quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Um Natal Estapafúrdio Como Todos Os Outros...Por Paula Justiça


Um Natal Estapafúrdio Como Todos Os Outros
Era uma vez uma família super, mas super mesmo, estapafúrdia. Nestas famílias tudo o que acontece é estapafúrdio, até o Natal. Desta vez os miúdos pensaram que ia ser menos estapafúrdio do que o normal, pois os avós paternos, que moravam do outro lado do país, resolveram vir visitar o filho mais novo, a ovelha ranhosa da família. Mas não se proporcionou que tudo decorresse normalmente, aliás, tudo se passava, como sempre, ao contrário do que devia passar-se.
Primeiro foi a mãe que resolveu pintar o cabelo de azul, o filho mais velho achou que tinha chegado a altura de experimentar os piercings e cobriu as sobrancelhas com eles, enquanto as mais novas, as gémeas, se lembraram de rapar o cabelo no primeiro dia de férias, precisamente quando ninguém estava em casa. O pai, que tanto receava a visita dos familiares, evitou fazer o que lhe vinha à cabeça antes deles chegarem, precisamente por saber que só lhe vinham à cabeça ideias estapafúrdias. Mas logo que os pais chegaram, não se conseguiu conter, e foi rapar os pêlos do corpo todo, só deixou o cabelo!
Os pais nunca tinham esperado nada dele nem destes filhos, pois pensavam que tinha herdado a panca da bisavó, que andava nua pela aldeia enquanto todos os outros dormiam, o médico dizia que ela sonâmbula, só que os vizinhos pensavam que ela bruxa, por isso pegaram fogo à casa na noite de Natal, não morreu ninguém, nem os gatos, mas a partir dessa data mais nenhum Natal foi como o das outras pessoas. Ele não andava nu na rua, só em casa, principalmente em frente à mãe dos seus filhos, uma mulher que adulava e que era o sentido da sua vida.
Neste Natal, depois de se depilar, e de dizer aos pais que essa era a prenda que se tinha dado a si próprio, declarou que tinha descoberto que ele próprio era Deus, por isso essa história do menino Jesus e das palhinhas era tudo uma aldrabice. A insistência em tal disparate fez a mãe lacrimejar e o pai sussurroul, Porque raio havia de ter um filho doido? Foi nesse mesmo instante que o pai Natal caiu da chaminé e se virou pala ele: chamaste-me? Precisas de ajuda? Ninguém te compreende? Posso dá-te de prenda de Natal um tradutor, daqueles que se usam no Second Life, mas para compreender emoções e sentimentos.
Não, dá isso aos meus pais, por favor. O avô dos miúdos, atarantado, perguntou de onde tinha vindo aquele pai Natal, que nem o tinha visto entrar. Veio da chaminé, confirmou a mãe, de onde queria que viesse? Sim, eu também vi, acrescentou a avó, ele saiu do meio das chamas. Mas isto está tudo louco ou quê? Perguntou o avô, já sem achar piada nenhuma à brincadeira. O pai Natal deu-lhe o tradutor e a partir daí não falou mais, estupefacto com aquilo que as pessoas à volta dele sentiam!
Foi assim que os avós do Sul se mudaram para o Norte, que a família estapafúrdia se rendeu ao vegetarianismo, que se deixou de comer peru no dia de Natal, só roupa velha, mas sem bacalhau, porque até os bacalhaus têm emoções e sentimentos!
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Um comentário:

  1. Estapafúrdia é eufemismo! :))) Eu diria que esta família é delirante, alucinada, e que só não foi parar ao Júlio de Matos, ou ao Miguel Bombarda, porque aparentemente já não recebem 'fregueses'. (Talvez haja vagas no Conde de Ferreira?)
    Convertida em argumento televisivo, esta história poderia ser uma versão portuguesa da série "Shameless".
    :DDD

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