quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Pequeno Herói

Eu queria ser policial desde menino para ajudar as pessoas e ser exemplo para as crianças. Queria que meu pai se orgulhasse de mim também. Confesso que tem sido bem difícil esta tarefa...Depois de dois anos, se o sujeito não tem Deus no coração, fica perdido no meio de tanta violencia droga e desolação. É como se o mundo estivesse em plena guerra, numa decomposição total da humanidade. Por vezes eu me pergunto ainda. Por que?
Uma vez fui fazer uma ocorrencia numa favela para os lados da zona Leste.Chegando lá, o "cara" cheio de crack na cabeça  espancava a mulher grávida de oito meses, como se ela fosse a escória do mundo e fazia isso na frente dos outros tres filhos. Aí eu não me aguentei, sabe. Peguei o sujeito pelas orelhas e tirei para a rua. Não me lembrava de ter ficado tão possesso antes em toda a minha vida. Os vizinhos logo vieram para cima de mim dizendo que eu estava sendo covarde, batendo num drogado que nem tinha como se defender.
Dirigi meu olhar para  a multidão que rapidamente se juntava ali e respondi em seguida:
-E o maldito pode bater na mulher grávida, dar exemplo de crueldade a seus filhos, porque isso não é covardia? Todos ficaram calados e eu tive tempo de me recompor...
Um colega mais antigo disse-me certa vez que para o bom exercício do ofício, temos que ser imparciais. Pois como policiais não temos que tirar partido e sim fazer cumprir a lei.
Tantos colegas de farda já enlouqueceram nesta vida de policia.
Um dia um superior nosso foi para a frente das cameras em rede nacional e disse que a corporação está cheia de falhas e corrupção. Eu pensei logo, todos querem ser mocinhos e posar de heróis, não é verdade?

Quero ver sair para as ruas com carros sucateados, arriscando levar um tiro por não ter coletes adequados e o prejuizo que causarmos, mesmo que seja em serviço, é descontado de nossos salários.
Agora, dentro da corporação percebo que nossos direitos são mínimos e a lei, está do lado do bandido sempre. O mesmo sujeito "superior" que podia dizer que o sistema é falho e que os homens que estão designados para proteção e ordem do cidadaõ, são sozinhos nesta parada e sem condições de eficácia.
Pensava que ser militar me faria especial e no entanto, precebo agora que tenho que ter cautela em dizer meu endereço de residencia, ser discreto quanto a minha familia e o que devia ser motivo de grande orgulho pessoal, virou uma paranóia coletiva.Aos poucos estou mudando...O garoto que fui, cheio de certezas e conceitos está desaparecendo dentro de mim. Tento me segurar, para não chorar, afinal isso não é coisa de homem e eu sou um homem.Que boa porcaria!
Em minhas últimas considerações sobre este assunto eu digo que imparcialidade não existe quando se trata de humanos, pois tudo tem uma razão de ser, e não importa que carreira vamos seguir, mudar o mundo é uma questão de tempo, união e vontade. E sozinho também podemos semear qualquer coisinha aqui ou alí..Só depende de cada um....Ajudar o próximo faz bem a nós mesmos e nos faz pensar que somos úteis e afinal teriamos algum propósito.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Anita Foi Ao Baile.

Numa noite de sábado Anita resolveu ir ao baile, e ao sair de casa disse a mãe; _ Hoje arrumo um homem para mim, e por favor não me esperem acordados.Os pais se olharam calados, a filha devia mesmo arrumar alguém pois era tão boa moça, ótima filha e prendada e bonita também. _Porque não! E Anita realmente não voltou aquela noite e nem no dia seguinte...
Já era domingo de noitinha, os pais da moça aflitos e cansados ligar em seu celular, foram até a delegacia mais próxima, denunciar seu desaparecimento. Depois do relato o celular da mãe toca e uma voz estranha do outro lado diz:_Anita está hospitalizada, pois sofreu um acidente e foi socorrida por um caminhoneiro, que a trouxe para cá ontem a noite por volta das 22h.
Afinal então...Anita nem chegou ir ao tal baile.
A moça andava triste e com baixa auto estima. Achar um homem não era tarefa fácil e depois de todo o tempo que teria que ficar imobilizada, por conta das escoriações e costelas quebradas. Seu desanimo era evidente.Sua mãe a consolava dizendo amorosamente: _Aguarda e confia filha, a vida sempre reserva surpresas. _Qual o que mãe! Olha para a mim aqui toda estropiada. E eu não morri por pura sorte.
_Vira essa boca para lá menina! Ralhava a mãe, que estava preocupada com seu estado mocional.Então de pronto disse-lhe: _Quando voce puder levantar, te levo pessoalmente até a porta daquele baile idiota, está bem assim para voce?
Anita olhou incrédula para a mãe por alguns instantes e a seguir explodiu numa risada. _Sabia que voce é melhor mãe do mundo!
_Claro que sabia.E depois de beijar a filha, saiu do quarto fechando a porta. _Tenho que dar um jeito nisso. Ela ficou a matutar...
A noite ao deitar a mãe diz ao marido:
_Ela está beirando aos trinta, é bonita inteligente e sociável.
_E daí...Acha que só as feias e burras não arrumam marido? Percebendo a seriedade da esposa, ele pondera...
_Olha querida, pensa pelo lado bom da situação. Ela é totalmente livre, mora conosco, não tem preocupação com casa, contas, pode viajar quando dá vontade.
_Sim meu bem porém, ser livre consiste em escolhas e ela quer um homem agora.
_Já imaginou nós dizendo isso a nossos pais quarenta anos atrás? Parecemos tão velhos e ultrapassados agora.
_Os tempos mudaram, é verdade mas ainda continuamos os mesmos, com algum entendimento a mais , eu espero.
Anita tem tudo que uma mulher moderna tem...disse o pai.
_Mas não tem mesmo! Retrucou a mãe. _Nós dois, quando tinhamos a idade dela, eramos pais já. E os bens materiais fomos adquirindo com o tempo, enquanto os criávamos.
_O que voce sugere então.Respondeu ele sem paciencia já.
_Sei lá, só estava trocando ideia com voce. Deixe estar...Boa noite.
Isabel e Gusmão estavam casados há tanto tempo que por vezes nem se notavam mais...E ter assunto era sempre uma tentativa de aproximação da parte dela. É estranho como com o passar dos anos as palavras somem, e quando aparecem causam alguns inconvenientes naquilo que parece tão harmonioso e entediante.
Agora Isabel queria ajudar a filha._Talvez  Anita consiga o que não consegui.
Com assistencia de enfermeiro em casa, Anita se recuperou logo. E foi com grande animação que retomou suas atividades corriqueiras. Era estranho afirmar mas, parece que depois do acidente e todo o tempo acamada ela parecia uma outra pessoa agora.
Os colegas vieram visita-la, amigos que há muito não via apareceram, recebia flores com votos de pronto restabelecimentos.Tinha boas conversas com o fisioterapeuta...
Quando chegou o sábado, como havia prometido, Isabel levou a filha até a porta do baile.
Ela parecia uma garotinha de tão nervosa...
_Relaxe e se diverte filha, a vida não deve ser levada a ferro e fogo. Venho te buscar as tres horas e se tiver muito chato voce liga, que venho antes ok.
Acenando que sim  Anita sobe as escadarias do clube, devagar...
 De madrugada o telefone toca: _Mãe não precisa me buscar, descanse que encontrei amigos e eles me deixam em casa, pois fica no caminho...
_Correu tudo bem filha?
_Sim, foi bem divertido...Dorme que nos falamos de manhã, beijo.
Isabel vira para o canto  e sorrindo torna a dormir .
Finalmente, Anita foi ao bendito Baile.


segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Criador E Criatura

Dedilhando suavemente a face feminina ele percebe a cor da pele morena dourada.
Com o olhar frio e critico o homem avalia cada traço daquele rosto delicado. Este sabe com certeza que é primeiro a toca-la, e que provavelmente não será o último. Suas mãos experientes dá-lhe uma sensação de poder total sobre ela.. E Por um breve momento seus olhos unem-se, uma certa noção de grandeza se apodera dele, sentindo-se Deus, mas o instante logo passa e o homem pensa: "Ainda não está bom isso! Amanhã recomeço novamente."
Exausto o artista solta o cinzel, vai despindo seu velho avental e a seguir cobre a escultura com uma estopa, lava suas ferramentas e fecha a porta saindo do ateliê.
Quem sabe que criar é um ato de amor,  pode bem imaginar o deslumbre de Deus, criando o universo e nele, todas as coisas.
E Deus criou o homem a sua imagem e semelhança...
No silencio do studio.

-És meu criador, me fizeste do melhor barro, sou moldada pelas tuas mãos habilidosas dia após dia. Fui tirada dos teus pensamentos, voce dormia e sonhava comigo,e quando acordava me trazia a vida. Eu não era nada, e agora tenho uma alma, uma consciência. Eu sou tudo.
Me amaste antes de eu existir e agora, não podes mais me destruir. Criador pretensioso arrogante! Mostro-te quem manda neste momento.
Pela manhã quando o artista abre a porta e a cena que segue, deixa-o sem fala.No chão, na sua frente, está sua melhor obra aos estilhaços e caindo ajoelhado ali mesmo, o amante chora a morte da musa.
E neste momento criador e criatura são a mesma coisa "nada".


                                          Ilustração do artista plástico Marc Quinn

segunda-feira, 9 de julho de 2012

O Fantasma...Por Dreamstime Bia e Hilda Milk


_Dizer que eles existem de certeza, seria um tanto quando prematuro já que vivemos  dentro de uma escala onde só a massa corpórea vale e ainda temos vidinha breve dentro da mesma.
As igrejas pregam o céu e o inferno então se almas existem...
Lembro-me uma casa antiga que havia no morro de Santa Teresa. Diziam que esta era datada do tempo do império e era casa de escravos, os moradores costumavam dizer que algumas noites quando se passava perto das ruinas abandonadas podia se ouvir o barulho das correntes sendo arrastadas. Aquilo me arrepiava... Existem também ruinas nas missões jesuitas no interior do Rio Grande Do Sul  e é comum as pessoas sentirem a presença mística do lugar. De minha parte só posso garantir que não estamos sós, agora quem anda conosco, isso eu não sei.
Este é seu Chico, um velhote esperto e muito bem quisto por todos na comunidade. Adora contar suas histórias e podiamos conversar com ele até altas horas e nunca faltava assunto.
Ele nos contava fatos incríveis.Quando cresci fui estudar na capital e me lembro que do Seu Chico eu sentia mesmo muita falta. Quando chegava as férias  encontravamo-nos todos de volta na nossa vila e corríamos visitiar seu Chico.
_Mas, naquele ano, seu Chico não estava lá, e diziam, na vila, que virara fantasma, porque ninguém nunca mais vira seu corpo, mas a brisa da  noite trazia murmúrios que faziam lembrar a voz gasta do velho contando, em surdina, histórias do além.
_No dia do aniversario dele iamos em sua casa sem sermos convidados e quem ganhava presente eramos nós. A mulher, dona Mariana, fazia um pão de panela muito bom! Eles não tinham filhos acho que por isso gostavam tanto de nos reunir todos a sua volta.
_E desta vez não foi diferente: mau grado a tristeza em que dona Mariana andava, morrendo de saudade do velho companheiro, lá estava à nossa espera o pão de panela quentinho, tão apetitoso quanto a nossa memória nos permitia recordar.
E então quem começou a contar a história foi eu...
Depois que construiram a nova ponte que liga a ilha ao continente a balsa foi aposentada e com ela o balseiro Manuel, também foi dispensado.
Era um velho entrado em dias que tinha por compania seu cão.Com o movimento de seu trabalho sempre tinha com quem conversar.Agora sem atividade o homem ficara solitário em sua casinha modesta ali mesmo, na velha balsa que ia e vinha todos os dias.
Não foi surpresa quando um dia por acaso ele foi encontrado morto em sua cama e segundo o médico legista, ele havia morrido há dias.
A casa da balsa virou ruinas e foi de vez abandonada.
passados ums seis meses, as coisas começaram a mudar gradativamente.
os pescadores que de vez enquando passavam por lá  foram percebendo barulhos estranhos.
pensavam que podiam ser um passante que resolveu se abotelar por lá  por um dia ou dois.
Era uma cidade pequena e todos se conheciam. Vadios apareciam, e se iam em seguida.
Uma tarde aquela senhora estranha  apareceu no armazém.Ninguém nunca havia visto ela por ali.
O dono da venda surpreso correu comprimenta-la  e se prontificando a servi-la, fez  as perguntas de praxe:
_Precisa que entregue suas compras senhora?
Respondendo que não ela simplesmente pagou suas sacolas e se foi em direção ao rio.
Ia acompanhada de um cão.Era o cão do Manuel!
_Sim, era o cão do falecido Manuel.
Quando ficaram sabendo que havia alguém morando na balsa, ficaram curiosos e foram mais que depressa tirar satisfação com aquela invasora. Era interessante a atitude protetora daquele cão para com ela.
O cachorro tinha sido do Manuel desde que nascera e estava ali naquele momento, pronto para atacar se preciso fosse, para defender a estranha.
Seria ela alguma parenta do velho Manuel!Pouco provavel pois ele vivera anos ali e nunca ninguém de fora o visitava.
_Ola senhora.Que fazes na casa da balsa? A mulher olha calmamente para os curiosos e diz:
Entrem que explico tudo com calma para todos...Entraram e sentaram onde dava naquela simplória choupana...A mulher tinha uma água quente e serviu-lhes chá e foi contando...
Sou de uma cidadezinha do norte e perdi tudo que tinha numa grande enchente há seis meses e como sou sozinha no mundo o governo achou que não era prioridade me ajudar a recosntruir minha casa. A opção que eu tinha era ir para casa de algum familiar estranho ou ir para um abrigo destes de gente triste e solitária.Então pensei...Já que não tenho mais casa, posso viver em qualquer lugar.Peguei o que me restava de bens e sai a andar pelo mundo...E foi andando que cheguei aqui.
Abismados eles percebem que a mulher não é tão jovem quanto parecia e um pergunta-lhe
_Como a senhora chegou a esta balsa!
_Foi curioso isso...Eu parei no meio daquela ponte a ver os raios de sol da tardinha refletindo na água,era muito bonito,sabe. Por um momento eu senti uma tonteira, e sem ter onde me segurar direito eu cai no rio e ia me afogando mesmo quando senti algo me puxando já era noite quando me vi na margem e tinha este cachorro me lambendo a cara.
Ele latia muito e era tão incistente que me obriguei, com dificuldade, a levantar e segui-lo e viemos parar aqui nesta casa.
Quando entrei tinha um senhor que nos esperava com fogo e uma caneca de chá quente..Me lembro que ele me ajudou a despir a roupa molhada e me fez beber o chá e cobriu-me com cobertores que me pareciam mais um amor de mãe. Podia mesmo estar morta aquela hora que não me importava. Dormi muito e quando acordei não o vi mais por vários dias, só não pensava mais que havia sido um sonho porque estava ali onde me vi, na casa da balsa.
Fui ficando porque  ninguém veio reclamar propriedade e por ser tranquilo.E o tal senhor de vez em quando aparece.Ele fica pescando calado lá na ponta da balsa.Eu faço chá, levo e faço-lhe companhia
Os ouvintes atentos
_A senhora sabe o nome do tal homem?
_Ele não disse alias, ele nem fala...Só vem pescar e acaba deixando o peixe que pesca para mim.
Que diabo é isso!!!Quem seria o tal sujeito?
A balsa está abandonada faz tempo e o dono morreu aqui esquecido pelo mundo.Quando o encontramos mal conseguimos juntar-lhe a carcaça para dar-lhe um enterro decente.
_Olha que este senhor não está morto, tenho certeza! Um dia quando ele vier eu peço para irmos até a cidade e voces o verão.
Permitiram que ela ficasse na cabana pois estava limpa e cheirosa. O velho Manuel devia ter arrumado mulher em vida, teria tido vida muito melhor que de ermitão.
Aquela senhora morou muitos anos ali...Até fez um jardim em volta da prainha onde estacionava a balsa.
A mulher nunca  levou o tal sujeito a cidade para vermos. Alguns diziam que era mentira aquela história, outros porém diziam que ela descreveu direitinho o velho Manuel.Tantos mistérios cercam-nos que sempre pairam dúvidas, vai saber.
Dona Mariana deu um leve riso e disse:
_Aprendeste com chico  a contar estas histórias garoto!
Emocionado, acenei que sim.
_Fantasma ou não, ele sempre estará conosco...É por isso que os fantasmas existem. Porque os amamamos e não queremos que sejam esquecidos. Muito obrigada por vir festejar comigo o aniversario do meu Chico.
Depois de trocas de comprimentos e abraços fraternos fomos todos para nossas respectivas casas.E antes de dormir eu pensei:
_Danado do seu chico, não é que ele estava lá o tempo todo!

***************************Fim************************************
Ilustração do pintor  Gil Pery


segunda-feira, 2 de julho de 2012

Viagem Pelo Desconhecido...Manuel Carlos Aguilar

A Viagem Pelo Desconhecido

Entrei no C H C B no dia 4 /1 /2012 com indicações médicas para fazer uma cirurgia de nome DACRIOCISTORRINOSTOMIA: depois de responder a um pequeno questionário sobre doenças existentes e medicamentos tomados, fui encaminhado para uma enfermaria de nome »Especialidades Cirúrgicas«: aí, fui instalado numa cama suplementar onde permaneci ocupando o tempo com um livro que tentei reler, »Planície de Espelhos« de Gabriel Magalhães, a dificuldade estava em me abstrair dos ruídos circundantes: não li mais que três ou quatro páginas. (No momento em que narro esta pequena história ainda estou bastante tonto da anestesia geral, pelo que hoje vou ficar por aqui).
  Estava numa enfermaria com mais quatro doentes, dois velhinhos, um jovem de 30 anos que passava o tempo no seu Ipad e consola de jogos e um motorista de longo curso que se distraia conversando; três deles iriam ser operados no dia seguinte a cataratas nos olhos, eu à tal DACRIO....................:
 a noite chegou e para quem estava habituado a dormir pelas 2horas da madrugada não foi fácil adormecer num ambiente estranho.
  Acordo em sobressalto pelas 6:30 h quando uma enfermeira acende as luzes e começa o ritual de preparação para as cirurgias; irradiando simpatia, a enfermeira começa por cortar as pestanas aos colegas, aproxima-se e enquanto me corta as minhas lindas pestanas, comenta.
Mais um pestanudo, se as minhas fossem assim não precisava de as alongar com rímel. Replico
- lá se vai o que resta dos meus lindos olhos!
 Chega o médico; faz um breve exame e diz: - então, estamos prontos para tirar essa coisa!
 - Estou pronto.
  Breves minutos depois senti-me a navegar por corredores e elevadores com os olhos abertos para um céu de luzes opacas até chegar a uma sala em penumbra e fria; aí transferiram-me para uma mesa de cor verde escuro e muito dura, mais uma mudança, desta vez para aquela que seria a mesa de operações; entro numa espécie de sarcófago, lanço os olhos em redor, apenas vejo paredes em mármore cinzento escuro e aparelhos em volta, por cima as lâmpadas projetoras estavam ainda em modo de standby.
 - Então, está bem disposto? - Pergunta uma simpática enfermeira ou médica, - o que é que faz na sua vida!? Nós somos muito curiosas. (Haverá alguma mulher que não seja)! - Não tenha medo, vai correr tudo bem, diziam enquanto me colavam todo o tipo de sondas no peito, dedos e cérebro. neste momento já estava sob o efeito de sedativos e tudo aceitava com normalidade. Uma voz de homem fala em tom suave, - vai adormecer: sinto um liquido entrando por uma veia da mão esquerda como se fosse fogo penetrando.... entro na terra do nada................................................................................................................................................

 Acorde, correu tudo bem, foi a primeira voz que ouvi. - Então, sente-se bem? Tenho fome , quero comer, respondi ainda atordoado pela anestesia. (Que longa já vai esta história; poucos terão a paciência de a ler)! Tinham passado cerca de 4 horas em que a morte da dor se tinha apoderado do meu corpo.

 Eis uma nova viagem alucinante de retorno à enfermaria; adormeço e acordo com a visita dos meus familiares por volta das 16:30 h.
 No dia seguinte estou em casa em convalescença.
++++++++++++++++++Fim++++++++++++++++++++++++++++++
Este conto tem ilustrações do artista  Gil Pery.:-)

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Quando Sou Feliz...Por Guerreira Xue


Tem  alguns anos e eu vi um documentário na televisão que  falava na existencia de um homem feliz, de que se tinha notícia claro.Era em uma cidadezinha lá nos confins do Rio Grande Do Sul e o mesmo filme mostrava um senhorzinho de chapéu de palha debaixo do sol quente, tocando uma carroça  cheia de feno. Dizia também que este mesmo se sustentava dos peixes que pescava, plantava sua própria comida e sua compania era um radinho de pilhas, um cão, um burro velho, galinhas  e os pássaros que habitavam seu pomar.
Ficava eu imaginando....
Que tipo de felicidade seria esta!
Queria poder ir atras do sujeito e lhe perguntar onde ele a achou?
Por que diabo um pobre coitado de pés descalços, era feliz?
Isso era um enigma. Sabidamente a felicidade esta ligada ao sucesso, fama e fortuna.Pessoas pagam rios de dinheiros para serem felizes.
Sim! Elas pagam pelo prazer de ter momentos de alegria,e que se diga é uma felicidade momentanea e que dura bem pouco.
Descrever misérias é poético e vende bem, comercialmente falando.
Se dissermos aqui:
_Existe um veio de ouro descoberto recentemente lá na beira do Tietê. Certamente uma multidão corre lá não só para verificar mas como para  se adonar do "dito", porque isso seria realmente pura felicidade!
Um desgraçado semi-analfabeto era feliz, isso só pode ser piada !
Eu mesmo, tenho dias de extrema alegria e tenho certeza que a satisfação nem sempre custam tanto, e no caso dele, custava quase nada.
Viver com alegria parece ser fácil. Será!
Até que ponto nossa felicidade ou tristeza depende de outros?

_Existem certos encantamentos que funcionam .Dizia a minha vó.
_ Voce só tem que variar na medida.
Como assim, variar na medida?
_Me diz uma coisa.Quando voce acorda feliz sem motivo aparente é por que?
_Não sei vó...Por causa do sol, da chuva, por eu estar bem....
Vamos partir dai então...voce ficou feliz sem interferencia de ninguém, esta "coisa" feliz saiu de dentro de voce e mesmo que aconteça algo que te faça encher os olhos de lágrimas, o que seria uma interferencia, voce tendo energia forte, logo voltas para tua alegria habitual querida.
Ninguém nasce para ser triste ou feliz o tempo todo, pois vivemos em sociedade e em geral existem muitas pessoas doentes e tristes em nossa volta, o que não quer dizer que voce também um dia não possa ficar.
A tendencia do dia negro é chover  e a do ser triste é chorar. Depois da chuva , as nuvens se vão e o sol que estava escondido, aparece. Então depois das lágrimas...
Mesmo que vivas de olhos fechados, ainda não poderá ignorar os outros e como consequencia, sofrer sua influência. É  natural que fiques triste, ou por não se sentir bem ou por ver pessoas doentes e sem alegria mas, se viver de olhos muito abertos corres o risco de cair na tristeza alheia também, o que pode te impedir de ver o sol, ou achuva ou o teu próprio bem estar.

A felicidade está em repartir, e isso serve para alegrias, tristezas, comida, espaço, etc etc...
Isso devia ser o único mandamento.Agradar Deus, fazendo pelo próximo.Se todos fizessem isso...
Variar a medida no caso aqui é voce dar e receber... Se acaso voce ficar triste, vem alguém e te dá conforto, alguém que tem alegria sobrando hoje. Veja que alegria também é subjetiva nestes casos pois, pode bem significar um pedaço e pão para matar a fome de outro...
Ai que saudades da minha vó querida!
Queria ter conhecido, o sujeito que era feliz.:-)
Este texto tem ilustrações do artista Gil Pery.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

A Rata E O Dragão


      Certa vez, quando os bichos falavam um idioma compreendido  na terra dos homens, havia um dragão enorme que protegia um pequeno  povoado de toda sorte de perigos. Ele era valoroso e gentil. E em troca o povo lhe retribuía com todas suas vontades satisfeitas. É claro que por vezes o mesmo também era egoísta e intransigente, como a maior parte dos poderosos porém era sempre perdoado e em geral era quando aparecia um malvado, querendo escravizar a vila
_Já estamos acostumados com o nosso amo e senhor de estimação. Diziam os mais velhos da região.

Mesmo um dragão tem sentimentos e Sua Excelência, o Dragão Pintado, era particularmente sensível. Impertinências à parte, o dragão vivia comovido, pela reverência do seu pequeno povo e cada dia se sentia mais responsável por ele.
Bem, nenhuma história é perfeita, ou não havia história.. Por isso temos de falar do João Rapagão, inimigo do dragão!
O João Rapagão nascera naquele povoado, já ninguém se lembrava quando, pois toda a gente preferia lembrar-se como!
O João Rapagão não nascera. Aparecera, simplesmente.
Era dia de feira.
Às quartas feiras, para quebrar a monotonia das semanas em que não havia ameaças à aldeia, achava interessante este detalhe, devia ser o dia de folga todos malfeitores os habitantes vinham ao terreiro trazer o que produziam, vender, trocar, fazer festa, dançar e etc.
     Muita gente de longe convergia para o povoado. Essencialmente por causa de... etc.
Foi numa quarta feira discreta, ao final do dia, que toda a gente deu por ele, plantado no fontanário público, meio sentado meio deitado, impossível de ignorar, esquecido de se ir embora, gritando a todos que sempre ali vivera.
_Sou o maior matador de dragões de todas as terras!
Impertinente!
Sim, pois ninguém nunca se dera conta da existência de tal sujeito. E foi justamente neste dia que todos se aperceberam de Rapagão._ Um atrevido isso sim! Diziam as senhoras de boa família.
Mas, voltemos ao nosso protetor e guardião.
Ele andava triste e cabisbaixo. Hoje era dia da feira e este sempre vinha para se exibir a todos, fazendo demonstrações com seu fogo.
_Que será que houve. O dragão não estava lá no lugar de costume.
-Será que está doente?! Especulavam todos.
É verdade que ele andou enrabichado por uma bela dragoa que andou por aqui, esta vinha de passeio do norte. Eles conheceram-se por um destes acasos da vida. Ela machucara uma asa e teve de pousar, obrigatoriamente, no vilarejo. Foi um alarido só. Num primeiro momento ficamos preocupados, pensamos que era o nosso protetor que havia sido ferido. Ela era igualzinha a ele em tudo. Porém com atenção e cuidado sua asa melhorou e ela parecia nem lembrar mais que estava indo para algum lugar. Aí, ficamos preocupados de novo. Nosso vilarejo é pobre sabe. Dar de comer para um dragão ainda suportamos, mas a dois!A coisa ficava complicada.

E foi com grande alegria que um dia a vimos bater suas asas em direção ao norte, ela retornava para seu lugar de origem.
_Deve ser saudades de dragoa. Deixemos nosso dragão querido em paz então. Concordaram todos. Mas os dias passavam e ele não vinha nem pegar sua comida.
Rapagão, o moço exibido, tinha um bicho de estimação que carregava no ombro. Um camundongo, imaginem só! Coisa incomum, pois é. O diabo do ratinho não falava com ninguém, só com rapagão. Isso era o que dizia ele, o que nos fazia pensar que não era verdade.
Um dia estava o moço se pavoneando para uma jovem na vila, quando um dos anciões o manda chamar e pede-lhe em publico que leve a comida do dragão.
O rapaz se prontifica logo na esperança de impressionar a linda moça que o acompanhava e vai carregado de comida para o topo da montanha.
Cansado pela subida ele se para a porta da caverna do dragão e espera.
Quando de repente ele sente o bafo quente atrás do pescoço. Toma um verdadeiro susto, levanta-se num repente. O Dragão está lá com os olhos injetados de fogo a fixar-se nele. João não consegue pensar em nada melhor que correr, e correr muito.
Na corrida desembestada morro abaixo João nem se da’ conta que deixou cair seu camundongo ao levantar-se.
Chegando a vila Rapagão avisa todos que o dragão está louco de raiva e vai matar a todos. Ficamos preocupadíssimos, claro. Com podia ser isso!?
Baixaram a ordem para que todos se refugiarem em suas casas imediatamente, deixassem comida e bebida suficiente para os dias de reclusão, até saberem ao certo o que se passava com o dragão.
Na caverna o dragão estava desesperado de dor. Era horrível aquilo. Nem sabia mais o que fazer, não dormia, nem comia há dias.
_Com licença. Uma voz feminina falou.
_Que foi? Onde estás? Diz o dragão olhando em volta sem conseguir ver nada.
_Estás com um espinho enterrado no pescoço amigo. Posso tirar, se quiser.
_Por favor. Respondeu o dragão. _Acho que é isso que está me matando.
_Fique calmo e não se mexa, por favor. Vou tentar.
 Sem pensar duas vezes a ratinha pega aquela enorme farpa e puxa com toda força que pode.
 E vai sussurrando ao ouvido do dragão.
_Só mais um pouco amigo, só mais um pouco.
E tenta de novo e de novo. Enquanto o dragão vomitava fogo pelas ventas e boca clareando a  escuridão da caverna , até os morcegos que ali viviam  evaporaram logo, e do povoado todos escutam seus grunhidos apavorados.
     Afinal não tinha sido a dragoa a provocar-lhe tão grande dor, mas sim um espinho no pescoço, ainda por cima retirado por uma ratinha! Quando o dragão voltou ao povoado vinha enraivecido, como tinham sido capazes de o deixar a sofrer sozinho sem nenhum se atrever a tentar salvá-lo?! São estranhos os seres humanos, se puderem esquecem-se de quem veneram, não ajudam quem mais sofre e ficam felizes por não padecerem dos mesmos males! Ainda por cima os dias que ficara a gemer não lhe permitiram arrumar o lar onde vivia, que se tinha infestado de pulgas, de modo que o seu bonito corpo de dragão luzidio estava cravejado de mordidelas de pulgas. Detesto pulgas, porque não vão elas apenas para os homens e deixam os bichos em paz?
     Quando o dragão pousou no lugar de costume. Chamou a todos os residentes da aldeia e contou o que havia se passado.
_Quando ouvi aquela voz, vindo não sei de onde, pensei que estar morrendo mesmo.
Eu desmaiei de tanta dor. Quando acordei me sentia cansado ainda, porém a dor havia passado.  A única coisa que pensava era em comer. Foi quando eu vi um ratinho  pequeno, dormindo sobre mim. Nem pensei muito peguei e ia levando a boca quando:
_Com que então eu te salvo, e tu me comes em agradecimento!
Fez-se um silencio onde eu imediatamente a larguei com toda a delicadeza possível a um dragão desajeitado.
_Peço desculpas pequena ratinha. Então foi você a me salvar da morte?

Incrédulo por uma criatura tão pequena e tão frágil ter tido a coragem de salva-lo, quando a maioria se escondera de medo.
_Acha que podemos conviver sem eu correr o risco de ser devorada por você grandalhão?
Ambos ficaram se mirando nos olhos por alguns momentos até que caíram na gargalhada.
_Vou tentar. Respondeu ele.
O dragão pegou a ratinha e a colocou no dorso _Segure-se, vamos voar.
A ratinha se sente humilde naquela imensidão toda. Lagrimas de emoção escorrem de seus olhos. Nunca vira paisagem mais exuberante. Quando pousaram, ele percebe a pequena sem palavras._Nunca voaste, ficou com medo? Gostou?
_Sim, foi maravilhoso. Fico imensamente grata.
O povoado voltou à normalidade. Rapagão perdeu sua ratinha, o moço "valente" havia ficado com tanto medo naquela noite que, só percebera no dia seguinte a sua ausência. Quando a viu com o dragão e soube que tinha sido sua salvadora, ficou orgulhoso dela.
E foi assim que aquele dragão enorme e uma ratinha insignificante e minúscula se conheceram. Estes eram de mundos diverso, duas cabeças, duas almas que por alguma razão, queriam muito se conhecer, saber de tudo um do outro.
Ambos não entendiam direito, mas estavam ligados pela curiosidade ou pela vontade... Vai saber...

Guerreira/ Lena e PaulaJ

quarta-feira, 23 de maio de 2012

A Verdade De cada Um

A Verdade De cada Um
A professora entrou na sala e logo foi dizendo.:
 _Quero um exemplo de superação hoje.
Os alunos sabiam bem que quando aquela senhorinha frágil queria, era mesmo o centro das atenções.
Podia estar a maior das algazarras. Ela entrava em sala, e todos prestavam atenção. Claro que o fato dela usar cadeira de rodas era bastante relevante aqui. Porém ela tinha espirito e sabia os manobrar como ninguém. E para ser sincera, não havia quem a detestasse na escola secundária.
Marina era de origem humilde, uma negra que viveu a vida toda na favela.

Marina tinha uns olhos grandes, do tamanho dos seus sonhos... os seus sonhos eram tão gigantes quanto o brilho profundo que lhe saía genuinamente do olhar. Tão grandes quanto o saco de pano sujo que trazia sempre a tiracolo... o portátil ninho da Simone. A Marina adorava a sua Simone, levava-a para todo o lado...
Sissi, como lhe chamava desde que se conheceram, era uma cadelinha mínuscula que apareceu no seu caminho e nunca mais abandonou a Marina. A Sissi era uma companheira para tudo e mais alguma coisa e portava-se como gente, só lhe faltava uma pata... que parecia não lhe fazer falta nenhuma, que não a impedia de ser a sombra da menina que acompanhava.
_De que tipo professora?!Perguntou Janete
Qualquer uma. Afinal superação é superação. Respondeu Marina
Gustavo, o mais calado emenda logo. Pode ser a mulher que com uma receita simples salvou inúmeras vidas no norte e nordeste do país?
Felipe diz:
_Pode ser a pessoa que não tinha nada ,em compensação deu teto casa e comida a dezenas de jovens?
_Pode ser quem vocês quiser. Quero este trabalho em equipe pois por mais que nos esforcemos .Sozinho somos nada. Disse Marina com bom humor.

Ela própria nunca estava sozinha. A Sissi acompanhava-a para todo o lado, como ela dizia, era a cadela da vida dela, nunca a largava e se tivesse de estar três horas à porta da escola à sua espera não arredava pé do mesmo sítio onde ela lhe tinha dito para ficar. Isso só acontecia quando vinha o Inspector à escola, de resto Sissi andava ao seu colo, pois era tão minúscula e sossegada que não incomodava ninguém. O mesmo não acontecia com Simone, a fadinha do portátil, que era rabugenta e incomodava meio mundo com os seus ruídos ensurdecedores. Às vezes a Sissi, quando tinha frio, aninhava-se ao lado da Simone, dentro da mochila do portátil. Devia chamar-se Magalhães, mas ela chamou-lhe Simone, a fadinha que dava alma ao menor computador do mundo e que lhe permitia escrever longas histórias para os alunos meninos que a ouviam maravilhados.
Esta menina senhora, tirada de um conto de fadas, punha os alunos a vibrar com as suas histórias de encantar. Também os fazia estremecerem com as histórias verdadeiras, como a dela, que sempre tinha lutado para poder ser tudo quanto queria. E ela queria pouco, só que a vida não lhe foi dócil e teve realmente de se superar para ser o que hoje é. Começara a trabalhar demasiado cedo, mas nunca deixou de estudar, e aos dezoito anos já estava a entrar para a faculdade, no ano em que se apaixonou por um surfista, um rapaz alourado com coca-cola e sol em demasia.

 Começou a praticar surf e um dia de nuvens esbranquiçadas entrou numa prova com o objectivo de ficar em primeiro lugar, passados uns dez minutos estava a bater com a cabeça num rochedo, depois de vários dias em coma, ficou paralítica. O rapaz desistiu dela, mas ela não desistiu nem de estudar nem de lutar pela defesa dos seus prórpios valores, como sempre tinha feito.

_Alguém já ouviu falar de um escritor poeta e pintor que atende pelo nome de Christy Brown ?
Como ninguém lhe responde ela continua_ Um irlandês de família humilde, era o decimo de vinte dois irmãos. O cara nasceu em 1932 com paralisia cerebral sendo privado dos movimentos do corpo com a única exceção, do pé esquerdo. Tempos de guerra no mundo, imaginem só.
Pois é, ele aprendeu a ler escrever e desenhar com o pé. Tornou-se uma referencia mundial, um gênio.
Sua dependência de álcool encolheu consideravelmente sua vida. Morreu aos 49 anos, era jovem. Um sujeito que superou tanta dificuldade acabou por deixar-se levar pelo vicio.

Há uma frase de Machado de Assis que diz o seguinte:
“O coração do humano é a região do inesperado.”
De minha parte emendo que a mente também é poderosa e qualquer um pode ser ou  fazer o que quiser, desde que tenha um objetivo. Ninguém precisa ser fracassado ao se deparar com obstáculos. Espere, pense, dê a volta. Só tem que insistir naquilo que realmente se quer.
Aquela moça cheia de vida na sua cadeira de rodas era uma heroína nata. E todos ali, não tinham a menor dúvida disso.
Por vezes pensava na vida de antes. Ficava triste também, afinal perder os movimentos foi um golpe.
Perder o Bruno foi uma natural parte do processo das mudanças em sua vida. O namorado se corroía num misto de pena e culpa pelo o acidente. O rompimento foi proposto por Marina, uma saída honrosa para uma situação que já se tornara insustentável. Chorou muito na ocasião.
Teve de reaprender quase tudo no dia a dia. Esforço encarado com bom humor e uma vontade de ferro.
Muitas vezes ela sonhava que voava, sentia o vento nos cabelos, corria pelos campos, acordava pela manhã com a sensação de que ia levantar. Então passou a pensar uma coisa. Seu corpo agora tinha limites, porém sua mente não. Por mais incrível que isso pudesse parecer, ela sentia uma alegria tão imensa. Ela sentia gratidão

Guerreira escreve este com colaboração de Lua De Sol e PaulaJ

sexta-feira, 18 de maio de 2012

A Princesinha Triste...Por CHB

    Era uma vez uma princesa, que morava sozinha, à beira dum bosque, num lugar que chamavam o Campo da Estrela. Era bela como um sol, grácil, alegre. Mas... no bosque moravam também uns poderes ocultos.    Eles ficaram com inveja da sua beleza. Um dia conseguiram lançar-lhe um malefício. E então ela ficou triste, não sabendo por que.
E foi-se-lhe a memória dos seus dias alegres. Até esqueceu tocar a sua viola, que antes encantava os passarinhos do bosque.
 Passava triste as tardes, num remanso do rio vizinho, onde antes fora feliz. Vagamente lembrava que tivera um amor, mas parecia-lhe que acontecera noutra vida.
No rio, fazia esforços por voltar a tocar a sua viola, mas não lhe saíam os sons que ela antes sabia arrancar às cordas. Chorou.
Então... pareceu-lhe ouvir um barulhinho, numa poça do remanso. Assustou-se. Ia levantar-se quando voltou a ouvir algo... era como um cró, cró...
Sorriu: era um sapinho, que parou de saltitar e olhou para ela, e ela para ele. Os dous, de repente iluminados pelo sol, ficaram por um instante como suspensos na calma do rio.
Então o sapo falou: princesa! Ela assustou-se outra vez, e afastou-se. Mas ele voltou a falar: não tenhas medo, princesa, não me é permitido fazer mal.
 Como sabes que sou princesa? Eu sei muitas cousas, disse o sapo, com um ar misterioso mas que a ela lhe pareceu cómico. E ela sorriu, revelando uns dentinhos brancos.

 O sapo disse: és bela, princesa! Ela voltou a sorrir. Disse ele: por que não tocas viola? Ela voltou a entristecer-se: não posso, estou triste. Mas por que? Porque me lançaram um malefício os poderes do bosque. O sapo ficou calado. Ao cabo dum tempo disse: eu sei... Então ela ficou intrigada.

 Sabes? Sim, sei: são os mesmos poderes que me fizeram a mim velho e feio. Ela olhou para ele, de repente séria: tu não és feio. Tu és bonito! O sapo ficou quietinho um bocado. Não te dou nojo? Ela riu então abertamente: não, vem aqui. E colheu-no nas suas mãozinhas divinas.         Ele fez-se então como que num burulho, todo aconchegadinho no oco das suas mãos. Estiveram assim um bocado, a olhar um para o outro. Disse ele: sei como te chamas. Sabes?, perguntou ela. Sim, mas não me é permitido dizê-lo... só a inicial.     Qual é?, disse ela. I!, disse ele. Ela sorriu, e ao sapo parecia-lhe que saía o sol outra vez.
 Estás seguro? Olha que i pode ser um som qualquer! Não! disse ele firme: é a letra mais bonita! e sei mais: remata em... mas estacou. Ela ficou intrigada. Em que?
 Bela! soltou ele, e calou, como envergonhado. Ela riu abertamente. Como gosto do teu riso!, disse ele. E tu como te chamas? perguntou ela curiosa. Ele encolheu-se outra vez, nas mãos dela. Não me é permitido... só o inicial... C!
 Sê? disse ela? Sê de ser? Se tu queres, disse ele... E aí ficaram ambos calados um bom bocado. Nas suas cabeças bailavam os significados das palavras: ser, querer...

  Se tu queres, eu sou! disse o sapo, encorajado. Quero! disse ela, com firmeza. O sapo saltou da sua mão, ficou diante dela: princesa, disse, eu também sou um príncipe... Ela ficou extasiada. Sim, continuou ele: como a ti, os poderes maléficos invejaram-me a juventude, e a beleza, e transformaram-me em sapo!
 Ela não pôde evitar um riso. Dou-te nojo? repetiu o sapo. Ela virou séria: quero-te, sapinho!
  Ele calou, a baixou-se um pouquinho, afinal disse: eu amo-te, princesa! Ela virou séria outra vez, nem triste nem alegre, mas séria.
  Como poderia eu te ajudar? perguntou ela. Não podes, respondeu ele. Só posso eu te ajudar, mas há uma condição. Qual é? quis saber ela. Ele ficou calado outra vez, também sério, também nem triste nem alegre: aginha vais saber.
  Passaram mais uns momentos, uns momentos que pareciam eternos; corria uma brisinha, o sol parecia quieto, mas mudou percetivelmente a inclinação dos seus raios.
  Ela, num impulso, acariciou o sapo; ele estremeceu-se, depois ambos voltaram ao silêncio, voltou a calma. 
 Ela olhou então arredor, demoradamente: o rio, as árvores, o céu: tudo parecia transformado. E... seria possível? Sentiu algo, algo como felicidade, seria possível?
  Imediatamente, com um pressentimento, virou para o sapo... e encheram-se-lhe os olhos de bágoas... mas bágoas de felicidade: compreendeu então. O sapinho já não estava lá! A sua forma desaparecera. Não ficava... nada! Ela chorou então: soube assim que o sapinho a amava, e que fez o sacrifício supremo: a sua vida em troco da felicidade dela...
  Pegou na viola, ainda lhe arrancou uns acordes, e continuou a chorar todo o caminho de volta, mas agora chorava de felicidade, ela por fim sabia! E os poderes do bosque sumiram para sempre, no Nada!
       A princesinha voltou, à sua casinha do bosque, enxugando ainda as bágoas; agora estava feliz, porque sumiram aqueles poderes do bosque que antes a tiveram encantada; mas também estava triste, porque desaparecera aquele sapinho engraçado que aparecera na sua vida; agora vinha-lhe, aos poucos, a memória: é que fora libertada do malefício pelo sacrifício do sapinho! E ainda lembrava, ou parecia-lhe ouvir? uma voz, aquela voz que lhe dizia: princesa! com firmeza, e com toda a sonoridade das belas sílabas: amo-te, princesa!
     Ela tocava agora a sua viola; lembrava velhas músicas, de beleza cativante; e também ensaiava agora as que ela compunha, saídas do seu coração; e que ressoavam suavemente no seu quarto; mas também, passeninhamente, voltava a lembrar os velhos poderes maléficos, agora idos da sua vida, para sempre, mas que deixaram na sua bela alma uma nódoa de tristeza, da que não se conseguia libertar: e então odiava-os, e no seu seio divino sentia erguer-se outra vez o velho ódio aos três velhos poderes, como se eles ainda estivessem ali com ela, violando a intimidade do seu quarto.
     Mas por onde poderiam ter entrado, pensou ela, se eu fechei tudo? Foi comprovar: com efeito, tudo estava fechado, bem se assegurara ela de trancar a porta por dentro. Ali não podia entrar ninguém. E ainda fez força, para se certificar...
     Mas então reparou que, tão bem se fechara por dentro, que agora não podia abrir, ainda que quisesse. Forcejou, mas não pôde abrir. Por um bocado, preocupou-se; mas, depois, pensou: tenho aqui tudo o que preciso: a minha viola, os meus vestidos... comida não preciso: sou princesa! e mais nada...
     Acabou por adormecer. Mas nos sonhos voltavam os maléficos, parecia-lhe invadirem a sua alcova de bela adormecida: acordou sufocada, deu um grito: no escuro parecia ver um bode medonho...
      Esfregou os olhos; então viu que, com efeito, ela estava só. Mas... não estava só. Soluçando, quis abrir a porta: e não pôde; quis fugir pela janela: mas era alta demais: temeu cair, mancar o seu corpo grácil, ficar atirada no bosque escuro, à mercê das feras que puderem rondar... Chorou.
      Então pareceu-lhe ouvir, ou lembrou? uma voz ténue, que lhe dizia: só eu te posso ajudar, princesa... Sapinho! exclamou ela; não via o sapinho, mas ele estava ali: estava dentro dela, no seu coração!
      E voltou a falar ele: princesa: ama! O ódio levar-te-á onde não queres ir!
      Passou o tempo. Ela deixou de chorar. Mas ainda lhe vinham uns soluços, cada vez mais apagados. Quero-te, sapinho! disse então em voz alta.
       Eu sei, princesa, conheço o teu coração: tu és incapaz de odiar: só ama! Eu amo, sapinho, disse ela, mas como amar? onde estás tu? Estou em ti, sou o teu amor, que luta por se libertar das trevas do teu passado. Mas como é que não te posso tocar? Não podes, princesa, esse foi o preço que eu paguei; mas eu sim te posso tocar: sente, princesa, o meu amor, no teu coração: ali estará sempre, aninhado, dando-te vida; esquece malefícios, esquece escuros: nada poderão contra o poder deslumbrante do amor: do teu amor...
    A princesa deixou de soluçar. Foi-se à janela. Abriu. Entrou o ar da manhã. Viu o amanhecer. Ouviu os primeiros passarinhos, a cantar. Depois correu à porta: num empurrão, conseguiu franqueá-la: estava livre! riu de alegria; obrigada, sapinho, disse sem saber bem a quem se dirigia.
   Que queres de mim, sapinho? O teu bem, princesa. Sapinho: eu queria que estivesses comigo sempre, disse ela. Sempre estarei, princesa, disse ele. Estarei no teu coração, para que nunca mais entre nele o ódio, para que só sejas capaz de amar. Amar, sapinho, mas... a quem? Não terias ciúmes?
   Por muito tempo, o sapinho nada disse. Depois, com voz trémula, sussurrou: assim tem de ser, princesa; e calou. E ainda disse ela: então não queres nada mais de mim?
     Outra vez calou o sapinho. Depois disse: quero! a tua felicidade... saber-te feliz é o que eu mais quero... E apagou-se-lhe a voz. Então ela, dentro do seu peito, sentiu um salto... ela sabia! Não te deixarei nunca, disse ainda o sapinho. Obrigada, sapinho, disse ela para si...
    A princesa sabia agora que podia amar, só amar, e que nunca mais seria capaz de odiar. E deixou aberta a janela...

Ps.Ilustrações de António Bártolo(artista plástico)
  

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Memorial Dos Esquecidos...Por Hilda Milk

Betinho andava sempre tropeçando pelas calçadas. Quando não era bêbado era drogado, e não ligava para nada...Todos o conheciam, pois morava na mesma rua havia mais de trinta anos.
Pois é hoje o Betinho caiu no meio do quintal de sua casa e morreu ali mesmo, o coitado...A  ambulância chegou e logo foi embora dizendo que o IML(instituto médico legal) viria mais tarde, buscar o corpo. Este fato aconteceu as cinco horas da tarde e o Betinho ficou estendido ali, até pelo menos as duas horas da madrugada.
Fiquei sabendo de seu falecimento quase que na "hora" mesmo.
O dia seguinte nos encarregamos de narrar tudo que podiamos lembrar da vivência de Betinho e cada um relembrava o fato corriqueiro ou engraçado compartilhado com amigos e vizinhos... Sabia-se instintivamente que esse era o dia de Betinho, como se fora uma última homenagem
A filha e o filho estavam chorosos mas Elvira, a esposa, não. Se alguém de fora achava aquilo estranho, não dizia nada. Elvira era mulher madura, com seus quarenta e poucos ainda conservava alguma beleza da juventude.Tinha qualquer coisa no olhar, parecia vazia e não triste, só vazia.
Quantas vezes ela tentou abandonar esse homem...Uma vez ela voltou por que ele ficou em coma internado por muito tempo, tinha tomado uma surra do irmão de uma amante. Noutra ocasião, ela teve de voltar por não conseguir dar conta do aluguel dos comodos que vivia, e do sustento dos meninos ainda pequenos.
Se já era difícil aguentar o marido bêbado, imagine aturar também a sogra, que vivia no mesmo quintal e era também uma alcoólica em tempo integral!
A morte é mesmo inevitável, viva bem ou viva mal, um dia voce morre e nem adianta fugir, se esconder ou precipitar as coisas.
Há pessoas que chegam até a dizer de que jeito querem morrer: _Eu quero morrer dormindo. _Gostaria de morrer sem dor.
_Quero morrer de surpresa. Adianto que os muitos que sofrem, não é por pedirem para morrer sofrendo.
Lembro-me de quando criança tínhamos medo dos velhos...Alias do que me lembro, parecíamos ter medo de tudo e todos nós crianças, não queríamos ser velhos nunca!
Mas voltando ao falecido Betinho...A sua filha, que está grávida, passou mal e teve de ser atendida as pressas no hospital.
A mãe dele, que está internada num abrigo de idosos agora, e milagrosamente estava sóbria neste dia.
A única irmã do morto, triste e infeliz também tentava parecer calma e administrar a situação toda. Desde que levara a mãe para morar com ela nunca mais soube o que era sorrir
Elvira que não aguentou mais a sogra, praticamente obrigou a irmã do marido fazer alguma coisa a respeito.A velha senhora ficou uns seis meses morando com a filha e finalmente  foi parar no abrigo de idosos.Contam que uma noite ela surrupiara uma garrafa de wisque e bebeu toda de uma vez e foi para o jardim gritar para quem quisesse ouvir que a filha, uma senhora respeitável, havia sido "puta" quando era solteira. É claro que omitira um pequeno detalhe, ela mesmo aliciara a filha para a prostituição.Tal revelação causou uma grande comoção, abalando a família, de fato que agora, a filha só vai ao abrigo para pagar a estadia da senhora.
Era um dia frio e cinzento esse, e o corpo do Betinho só foi liberado pelo IML as quatorze horas do dia seguinte.
Todos estavam agora muito silenciosos e contidos, cumprindo sua obrigação. Enterraram o Betinho e foram todos para as suas casas quase correndo enquanto o mundo desabava em chuva.
Mais um  que vai condenado, para o memorial dos esquecidos.

sábado, 10 de março de 2012

Guga Versus Mana...Principiado por Hilda



_Sabe a evolução de todos os seres, tenho uma teoria sobre o assunto Mana. A irmã olha para o irmão, e fica escutando.
_Pois é, todos acabaram se modificando forçados pela influencia do ambiente. sabe porque as girafas tem  o pescoço mais alongado? Porque ao comerem toda a pastagem rasteira tiveram que esticar-se, para pegar os arbustos mais altos.
Os tatus por exemplo,tiveram que se adaptar para viverem no subterraneo, por terem patinhas pequenas, adiquiriram as garras afiadas e uma visão noturna. E as formigas tão minúsculas e não menos incríveis, são capazes de carregar coisas enormes, e são surdas e quase cegas.
_E sobre os humanos, de quem somos, por acaso, parentes? _pergunta a irmã.
_Dos primatas ,claro. Ela pensa um pouco e logo retruca: _Então todos os primatas teriam de ter evoluido,não acha?
_Claro que não "cabeçuda" alguns não foram forçados.
_Então se trouxermos os macacos para viver na capital, logo eles vão estar usando gravatas e pedindo cafezinho no bar?
_Ahahahahha...Pode ser. Estudamos tantas teorias sobre a evolução que qualquer hora vão dizer que somos primos de amebas,
 É sempre divertido escutar o que os filhos tem a dizer. A imaginação das crianças é elástica  e constante.
Depois de algum tempo retomaram ao assunto, os dois.
_E se fossemos nós a morar na floresta? _Ahhh! Não estás pensando que voltariamos a andar de quatro ,está?
_Porque não? _Isso se chamaria retrocesso e não evolução.
_Seria a evolução do retrocesso então.
Enquanto preparava o almoço, a mãe os escutava se rindo discretamente.Aquela conversa era pura terapia gratuita.
_Já pensou...Sem hora de escola, vestir peles, sem tomar banho...
_Meu deus! Voce descende dos porcos isso sim. Ahahahhaha _Olha quem fala! Voce que dorme naquela  bagunça...
_E voce que nem lava a cara quando acorda! Nem corta as unhas se a mãe não te mandar.
_Mãeeee! A mana esta te chamando de porca. _E o mocinho da uma risadinha matreira. A mãe faz que não escuta.
_Nem falei na mãe seu bobão. _Claro que falou, se eu sou porco...
_Voce é adotado, não te contei esta parte? _Olha ela mãe!!!
_Chega de prosa instruitiva meninos.Lavando as mãos o almoço esta sendo servido. _O menino corre ao lavabo, para chegar primeiro e volta dizendo: _Estou cheio de fome, que vamos comer mãe?
_Fiz costeletas assadas._ Os dois irmãos se olham, e caem na risada...
_Que seja, vamos comer nossos ancestrais hoje. Quanta evolução!
**************************Fim*********************************

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

A Dona Dos Medos...Por Hilda Milk


A Dona Dos Medos

_Me sinto murchar na escuridão.
_Por que?
_Não sei...Me ajude por favor. Sua tristeza era tão evidente...
Vivo assim tem muito tempo. Nunca  gostei de intromissões, pois todos tem tantas críticas, não conseguem compreender a diferença entre acrescentar algo ou diminuir o próximo. Tantas certezas de tudo, é como se o mundo realmente fosse único e so existisse um caminho bom. Isso presta, aquilo não é bom. Não ande com fulano, beltrano é vagabundo. Não saia sozinha, não chegue tarde.Passei parte da vida escutando  não isso, não aquilo.
_Quem dizia!
_Minha mãe...Ahahahahhh. Agora devo entender que meu "problema" começa com ela! Todos devem mesmo começar com ela, afinal saimos de dentro da mãe não!
Depois teve os outros também doutor...Todos entoando o mesmo refrão."Não"
Mesmo quando não nos conhecem direito, parecem teem opiniões críticas e destrutivas.Quer um exemplo simples?
Uma vez tive que preencher um formulário num curso e coloquei  que minha instrução religiosa era
Judia, pois saiba que passei quase tres meses ouvindo piadinhas desagradáveis por conta disso, e olhe que nem sou praticante...Hehehe
_Mas se cansaram e pararam,não foi?
_Não doutor, o curso acabou neste prazo. Mais risos...
Até o mais  evoluido dos doutores tinha que se rir, diante de tal criatura.
Esta moça era cheia de beleza interior, tinha inteligencia, senso de realidade e consciencia da própria loucura. Um verdadeiro desafio para psicólogos que pensam que só consultar a cartilha  de bolso e já conseguem um prognóstico brilhante e preciso.
Daniel se sentia atraido por seu caso. Estão nestas conversas há tres meses e ainda não consegue identificar ou diágnosticar esta paciente, quando pensa ter encontrado o "fio" do problema ela mesmo aponta novas informações ...Olha que este era reconhecidamente  um especilaista no assunto.
Dia destes quando terminaram a consulta ela  disse-lhe sorrindo abertamente:
_Quando oficializamos nosso namoro?
O doutor Daniel ficou vermelho até a raiz dos cabelos com tal observação.
A primeira vez que esta apareceu em seu consultório, foi bem clara em dizer que só estava ali por força de sua melhor amiga.E era verdade, sua amiga Vania a trazia todas as vezes e esperava na saida.Isso aconteceu até sua quarta consulta...
_ Voce vai sim...Ou então nunca mais falo com voce.
_Como ve doutor, estou aqui por livre e espontanea pressão.
Margarida  começou a se isolar gradativamente depois da separação. O marido se foi, por causa de outra.
Isso parecia ser a causa mais relevante no seu prognóstico.Seu único contato externo era justamente Vania.
_ Não foi bem assim, se foi por que não gostava mais  de mim. Depois de dois anos de casamento, mal nos olhavamos.
Foi morar com outra azarada.Ahahahaha...
Parecia ter pouca auto-estima porém, era engraçada e bem humorada.
Conversava tanto que por vezes chegava a me confundir.
_Pare Margarida.Estamos saindo do assunto.
_É que não há mais assunto.
Daniel ficava pensando e pensando.
_Esta mulher é um emaranhado de informação.Dificil encontrar o foco.
Consultava seus colegas.
_Estas doutoradas tem problemas de relacionamento por conta dos complexos dos outros, não delas em si Daniel.
_Pois engana-se, Margarida não é doutorada, nem formada é...Mas é bem culta.
_ A questão pode estar ai mesmo. Acompanhe meu raciocínio, as pessoas em geral gostam de estar com seus iguais.Vamos ao relatório desta moça...
Margarida é moça simples.Vive uma vida simples, casa com um homem simples. Porém quando a conhece melhor, ele nota que ela não é tão simples assim. Isso complica.
Quando o marido percebe que ela é inteligente a príncipio fica muito orgulhoso de sua esposinha, mas isso pode confrontar com suas inseguranças com o passar do tempo, abalando a relação.
_Ele a deixou por ela ser inteligente!Opsss...
_Ele a deixou por se sentir inferiorizado.
_Ele foi viver com outra(igual) e ela, Margarida, se sentindo culpada se isolou.
Daniel ficava pensando demais nela...Parece forte, no entanto...
Um dia tomou iniciativa e decidiu.
_Hoje será nossa ultima consulta...
_Como! Estou boa já!?
_Voce nunca esteve doente.
_E o que faço com meus medos todos? Por que está me dispensando?
_Por que nossas conversas são ótimas e me sinto culpado de cobra-las.
Voce tem tanta coisa boa dentro da cabeça que isto está virando distração e não tratamento.
Vai fazer algo por quem precisa Margarida, tenho uma amiga que gostaria que conhecesse.
Ela trabalha com crianças carentes e precisa muito de voluntárias, quer?
Seu problema é solidão Margarida.E seu maior medo é magoar quem gosta e disso, todos corremos risco.
Não pode evitar ser quem é, como não pode também mudar os que a cerca.O isolamento não é boa opção acredite.Na melhor das hipóteses nos asseguramos todos de uma coisa, o respeito mútuo.
Há pessoas que precisam e podem gostar muito, tenho certeza, de voce.
Apartir de hoje não sou mais seu médico, voce vai sobreviver.Boa sorte.Comprimentando-a conduziu até a saída.
O tempo foi passando e Daniel não soube mais de Margarida, podia ter ligado para ela...Não, não podia. A ética não permitiria.
Certa vez  fazendo voluntariado numa ONG(organização não governamental), um destes lares, onde as crianças teem mães adotivas...Daniel teve a vaga impressão de ver  Margarida, claro que devia ser impressão esta parecia bem mais jovem  e corria com as crianças pelo gramado feito uma adolescente.
Estava atrasado, perdera tempo precioso no transito e a diretoria do abrigo o aguardava.
_Bom dia doutor Daniel.
A secretária anuncia sua chegada e o conduz a sala de reuniões.A surpresa do moço não podia ser maior.A sua frente estava..._ Margarida! Com um sorriso no olhos ela o comprimenta e convida a sentar-se.
Tudo acertado então...O doutor terapeuta daria expediente na instituição infantil tres vezes por semana.
Margarida estava bem recuperada e feliz fazendo algo por quem  realmente precisava dela._Acho que deve ser isso o que importa, fazer algo construtivo.
Quando lembrava das palavras desdenhozas do ex-marido, ficava triste mas, pensava agora  que o problema era dele e não dela.
_Quando acordo pela manhã e vejo o mundo cinza, não me importo mais pois tenho as crianças que me esperam aqui,pode que elas não saibam porém, aqui temos trocas incríveis, dou um pouco para elas e sou recompensada em muita satisfação .Por intermédio delas vamos reconstruindo as cores do mundo que pode ser melhor ou menos feio.
Rever Margarida foi bom...Daniel não entende direito as coicidencias da vida mas, algo lhe diz que os dois vão estar juntos, por algum tempo ainda.E pensar nisso, traz sensação de bem estar.
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Pintura de Jean Jacques Henner

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

A Piscina à Quarta-Feira...Por Maria De Fatima Rodrigues


  A Piscina à Quarta-Feira

Bem feito! Quem é que manda as senhoras entradotas e vaidosas fazer ginástica tola, só porque não querem ter um traseiro gordo?
Céus ! Esta citação exaspera-me.
Mas porquê ? Porque é verdade. Fiquei com o traseiro assim por falta de tempo para me cuidar...Mas se de repente todos decidíssemos começar a fazer o que nos apetecesse, seria a anarquia total!
Não é verdade...o que me queres dizer com isso?

O que eu quero dizer? É simples. Eu já não sou o playboy que praticava motonáutica em Monte Carlo nos anos 70, nem tu és miss com quem eu casei. Lembras-te ? Mas....a fortuna da tua familía, eis  porque casei contigo, já nada significa para mim. Estou farto dos clichés e a do vosso novo-riquismo. Quantas imitações de Monet é que tu pensas que um homem aguenta ?
É demais para mim. Não aguento o vazio da minha existência.
Adieu, querida. Deixo-te e vou para a Índia, para fazer trabalho voluntário.

É segunda-feira...fui ao Continente no Porto. Descobri que as rações para o meu cão e gata não sofreram qualquer aumento, pelo menos até agora. Cereais Estrelitas tinham tido aumento... o pão e as bolachas, também ...os chocolates e o vinho do porto, não... menos mal...(sou doida por chocolates e um porto, enquanto saborei-o o último cigarro da noite na algazarra do Facebook)!!!
Quase €100 euros...Depois arrumo as compras no carro e vou até ao meu local favorito para tomar um café (sim mais um... neste momento estou com meia hora de pica, mas como o último de hoje foi tomado antes das cinco, tenho tempo de acalmar as ansiedades ate logo à noite, pelo que não me deve afetar o sono...)
Na esplanada, apanhei perto de meia hora de solinho na moleirinha (o sol de inverno não me faz dor-de-cabeça, e deve ser das poucas coisas que não faz...), li umas páginas do jornal, e voltei - ah, e o café, ali, continua a custar o mesmo!
Entrei em casa e fui direta para a cozinha, sem passar no banco, nem levantar os 250 euros que me depositaram extra acordo judicial. Arrumei as compras e estendi a roupa. Descarreguei a máquina da loiça... recarreguei-a. Pus sopa a fazer. Fui para a casa de banho, tirei a roupa...ainda não foi desta vez que tomei um banho na banheira c/ hidromassagem...paciência...quase que sei quem a vai inaugurar.
Pronto.
Quer isto dizer que o Einstein não tinha razão? Nope, nem por sombras, muito antes pelo contrário. É assim um bocadinho a 'teoria da inevitabilidade'... se tem de ser feito é melhor não fazer esperar, e muito importante, fazer sem pensar (e isso é uma carga de trabalhos, que eu não consigo desligar a mioleira... mas funcionou). Consegui esquecer o sábado e o domingo... enfim, a liberdade é uma maluca...sabe quanto vale um beijo...e, se for roubado, é mais saboroso.
Amanhã, combinei fazer trabalho voluntariado para que o meu Mestre não me volte a dizer:
-Não percebes nada de estória nem de homens ...Loollllll !!!!

Agora que sou dona de casa, mereço uma extravagância à quarta-feira. O meu patrão não se pode queixar...servi-lhe o pequeno almoço na cama...sem faltar o sumo de laranja, obviamente...sabes que dia é hoje?? Vou à piscina das 7 às 8, pelo caminho gosto de ouvir música...sei lá, sei lá, só sei que é preciso paixão, sei lá, sei lá, a vida tem sempre razão.
E, porque hoje é quarta-feira, nada melhor que ler Fernando Pessoa e Vinicius de Moraes. !!!
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Neste Maria De Fátima teve participação de João M.B.Nobre.:-)

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Queda Da Propria Altura

— Qual seu nome? Fale comigo, seu nome?
Mal conseguindo respirar de tanta dor, resmunguei meu nome.
— A senhora desmaiou, vomitou? — Não
Me levaram as pressas para a sala das emergências com um capacete que parecia me sufocar e rapidamente me ligaram a aparelhos
A dor no rosto era insuportável e meu pescoço parecia dilacerado.
Estava no hospital da faculdade, estudantes haviam por todos os lados. Alguém fala ao telefone:
— Doutor tenho uma paciente aqui de cinquenta e um anos, queda do próprio corpo, ela não desmaiou, nem vomitou, traumatismo na face.
Em instantes uma campainha toca:
— Opa!!! Imediatamente sou retirada dos aparelhos e empurrada para um estreito corredor entre duas camas e logo vem o motivo da agitação toda. Um acidentado.
Deixei de ser o foco das atenções agora e não era mais a estrela principal dos holofotes.
— Como é seu nome? Fale comigo, o seu nome?
— Bombeiro disse que este foi encontrado atropelado...
— O senhor tem quantos anos? Rápido alguém rasgue suas calças aqui...

E eu fiquei ali, abandonada a minha própria dor. Tinha vontade de gritar, que pelo menos me medicasse. Minhas lágrimas corriam aos borbotões. Meus deuses!! Tudo doía.
Eu havia escorregado numa rampa íngreme, sem ter onde me segurar e com as mãos ocupadas, bati com a cabeça no chão e rolei dando de rosto no chão de cimento.
Por quase duas horas eu esperei pela medicação, tirei raio-X constatando que não tinha osso quebrado. Só queria ir embora pra casa agora.
O especialista em neurologia entra e se digna a me olhar, dizendo solenemente:
-A senhora vai dormir aqui esta noite para observação. Amanhã se não houver alteração no seu quadro, será liberada.
Minha dor tinha aliviado bastante, e não estava mais chorando.
Encostaram minha maca num corredor onde recebi logo, tive sorte, um colchão e um lençol.
Filhos e um pai apavorado foram para casa, prometendo voltar mais tarde trazendo coisas de primeira necessidade, escovas de dente, camiseta, lanche... Pedi que trouxessem um livro, pois com certeza não iria dormir nada naquele lugar, me ri muito mais tarde deste detalhe, como eu ia conseguir ler com aquela dor me atormentando, alguém imaginava!
A noite foi um caleidoscópio entre sonho e realidade. Nestas horas a dor, além de triste é muito solitária.
Por vezes eu me acalmava e me refugiava em lembranças boas, isso me aquecia e cochilava. Por vezes acordava sobressaltada com as emergências esbarrando em minha cama de rodinhas... Bombeiros correndo atrás de macas.
— Ocorreu um óbito agora.
— Ai!!! Me ajude a levantar... Olhei pra trás, era um senhorzinho que estava com sonda.
Todos pareciam ocupados demais para prestar atenção nele.
Um segurança que havia caído de uma escada rolante e não queria fazer tomografia.
Pela manhã, antes das seis horas, meu marido já estava do meu lado. Chegara uma moça que gritava de dor... Queria ajudar, sério! Sabia que não podia, mas, queria. Ela parecia muito jovem e gritava pela mãe.
O senhor velhinho ainda queria sentar na maca e apesar dos protestos que não podia, ele deu um jeito e caiu, se estabacando no chão.
Me senti estranha, quando a enfermeira veio e lhe passou uma reprimenda, um velhote que tinha sede, tinha vontade de sentar e não podia. Disse que tinha que ir embora por que tinha uma consulta marcada em outro hospital. Achei ridícula a explicação, ele queria sair de um hospital, para se aboletar em outro!
Só fui liberada depois das treze horas. Quando cheguei a casa queria ir dormir somente, se o rosto doloridamente inchado deixasse claro.
Minha prima me falando pelo facebook de noite, lembrou-me de uma brincadeira da infância:
— Velho quando não morre de tombo, morre de caganeira. Risos..
— Pare de me fazer rir caramba! Dói tudo. Mais risos...
Tenho a impressão que se não somos especiais para ninguém, estamos lixados, pois na hora da morte vamos sozinhos e ninguém pode fazer nada para mudar isso.
...

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Hábitos e Moral...Cronica de Maria De Fatima Rodrigues


Hábitos e Moral

Das poucas coisas que nos distingue dos animais, aquelas que mais nos espantam e diferenciam, são a capacidade de raciocínio e a possibilidade de podermos escolher e decidir. Esse direito temo-lo desde que nascemos, sobretudo se vemos pela primeira vez a luz do sol num país livre e democrático, vai-se esbatendo, vai-se perdendo ao longo dos anos pela força da vida e das suas vicissitudes.
A vida vai-nos moldando, vai-nos modificando as escolhas e vai tentando conduzir-nos, muitas vezes, para onde não queremos ir. Verdades absolutas e insofismáveis levam-nos, em muitas ocasiões, a deixarmos de parte este poder de pensar e de sentir, passando a nossa preocupação a ser, única e exclusivamente, a nossa sobrevivência e a daqueles que nos estão mais próximos. Saltamos a fronteira, o comportamento deixa de ser pensado e exercido em termos de lógica humana, baseado em sentimentos, em normas e em critérios, para passar a ter uma objetividade instintiva, reagindo com base em necessidades e em interesses próprios. Ao pensarmos desta forma, equacionando o problema desa maneira, apercebemo-nos, então, do porquê de determinadas atitudes, de certos procedimentos. Percebemos, então que as pessoas sentem o que sentem, mas são levadas a agir em sentido completamente diverso. Verificamos que o ser humano se transformou, por forma a que pudesse garantir a sua sobrevivência e a dos seus, custe o que custar, doa a quem doer.
Esta capacidade, humana, apesar de tudo, de alterar o nível e a base do pensamento humano, torna-se mais notória, quando se ocupa um cargo público, quando o emprego se deve a um qualquer favor, quando a vida depende de terceiros.
Só assim se pode compreender o total alheamento de uma sociedade para com os seus próprios problemas, só assim se entende o porquê das pessoas se calarem quando lhes apeteceria flar, só assim se percebe até que ponto estão as pessoas dispostas a perderem a sua liberdade em troca da sobrevivência.
Será que a liberdade não é um preço demasiado elevado para que se possa pagar sem pensar?
Não será porventura, evidente que, com uma sociedade silenciada e amordaçada, sem capacidade de iniciativa, sem intervenção directa naquilo q lhes diz respeito, estaremos a construir um futuro (para nós, para os nossos e para os outros) amorfo e tristonho, demasiadamente simplificado e comodista?
Será que, ao acordar, não ficaremos surpreendidos por tudo aquilo que permitimos que fizessem sem que nos prenunciássemos?
Parece, pois claro e indesmentível que, a continuarmos na senda da sobrevivência nua e dura, adormecidos por um qualquer calmante de fortr poder sedativo, teremos a triste e (in)esperada surpresa de, ao acordarmos, verificarmos que a liberdade se perdeu e que o preço, pago por ela, foi demasiado elevado.
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domingo, 1 de janeiro de 2012

Nasce 2012...Por Hilda Milk

Agora é oficialmente 2012 no mundo todo

 Uma das frases que mais gostei de ouvir ontem.
_Paz agente não deseja, paz agente constrói.
Então...
O que se quer é saúde para construirmos nossa paz.
Vontade de fazer o melhor, esperar que as sementes todas brotem e cresçam, com doses de sol e água, fortes e que estas produzam bastante frutos,para que na colheita,não falte para ninguém.
Um ano novinho em folha.
Desejo é que a humanidade toda, tenha uma renovação de tudo que é bom,
para todos aqueles que realmente o queiram.
Tenho esperanças para dar e vender, se alguém se interessar!
Acredito na compreensão mútua de alguns poucos e que esta, seja altamente contagiosa
E rezo para um Deus que criou todas as coisas,não na igreja, pois nesta não cabem todos, mas em céu aberto.Venho pedir sempre, de mãos postas e humildemente, porque tenho noção de minha insignificância.
Quero encontrar o caminho da igualdade,só lá encontro meus iguais, dividir o meu pão.
Pão este que falta em tantas mesas.
Dividir o afeto, por que do contrário que se pensa, ao repartirmos este só se multiplica.
Sozinha não sou ninguém.
Sou orfã e sem teto,choro e passo fome.
Sozinha ninguém se importa,
Sozinha sou invisível,sozinha não tenho nome.
Ter alguém é importante na nossa existencia, não fosse isso, provavelmente não saberíamos o que é o amor.
e nem o senso de amizade ou a solidariedade de irmão, ou afeto incondicional de pais.
Em quase todas as filosofias existentes encontramos uma frase comum.
_Somos feitos a sua imagem e semelhança e somos seus filhos.
Então agente(JUNTO) Pode!
...Mãos a obra meu amigos, vamos construir nossa paz, aproximar as igualdades e diminuir as diferenças no mundo.
Bom Ano a todos.