Paulo Paulada
Sabem um sujeito chato, arrogante e metido a besta? Pois é, este era Paulo e nem me pergunte seu sobrenome por que só o chamávamos Paulo Paulada.
O cretino era era um "pé no saco" mesmo. E o pior é que nunca nos livrávamos dele.
Era nosso vizinho, isso deve explicar o motivo de não haver como ignora-lo.
Certa vez cogitamos até mesmo a possibilidade de nos mudar, só para não ter que toparmos com ele na escola ou no shooping ou no cinema enfim...
O paulo era uma "paulada".
Tudo que nós faziamos era só com o intuito de nos divertir e o Paulo era sério até na diversão.
Nossas mães eram simples donas de casa, já a do Paulo uma renomada cientista especializada em biologia marinha.
Nossos pais eram funcionários publicos ,o do Paulo um diplomata internacional ou seja...
Isso era tremenda deslealdade para conosco, simples mortais.
Dizer que nossa irritação com o sujeitinho podia ser pura inveja de nossa parte era exagero... Bem...
Talvez um pouco sim, admito, mas que ele era emproado demais isso ele era.
Espere, deixe explicar por que me refiro sempre a "nós".
Eramos seis inseparáveis,com a mesma idade, morávamos na mesma rua e estudavamos na mesma escola.
Somente o Paulo era de fora, chegara ao bairro quando já tinha tres anos de idade.
O bairro era estranho, não aceitava qualquer um, nem mesmo uma criança. Todos os fins de semana havia foguetes, que o vizinho da casa cinzenta, que ganhara dinheiro a mais em Portugal, resolvia atirar para encher o céu de cores.
A dona Estefânia, enlouqecida por ter sido abandonada pelo marido e pelos filhos, atravessava nua a praça todas as madugadas,
a chamar pelo António.
A Felismina, com os socos de madeira a baterem na calçada, acordava toda a gente quando ia deixar a saca do pão pesa na maçaneta da porta. O marido dela costumava ser o último a deitar-se, podre de bebado, a cantar o operário em construção às seis da manhã, era um intelectual e por isso todos o respeitavam. A meio da manhã passava a peixeira, a apregoar a frescura do peixe, com os peitos escandalosamente expostos e o buço a brilhar ao sol. O Paulo tinha um fraquinho por ela, por isso sempre que podia escapulia-se para a esplanada para a ver passar. Era assim desde miúdo e como todos o gozávamos ele amuava constantemente, até se tornar impossível dirigir-lhe a palavra.
Claro que as coisas foram evoluindo, crescemos todos e, a chatisse do Paulo também. Porém aconteceram coisas que foram aos poucos nos fazendo perceber o garoto solitário que simplesmente queria ser aceito pelos demais como um igual.
Paulo paulada era filho único e seus pais viviam tão ocupados com seus trabalhos que o largavam em casa aos cuidados de uma governanta.
Acho que se contar direitinho o tempo, não chegavam a ficar juntos, os três, dois messes em um ano.
Paulo convivia mais conosco mesmo.
Se iamos as férias, em geral era para acampamentos, se iamos para a casa de verão da vovó.eu levava o "praguedo" todo comigo.
Quando na casa de outro era igual. Se os pais de paulada vinham para casa nas ferias, eles viajavam para longe.
Só Rosa não tinha casa de verão. Porém sua mãe organizava finais de semana com pic-nics no parque.
A vantagem de morar em cidade pequena é que todo mundo se conhece asssim qualquer um podia "olhar" a garotada.
Aiiii a Rosinha! Esta é minha prima.
Haviam duas meninas em nosso grupo.Uma era Rosa a outra era a Lucia, irmã caçula do
Valter.
Voltemos ao assunto em questão agora.O Paulo.
Era um sábado de chuva estavamos na casa de Toni jogando videogame, a mãe dele vem com uma bandeija enorme de bolo de fubá quetinho
e umas canecas enormes de leite. Pareciamos uns mortos de fome ,sempre.
O engraçado e´não esquecermos o prazer que sentiamos em tudo,era muito bom aquilo. E bem no meio daquela comilança toda, ela entra na sala. Quando eu a vi,quase me engasguei.
Era a menina mais linda do mundo!
Todos nos apresentamos desajeitadamente,a boca ainda cheia de bolo porém, não deixei de notar que o Paulo estava mais composto que os demais e com toda a serenidade do mundo se dirigiu a ela com simpatia e elegância.
Por um instante tive a sensação que o Paulada cresceu ali diante de nós. Ele era um adulto e nós ,crianças bobas.
Toni era o dono da casa e por isso fez aquela cara de quem estava em vantagem sobre todos os demais.
Nos apresentou a todos sua prima recem-chegada do Brasil.
A minha surpresa foi tanta que balbucei meu nome feito um retardado mental.
Niguém se riu de mim porque todos estavam sob o mesmo impacto.
Quando me lembro do vermelho que tingiu minhas faces me rio agora.
Na seguda -feira na escola estavamos todos eufóricos,queriamos saber mais da brasileira.
Toni disse que ela veio para ficar um ano.Que seus pais queriam que ela fizesse cursos preparatórios enquanto estivesse com seus tios.
Marina,seu nome era Marina.Todos os dias inventavamos uma desculpa para irmos a casa de Toni.
Percebemos que no entanto que o Paulo não nos acompanhava nestas escursões extraordinárias. Ela tinha cursos na segunda ,quarta e sexta.
Demorou um pouco para compreendermos que o Paulada que também fazia cursos, e os tinha coicidentemente com ela!
O desgraçado estava namorando com ela bem de baixo de nossas fuças. Que raiva!?
Nos sentimos traidos afinal... Eramos amigos dele...Bem, talvez implicássemos um pouco com o garoto porém ,não era para tanto, praticamente nos ignorar por causa de uma lambisgoia!
Tinhamos que tomar uma atitude.E tomamos.
Fomos até a casa dele tirar-lhe uma satisfação.
Ele estava em curso. Guardamos nossa raiva misturada com mágoa para o momento apropriado.
Dois dias depois ele nos convida a todos para a sua casa,numa tarde de refresco e música.
Pensamos em não ir só por vingança mas, percebemos que a turma toda havia sido convidada e se não fossemos, iamos fazer papel de idiotas novamente.
O Paulo estava se despedindo de todos. Ficamos tão atonitos com a revelação que quase choramos.
Estavamos de mal dele e agora...A coisa não tinha a menor importancia, nem queriamos saber de ele ir embora.
Demorou para entendermos que não era por causa de Marina que ele se afastara da turma e sim por causa da mudança.
Paulo já sabia que ia mudar-se há tempos. Estava triste e não quis contar-nos.
Prometemos escrever-lhe sempre.
Estamos adultos hoje e cada um de nós seguiu um rumo na vida.
O Paulada na verdade se chama Paulo de Oliveira Junior.
Aprendemos o seu nome ao lhe escrever cartas e ainda hoje, graças a tecnologia,pelo menos uma vez por ano nos falamos em conferencia.E de tempos em tempos nos encontramos todos.
A amizade é um bem precioso.
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Este foi escrito por Hilda em partilha com Paulaj.:)
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