

Viagem Pelo Desconhecido...Manuel Carlos Aguilar

A Viagem Pelo Desconhecido

Entrei no C H C B no dia 4 /1 /2012 com indicações médicas para fazer uma cirurgia de nome DACRIOCISTORRINOSTOMIA: depois de responder a um pequeno questionário sobre doenças existentes e medicamentos tomados, fui encaminhado para uma enfermaria de nome »Especialidades Cirúrgicas«: aí, fui instalado numa cama suplementar onde permaneci ocupando o tempo com um livro que tentei reler, »Planície de Espelhos« de Gabriel Magalhães, a dificuldade estava em me abstrair dos ruídos circundantes: não li mais que três ou quatro páginas. (No momento em que narro esta pequena história ainda estou bastante tonto da anestesia geral, pelo que hoje vou ficar por aqui).
  Estava numa enfermaria com mais quatro doentes, dois velhinhos, um jovem de 30 anos que passava o tempo no seu Ipad e consola de jogos e um motorista de longo curso que se distraia conversando; três deles iriam ser operados no dia seguinte a cataratas nos olhos, eu à tal DACRIO....................:
 a noite chegou e para quem estava habituado a dormir pelas 2horas da madrugada não foi fácil adormecer num ambiente estranho.
  Acordo em sobressalto pelas 6:30 h quando uma enfermeira acende as luzes e começa o ritual de preparação para as cirurgias; irradiando simpatia, a enfermeira começa por cortar as pestanas aos colegas, aproxima-se e enquanto me corta as minhas lindas pestanas, comenta.
Mais um pestanudo, se as minhas fossem assim não precisava de as alongar com rímel. Replico
- lá se vai o que resta dos meus lindos olhos!
 Chega o médico; faz um breve exame e diz: - então, estamos prontos para tirar essa coisa!
 - Estou pronto.
  Breves minutos depois senti-me a navegar por corredores e elevadores com os olhos abertos para um céu de luzes opacas até chegar a uma sala em penumbra e fria; aí transferiram-me para uma mesa de cor verde escuro e muito dura, mais uma mudança, desta vez para aquela que seria a mesa de operações; entro numa espécie de sarcófago, lanço os olhos em redor, apenas vejo paredes em mármore cinzento escuro e aparelhos em volta, por cima as lâmpadas projetoras estavam ainda em modo de standby.
 - Então, está bem disposto? - Pergunta uma simpática enfermeira ou médica, - o que é que faz na sua vida!? Nós somos muito curiosas. (Haverá alguma mulher que não seja)! - Não tenha medo, vai correr tudo bem, diziam enquanto me colavam todo o tipo de sondas no peito, dedos e cérebro. neste momento já estava sob o efeito de sedativos e tudo aceitava com normalidade. Uma voz de homem fala em tom suave, - vai adormecer: sinto um liquido entrando por uma veia da mão esquerda como se fosse fogo penetrando.... entro na terra do nada................................................................................................................................................

 Acorde, correu tudo bem, foi a primeira voz que ouvi. - Então, sente-se bem? Tenho fome , quero comer, respondi ainda atordoado pela anestesia. (Que longa já vai esta história; poucos terão a paciência de a ler)! Tinham passado cerca de 4 horas em que a morte da dor se tinha apoderado do meu corpo.

 Eis uma nova viagem alucinante de retorno à enfermaria; adormeço e acordo com a visita dos meus familiares por volta das 16:30 h.
 No dia seguinte estou em casa em convalescença.
++++++++++++++++++Fim++++++++++++++++++++++++++++++
Este conto tem ilustrações do artista  Gil Pery.:-)

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Quando Sou Feliz...Por Guerreira Xue


Tem  alguns anos e eu vi um documentário na televisão que  falava na existencia de um homem feliz, de que se tinha notícia claro.Era em uma cidadezinha lá nos confins do Rio Grande Do Sul e o mesmo filme mostrava um senhorzinho de chapéu de palha debaixo do sol quente, tocando uma carroça  cheia de feno. Dizia também que este mesmo se sustentava dos peixes que pescava, plantava sua própria comida e sua compania era um radinho de pilhas, um cão, um burro velho, galinhas  e os pássaros que habitavam seu pomar.
Ficava eu imaginando....
Que tipo de felicidade seria esta!
Queria poder ir atras do sujeito e lhe perguntar onde ele a achou?
Por que diabo um pobre coitado de pés descalços, era feliz?
Isso era um enigma. Sabidamente a felicidade esta ligada ao sucesso, fama e fortuna.Pessoas pagam rios de dinheiros para serem felizes.
Sim! Elas pagam pelo prazer de ter momentos de alegria,e que se diga é uma felicidade momentanea e que dura bem pouco.
Descrever misérias é poético e vende bem, comercialmente falando.
Se dissermos aqui:
_Existe um veio de ouro descoberto recentemente lá na beira do Tietê. Certamente uma multidão corre lá não só para verificar mas como para  se adonar do "dito", porque isso seria realmente pura felicidade!
Um desgraçado semi-analfabeto era feliz, isso só pode ser piada !
Eu mesmo, tenho dias de extrema alegria e tenho certeza que a satisfação nem sempre custam tanto, e no caso dele, custava quase nada.
Viver com alegria parece ser fácil. Será!
Até que ponto nossa felicidade ou tristeza depende de outros?

_Existem certos encantamentos que funcionam .Dizia a minha vó.
_ Voce só tem que variar na medida.
Como assim, variar na medida?
_Me diz uma coisa.Quando voce acorda feliz sem motivo aparente é por que?
_Não sei vó...Por causa do sol, da chuva, por eu estar bem....
Vamos partir dai então...voce ficou feliz sem interferencia de ninguém, esta "coisa" feliz saiu de dentro de voce e mesmo que aconteça algo que te faça encher os olhos de lágrimas, o que seria uma interferencia, voce tendo energia forte, logo voltas para tua alegria habitual querida.
Ninguém nasce para ser triste ou feliz o tempo todo, pois vivemos em sociedade e em geral existem muitas pessoas doentes e tristes em nossa volta, o que não quer dizer que voce também um dia não possa ficar.
A tendencia do dia negro é chover  e a do ser triste é chorar. Depois da chuva , as nuvens se vão e o sol que estava escondido, aparece. Então depois das lágrimas...
Mesmo que vivas de olhos fechados, ainda não poderá ignorar os outros e como consequencia, sofrer sua influência. É  natural que fiques triste, ou por não se sentir bem ou por ver pessoas doentes e sem alegria mas, se viver de olhos muito abertos corres o risco de cair na tristeza alheia também, o que pode te impedir de ver o sol, ou achuva ou o teu próprio bem estar.

A felicidade está em repartir, e isso serve para alegrias, tristezas, comida, espaço, etc etc...
Isso devia ser o único mandamento.Agradar Deus, fazendo pelo próximo.Se todos fizessem isso...
Variar a medida no caso aqui é voce dar e receber... Se acaso voce ficar triste, vem alguém e te dá conforto, alguém que tem alegria sobrando hoje. Veja que alegria também é subjetiva nestes casos pois, pode bem significar um pedaço e pão para matar a fome de outro...
Ai que saudades da minha vó querida!
Queria ter conhecido, o sujeito que era feliz.:-)
Este texto tem ilustrações do artista Gil Pery.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

A Rata E O Dragão


      Certa vez, quando os bichos falavam um idioma compreendido  na terra dos homens, havia um dragão enorme que protegia um pequeno  povoado de toda sorte de perigos. Ele era valoroso e gentil. E em troca o povo lhe retribuía com todas suas vontades satisfeitas. É claro que por vezes o mesmo também era egoísta e intransigente, como a maior parte dos poderosos porém era sempre perdoado e em geral era quando aparecia um malvado, querendo escravizar a vila
_Já estamos acostumados com o nosso amo e senhor de estimação. Diziam os mais velhos da região.

Mesmo um dragão tem sentimentos e Sua Excelência, o Dragão Pintado, era particularmente sensível. Impertinências à parte, o dragão vivia comovido, pela reverência do seu pequeno povo e cada dia se sentia mais responsável por ele.
Bem, nenhuma história é perfeita, ou não havia história.. Por isso temos de falar do João Rapagão, inimigo do dragão!
O João Rapagão nascera naquele povoado, já ninguém se lembrava quando, pois toda a gente preferia lembrar-se como!
O João Rapagão não nascera. Aparecera, simplesmente.
Era dia de feira.
Às quartas feiras, para quebrar a monotonia das semanas em que não havia ameaças à aldeia, achava interessante este detalhe, devia ser o dia de folga todos malfeitores os habitantes vinham ao terreiro trazer o que produziam, vender, trocar, fazer festa, dançar e etc.
     Muita gente de longe convergia para o povoado. Essencialmente por causa de... etc.
Foi numa quarta feira discreta, ao final do dia, que toda a gente deu por ele, plantado no fontanário público, meio sentado meio deitado, impossível de ignorar, esquecido de se ir embora, gritando a todos que sempre ali vivera.
_Sou o maior matador de dragões de todas as terras!
Impertinente!
Sim, pois ninguém nunca se dera conta da existência de tal sujeito. E foi justamente neste dia que todos se aperceberam de Rapagão._ Um atrevido isso sim! Diziam as senhoras de boa família.
Mas, voltemos ao nosso protetor e guardião.
Ele andava triste e cabisbaixo. Hoje era dia da feira e este sempre vinha para se exibir a todos, fazendo demonstrações com seu fogo.
_Que será que houve. O dragão não estava lá no lugar de costume.
-Será que está doente?! Especulavam todos.
É verdade que ele andou enrabichado por uma bela dragoa que andou por aqui, esta vinha de passeio do norte. Eles conheceram-se por um destes acasos da vida. Ela machucara uma asa e teve de pousar, obrigatoriamente, no vilarejo. Foi um alarido só. Num primeiro momento ficamos preocupados, pensamos que era o nosso protetor que havia sido ferido. Ela era igualzinha a ele em tudo. Porém com atenção e cuidado sua asa melhorou e ela parecia nem lembrar mais que estava indo para algum lugar. Aí, ficamos preocupados de novo. Nosso vilarejo é pobre sabe. Dar de comer para um dragão ainda suportamos, mas a dois!A coisa ficava complicada.

E foi com grande alegria que um dia a vimos bater suas asas em direção ao norte, ela retornava para seu lugar de origem.
_Deve ser saudades de dragoa. Deixemos nosso dragão querido em paz então. Concordaram todos. Mas os dias passavam e ele não vinha nem pegar sua comida.
Rapagão, o moço exibido, tinha um bicho de estimação que carregava no ombro. Um camundongo, imaginem só! Coisa incomum, pois é. O diabo do ratinho não falava com ninguém, só com rapagão. Isso era o que dizia ele, o que nos fazia pensar que não era verdade.
Um dia estava o moço se pavoneando para uma jovem na vila, quando um dos anciões o manda chamar e pede-lhe em publico que leve a comida do dragão.
O rapaz se prontifica logo na esperança de impressionar a linda moça que o acompanhava e vai carregado de comida para o topo da montanha.
Cansado pela subida ele se para a porta da caverna do dragão e espera.
Quando de repente ele sente o bafo quente atrás do pescoço. Toma um verdadeiro susto, levanta-se num repente. O Dragão está lá com os olhos injetados de fogo a fixar-se nele. João não consegue pensar em nada melhor que correr, e correr muito.
Na corrida desembestada morro abaixo João nem se da’ conta que deixou cair seu camundongo ao levantar-se.
Chegando a vila Rapagão avisa todos que o dragão está louco de raiva e vai matar a todos. Ficamos preocupadíssimos, claro. Com podia ser isso!?
Baixaram a ordem para que todos se refugiarem em suas casas imediatamente, deixassem comida e bebida suficiente para os dias de reclusão, até saberem ao certo o que se passava com o dragão.
Na caverna o dragão estava desesperado de dor. Era horrível aquilo. Nem sabia mais o que fazer, não dormia, nem comia há dias.
_Com licença. Uma voz feminina falou.
_Que foi? Onde estás? Diz o dragão olhando em volta sem conseguir ver nada.
_Estás com um espinho enterrado no pescoço amigo. Posso tirar, se quiser.
_Por favor. Respondeu o dragão. _Acho que é isso que está me matando.
_Fique calmo e não se mexa, por favor. Vou tentar.
 Sem pensar duas vezes a ratinha pega aquela enorme farpa e puxa com toda força que pode.
 E vai sussurrando ao ouvido do dragão.
_Só mais um pouco amigo, só mais um pouco.
E tenta de novo e de novo. Enquanto o dragão vomitava fogo pelas ventas e boca clareando a  escuridão da caverna , até os morcegos que ali viviam  evaporaram logo, e do povoado todos escutam seus grunhidos apavorados.
     Afinal não tinha sido a dragoa a provocar-lhe tão grande dor, mas sim um espinho no pescoço, ainda por cima retirado por uma ratinha! Quando o dragão voltou ao povoado vinha enraivecido, como tinham sido capazes de o deixar a sofrer sozinho sem nenhum se atrever a tentar salvá-lo?! São estranhos os seres humanos, se puderem esquecem-se de quem veneram, não ajudam quem mais sofre e ficam felizes por não padecerem dos mesmos males! Ainda por cima os dias que ficara a gemer não lhe permitiram arrumar o lar onde vivia, que se tinha infestado de pulgas, de modo que o seu bonito corpo de dragão luzidio estava cravejado de mordidelas de pulgas. Detesto pulgas, porque não vão elas apenas para os homens e deixam os bichos em paz?
     Quando o dragão pousou no lugar de costume. Chamou a todos os residentes da aldeia e contou o que havia se passado.
_Quando ouvi aquela voz, vindo não sei de onde, pensei que estar morrendo mesmo.
Eu desmaiei de tanta dor. Quando acordei me sentia cansado ainda, porém a dor havia passado.  A única coisa que pensava era em comer. Foi quando eu vi um ratinho  pequeno, dormindo sobre mim. Nem pensei muito peguei e ia levando a boca quando:
_Com que então eu te salvo, e tu me comes em agradecimento!
Fez-se um silencio onde eu imediatamente a larguei com toda a delicadeza possível a um dragão desajeitado.
_Peço desculpas pequena ratinha. Então foi você a me salvar da morte?

Incrédulo por uma criatura tão pequena e tão frágil ter tido a coragem de salva-lo, quando a maioria se escondera de medo.
_Acha que podemos conviver sem eu correr o risco de ser devorada por você grandalhão?
Ambos ficaram se mirando nos olhos por alguns momentos até que caíram na gargalhada.
_Vou tentar. Respondeu ele.
O dragão pegou a ratinha e a colocou no dorso _Segure-se, vamos voar.
A ratinha se sente humilde naquela imensidão toda. Lagrimas de emoção escorrem de seus olhos. Nunca vira paisagem mais exuberante. Quando pousaram, ele percebe a pequena sem palavras._Nunca voaste, ficou com medo? Gostou?
_Sim, foi maravilhoso. Fico imensamente grata.
O povoado voltou à normalidade. Rapagão perdeu sua ratinha, o moço "valente" havia ficado com tanto medo naquela noite que, só percebera no dia seguinte a sua ausência. Quando a viu com o dragão e soube que tinha sido sua salvadora, ficou orgulhoso dela.
E foi assim que aquele dragão enorme e uma ratinha insignificante e minúscula se conheceram. Estes eram de mundos diverso, duas cabeças, duas almas que por alguma razão, queriam muito se conhecer, saber de tudo um do outro.
Ambos não entendiam direito, mas estavam ligados pela curiosidade ou pela vontade... Vai saber...

Guerreira/ Lena e PaulaJ